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Dramaturgo nigeriano Wole Soyinka, ganhador do Nobel, alerta para o avanço do Boko Haram
Aos 80 anos, autor recebeu O GLOBO em Abeokuta, sua cidade-natal, e falou sobre uma vida de lutas políticas
Por Guilherme Freitas
ABEOKUTA E LAGOS (NIGÉRIA) – No espaço de poucos dias em novembro passado, o dramaturgo Wole Soyinka, de 80 anos, foi homenageado em três cidades nigerianas. Primeiro africano a receber o Nobel de Literatura, em 1986, admirado em todo o continente por sua obra e pelas intervenções políticas, ele aproveitou cada ocasião para se manifestar sobre o estado da nação. Denunciou o avanço do extremismo islâmico no país, criticou a corrupção nas instituições, alertou para a importância da eleição presidencial marcada para 14 de fevereiro. Apenas uma semana normal na vida do autor que, num de seus livros de memórias, escreveu: “A sabedoria iorubá diz: ‘Quando alguém se torna um ancião, deixa de entrar em batalhas’. Quem dera! Quando esse provérbio foi inventado, ainda não existia uma certa entidade chamada Nigéria”.
Numa tarde daquela semana, em raro momento de folga, Soyinka recebeu o GLOBO em Abeokuta, sua cidade natal, onde voltou a viver na década passada depois de um exílio forçado pelas condições políticas do país. Localizada no estado de Ogum, às margens do Rio Ogum, Abeokuta fica na região que é o berço da cultura iorubá. A 90 quilômetros da megalópole Lagos, é uma cidade tranquila, com cerca de 600 mil habitantes, que cresceu desde o início do século XIX ao redor da Olumo Rock, formação rochosa considerada sagrada. O idioma iorubá é falado nas ruas e divide espaço com o inglês nos cartazes e placas de trânsito, mostrando que ali se preservam as tradições.
No salão do centro cultural onde, no dia seguinte, seria o convidado de honra do Aké Festival, evento literário batizado com o título de um de seus livros, Soyinka diz que a visão de mundo iorubá, com seus mitos e rituais, foi uma influência decisiva para sua obra e sua personalidade. Ele já descreveu Ogum, o orixá guerreiro, como sua “divindade companheira”.
— Ogum é para mim um símbolo da multiplicidade da natureza humana. Ele me ajuda a entender que no mesmo indivíduo podem conviver um pacifista e um guerreiro. Posso adorar a tranquilidade, mas ao mesmo tempo ser energizado pelas lutas do mundo — diz.
A luta atual de Soyinka é contra o Boko Haram, o grupo extremista islâmico que se opõe à educação ocidental e à secularização no Norte da Nigéria, região de maioria muçulmana. Ativo há mais de uma década, o Boko Haram chamou atenção do mundo em abril de 2014, quando sequestrou 276 meninas na cidade de Chibok. Desde então, intensificou suas ações, expandiu seu território e sequestrou, desalojou e matou milhares de pessoas.
Soyinka diz que o Boko Haram é a antítese da cultura iorubá, marcada pelo sincretismo. Baseado no Oeste da Nigéria, com cerca de 35 milhões dos 170 milhões de habitantes do país, o povo iorubá tem uma maioria de cristãos, mas inclui também muçulmanos e praticantes dos ritos tradicionais. A radicalização no Norte do país coloca em xeque esse ideal de tolerância, alerta o dramaturgo, que já foi ameaçado de morte pelos extremistas.
— A Nigéria está desmoronando, em termos religiosos. Tudo que o Boko Haram prega vai contra a visão de mundo iorubá. Nós defendemos a igualdade de gêneros, por exemplo, enquanto para eles as mulheres são menos do que seres humanos — diz o dramaturgo, sublinhando que os radicais não representam os muçulmanos do país. — O Boko Haram é um bando de homicidas com uma visão distorcida do Islã que quer assumir o controle de comunidades, do Estado e, quem sabe, do mundo. São lunáticos assassinos.
O nigeriano Wole Soyinka participa de evento com estudantes no Lagos Book & Arts Festival, na Nigéria, em novembro – Marcéli Torquato
Com seu cabelo afro grisalho e voz retumbante, Soyinka é uma presença tão familiar na vida pública nigeriana que muitos de seus compatriotas o chamam apenas de “Prof”. Nos últimos meses, ele tem dedicado seus frequentes discursos, artigos e entrevistas a apontar o fracasso do presidente Goodluck Jonathan no combate ao Boko Haram. Cita como exemplo disso o fato de que, diante da falta de apoio, moradores do Norte do país estão formando milícias para se defender dos terroristas. Suas armas são facões, rifles de madeira feitos em casa, arcos e flechas.
— A questão não é o que o governo deve fazer para conter o terrorismo, é o que já devia ter feito. E não só a Nigéria. Toda a África negra e os autênticos muçulmanos precisam se levantar contra o extremismo — diz Soyinka, que também reprova a tolerância de Jonathan com grupos separatistas do delta do Rio Niger, base da indústria petrolífera nigeriana e terra natal do presidente. — No Norte, insurgentes islâmicos. No Sul, insurgentes do petróleo. De qualquer lado pode vir um rompimento.
Embora ataque Jonathan, candidato à reeleição, Soyinka também não vê com bons olhos o principal adversário dele na eleição de fevereiro, o militar reformado Muhammadu Buhari, que governou o país entre 1983 e 1985, depois de um golpe de Estado. Num artigo de 2007, acusou Buhari de ter promovido execuções enquanto estava no poder e disse que o ex-general “escravizou a nação”.
— Não apoio ninguém. Estou avaliando todos os candidatos para tentar entender o que pode ser melhor para o povo nigeriano — diz, com um sorriso irônico que entrega seu desalento com os rumos do país.
Nascido em 1934, Soyinka teve com a mãe, Grace, as primeiras lições sobre a política nigeriana. Nos anos 1940, ela e a irmã, Funmilayo Ransome-Kuti (mãe do músico Fela Kuti, primo de Soyinka), lideraram uma revolta das mulheres de Abeokuta contra o administrador local. Com o pai, um professor universitário, aprendeu a amar os livros, fossem de mitologia iorubá ou de Charles Dickens.
Nos anos 1950, passou uma temporada em Londres estudando teatro. Quando voltou, causou controvérsia logo com uma de suas primeiras peças. “Uma dança das florestas” foi encenada durante os festejos pela independência da Nigéria, que deixou de ser colônia britânica em outubro de 1960. No espetáculo, espíritos de ancestrais nobres são invocados à Terra, mas acabam se revelando tão corruptos e mesquinhos quanto os mortais. Quando todos esperavam uma obra celebrando as tradições e o futuro da nova nação, o jovem autor enviou um recado menos ufanista: cuidado para não repetir os erros do passado.
— Era óbvio no momento da independência que a Nigéria estava tentando conciliar muitas contradições e isso poderia trazer problemas. Há quem diga que isso já era óbvio desde a colonização, quando grupos muito diferentes foram reunidos de forma arbitrária em um país, sem levar em consideração a História, a economia e a cultura de cada um. Não seria fácil apagar essas contradições com a mera criação de um Estado. Detesto dizer “eu avisei”, mas é verdade. Eu avisei, avisei e avisei.
Soyinka em Ibadan, em 1969, dias depois de ser libertado da prisão – Keystone/Getty Images
Depois da independência, as contradições se acirraram. O Norte, de maioria muçulmana, e o Sul, de maioria cristã, disputavam o controle político da nação. A democracia nigeriana durou até 1966, quando foi interrompida por uma sequência de golpes liderados por militares ora do Norte, ora do Sul. Em 1967, oficiais da etnia ibo, do Sudeste, declararam a independência da região, batizando o novo país de Biafra. A reação do governo central deu início a uma guerra civil que durou quase três anos, deixou mais de 1 milhão de mortos (a maioria ibo) e terminou com a reintegração de Biafra à Nigéria.
Nos turbulentos anos 1960, Soyinka usou o teatro como instrumento de ação política. Criou personagens que entraram para a cultura popular nigeriana, como o Irmão Jehro, um líder religioso charlatão, e Kongi, um ditador maníaco. Fundou grupos que praticavam o que chama de “teatro de guerrilha”. A expressão ganhou novo sentido quando, por causa do assédio de militares e policiais, os atores precisaram treinar defesa pessoal.
— O teatro é direto. A conexão humana entre público e atores cria uma veracidade que outras formas de arte não transmitem. Digo que fazia “teatro de guerrilha” porque queria que as peças fossem uma intervenção no subconsciente político e social — lembra o dramaturgo, que nunca abriu mão do humor em sua obra. — Eu queria satirizar o poder no palco, para que o espectador pensasse: “Então é só isso que me assusta? Esse imbecil miserável?” É preciso ridicularizar a tirania.
Soyinka conciliava o teatro com formas mais diretas de ativismo. Em 1965, invadiu armado uma estação de rádio na cidade de Ibadan, onde era professor universitário, para impedir a divulgação dos resultados de uma eleição fraudulenta. Foi preso, mas liberado em seguida. Em 1967, durante a guerra civil, tentou articular negociações de paz com líderes de Biafra. Acusado de traição pelo governo, foi preso novamente, dessa vez por 27 meses.
Confinado numa cela de 3 metros quadrados, Soyinka continou a escrever. Como não lhe permitiam usar papel, preenchia as entrelinhas dos poucos livros que conseguiu contrabandear para a cadeia. Essas notas foram reunidas no volume de memórias “O homem morreu”, publicado em 1971. Nele, registra momentos de violência e solidão, mas também a convivência com outros condenados, sobretudo os prisioneiros de guerra ibo. E mantém a postura desafiadora: “[Minha identidade] nunca ficou tão clara quanto no momento em que vi as correntes em meus tornozelos: sou um ser para quem correntes não servem; sou, afinal, um ser humano”.
— Uma coisa que a prisão me ensinou foi a universalidade da experiência humana. Ela também reforçou minha desconfiança do poder.
Em liberdade, Soyinka viu suas peças, poemas e romances ganharem projeção mundial. Em 1986, foi o primeiro africano e o primeiro negro a receber o Nobel de Literatura desde sua criação, em 1901. Na cerimônia, dedicou o prêmio a Nelson Mandela, então preso na África do Sul, e condenou o racismo e o apartheid.
Enquanto isso, continuou envolvido com a política nigeriana. Quando um novo golpe militar anulou eleições democráticas, em 1993, foi obrigado a se exilar. Usou o prestígio internacional para liderar uma campanha contra a ditadura em seu país, para onde só voltou depois do fim do regime, em 1999. Nas viagens pelo mundo, sentia-se em casa ao encontrar traços da cultura iorubá em países como Cuba, Jamaica e Brasil.
Apesar de ter apenas um livro publicado no país, a peça “O leão e a joia” (Geração Editorial), Soyinka tem uma relação profunda com a cultura brasileira. Já pesquisou a sobrevivência das tradições iorubá no Brasil e escreveu sobre como os escravos retornados influenciaram a culinária, a música e a arquitetura na Nigéria, onde até hoje é comum encontrar sobrenomes como Silva ou Pacheco. O dramaturgo diz que essa relação histórica provoca um “conflito interno” no país.
— Sempre que vou ao Brasil tenho a impressão de que uma parte do país pensa: “Não temos nada a ver com a herança africana”. Já em outras partes as pessoas são mais iorubás do que muitos iorubás da Nigéria, cultivam simbolismos e rituais, porque reconhecem que é uma visão de mundo autêntica. É como se o Brasil, em termos culturais, estivesse em guerra consigo mesmo.
Dias antes da homenagem em Abeokuta, Soyinka foi o convidado de honra do Lagos Book & Arts Festival, realizado no Freedom Park, no centro da megalópole. Em meio a debates de críticos e escritores sobre sua carreira, participou de apenas um evento: um encontro com estudantes. Por uma hora, falou a crianças e adolescentes sobre o prazer da leitura, citou a mitologia iorubá e traduziu em termos simples a ameaça representada pelo Boko Haram (“Imaginem se um bando de lunáticos entra aqui e leva vocês”). Assim mantém renovadas as energias para a luta.
— Já enfrentamos outras ameaças antes e vamos sobreviver.
Fonte: O Globo
Por que as mentes mais brilhantes precisam de solidão
Por SILVIA DÍEZ
Segundo o professor Robert Lang, da Universidade de Nevada (Las Vegas), especialista em dinâmicas sociais, muitos de nós acabarão vivendo sozinhos em algum momento, porque a cada dia nos casamos mais tarde, a taxa de divórcio aumenta, e as pessoas vivem mais. A prosperidade também incentiva esse estilo de vida, escolhido na maioria dos casos voluntariamente, pelo luxo que representa. A jornalista Maruja Torres, em sua autobiografia, Mujer en Guerra (da editora Planeta España, não publicada em português), já se vangloriava do prazer que lhe dava cair na cama e dormir sozinha, com pernas e braços em X. A isso se soma a comodidade de dispor do sofá, poder trocar de canal sem ter que negociar, improvisar planos sem avisar nem dar explicações, andar pela casa de qualquer jeito, comer a qualquer hora…
Como se fosse pouco, o sociólogo Eric Klinenberg, da Universidade de Nova York, autor do estudo GOING SOLO: The Extraordinary Rise and Surprising Appeal of Living Alone (ficando só: o extraordinário aumento e surpreendente apelo de viver sozinho, em tradução livre), está convencido de que viver só significa, também, desfrutar de relações com mais qualidade, já que a maioria dos solteiros vê claramente que a solidão é muito melhor que se sentir mal-acompanhado. Há até estudos que asseguram que a solidão facilita o desenvolvimento da empatia. Outra socióloga, Erin Cornwell, da Universidade Cornell, em Ítaca (Nova York), concluiu, depois de diversas análises, que pessoas com mais de 35 anos que moram sozinhas têm maior probabilidade de sair com amigos que as que vivem como casais. O mesmo acontece com as pessoas adultas que, embora vivendo sozinhas, têm uma rede social de amizades tão grande ou maior que a das pessoas da mesma idade que vivem acompanhadas. É a conclusão do estudo feito pelo sociólogo Benjamin Cornwell publicado na American Sociological Review.
A base da criatividade e da inovação
As pessoas são seres sociais, mas depois de passar o dia rodeadas de gente, de reunião em reunião, atentas às redes sociais e ao celular, hiperativas e hiperconectadas, a solidão oferece um espaço de repouso capaz de curar. Uma das conclusões mais surpreendentes é que a solidão é fundamental para a criatividade, a inovação e a boa liderança. Estudo realizado em 1994 por Mihaly Csikszentmihalyi (o grande psicólogo da felicidade) comprovou que os adolescentes que não aguentam a solidão são incapazes de desenvolver seu talento criativo.
Susan Cain, autora do livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking (silêncio: o poder dos introvertidos num mundo que não consegue parar de falar), cuja conferência na plataforma de ideias TED Talks é uma das favoritas de Bill Gates, defende ao extremo a riqueza criativa que surge da solidão e pede, pelo bem de todos, que se pratique a introversão. “Sempre me disseram que eu deveria ser mais aberta, embora eu sentisse que ser introvertida não era algo ruim. Durante anos fui a bares lotados, muitos introvertidos fazem isso, o que representa uma perda de criatividade e de liderança que nossa sociedade não pode se permitir. Temos a crença de que toda criatividade e produtividade vem de um lugar particularmente sociável. Só que a solidão é o ingrediente essencial da criatividade. Darwin fazia longas caminhadas pelo bosque e recusava enfaticamente convites para festas. Steve Wozniak inventou o primeiro computador Apple sentado sozinho em um cubículo na Hewlett Packard, onde então trabalhava. Solidão é importante. Para algumas pessoas, inclusive, é o ar que respiram.”
Cain lembra que quando estão rodeadas de gente, as pessoas se limitam a seguir as crenças dos outros, para não romper a dinâmica do grupo. A solidão, por sua vez, significa se abrir ao pensamento próprio e original. Reclama que as sociedades ocidentais privilegiam a pessoa ativa à contemplativa. E pede: “Parem a loucura do trabalho constante em equipe. Vão ao deserto para ter suas próprias revelações”.
A conquista da liberdade
“Só quando estou sozinha me sinto totalmente livre. Reencontro-me comigo mesma e isso é agradável e reparador. É certo que, por inércia, quanto menos só se está, mais difícil é ficá-lo. Mesmo assim, em uma sociedade que obriga a ser enormemente dependente do que é externo, os espaços de solidão representam a única possibilidade se fazer contato novamente consigo. É um movimento de contração necessário para recuperar o equilíbrio”, diz Mireia Darder, autora do livro Nascidas para o Prazer (Ed. Rigden, não publicado em português).
Também o grande filósofo do momento, Byung-Chul Han, autor de A Sociedade do Cansaço (Ed. Relogio D’Agua, de Portugal), defende a necessidade de recuperar nossa capacidade contemplativa para compensar nossa hiperatividade destrutiva. Segundo esse autor, somente tolerando o tédio e o vácuo seremos capazes de desenvolver algo novo e de nos desintoxicarmos de um mundo cheio de estímulos e de sobrecarga informativa. Byung-Chul Han preza as palavras de Catão: “Esquecemos que ninguém está mais ativo do que quando não faz nada, nunca está menos sozinho do que quando está consigo mesmo”.
Autoconsciência e análise interior
“Para mim a solidão representa a oportunidade de revisar nosso gerenciamento, de projetar o futuro e avaliar a qualidade dos vínculos que construímos. É um espaço para executar uma auditoria existencial e perguntar o que é essencial para nós, além das exigências do ambiente social”, diz o filósofo Francesc Torralba, autor de A Arte de Ficar Só (Ed. Milenio) e diretor da cátedra Ethos da Universidade Ramon Llull. Na solidão deixamos esse espaço em branco para ouvir sem interferências o que sentimos e precisamos. “A solidão nos dá medo porque com ela caem todas as máscaras. Vivemos sempre mantendo as aparências, em busca de reconhecimento, mas raramente tiramos tempo para olhar para dentro”, diz Torralba.
Na verdade, a solidão desperta o medo porque costuma ser associada ao vazio e à tristeza, especialmente quando é postergada longamente por uma atividade frenética e anestesiante. Para Mireia Darder, é bom enfrentar esse momento tendo em mente que a tristeza resulta simplesmente do fato de se soltar depois de tanta tensão e de ter feito um esforço enorme para aparentar força e suportar a pressão frente aos que nos cercam. “Não se pode esquecer que para ser realmente independente é preciso aprender a passar pela solidão. O amor não é o contrário da solidão, e sim a solidão compartilhada”, diz Darder.
Em nossa sociedade, a inatividade —que surge com frequência da solidão— é temida e desperta a culpa. Fomos preparados para a ação e para fazer muitas coisas ao mesmo tempo, mas é quando estamos sozinhos que podemos refletir sobre o que fazemos e como o fazemos. O escritor Irvin Yalom, titular de Psiquiatria na Universidade de Stanford, confessava que desde que tinha consciência se sentia “assustado pelos espaços vazios” de seu eu interior. “E minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de outras pessoas. De fato detesto os que me privam da solidão e além disso não me fazem companhia.” Algo que, segundo Francesc Torralba, é muito frequente: “Embora estejamos cercados de gente e de formas de comunicação, há um alto grau de isolamento. Não existe sensação pior de solidão que aquela que se experimenta ao estar em casal ou com gente”.
Fonte: ElPaís