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 Arquivos Autores - Página 36 de 42 - Geração Editorial Geração Editorial



ADHEMAR
A fantástica história de um político populista desbocado, amado e odiado, inspirador do infame lema “rouba, mas faz”, que participou do golpe militar de 1964, foi posto de lado pelos generais e morreu exilado em Paris, depois de marcar sua época e história do Brasil.

DEUSES DO OLIMPO
Explore o universo mágico da Grécia Antiga e conheça as histórias dos personagens mais famosos da mitologia. Um livro para gente pequena e gente grande tambécm! ( + )

OS VENCEDORES
Quem ganhou, perdeu. Quem perdeu, ganhou. Cinquenta anos após o advento da ditadura de 1964, é assim que se resume a ópera daqueles anos de chumbo, sangue e lágrimas. Por ironia, os vitoriosos de ontem habitam os subúrbios da História, enquanto os derrotados de então são os vencedores de agora. ( + )

A VILA QUE DESCOBRIU O BRASIL
Um convite a conhecer mais de quatro séculos de história de Santana de Parnaíba, um município que tem muito mais a mostrar ao país. Dos personagens folclóricos, tapetes de Corpus Christi, das igrejas e mosteiros, da encenação ao ar livre da “Paixão de Cristo”. Permita que Ricardo Viveiros te conduza ao berço da nossa brasilidade. ( + )

O BRASIL PRIVATIZADO
Aloysio Biondi, um dos mais importantes jornalistas de economia que o país já teve, procurou e descobriu as muitas caixas-pretas das privatizações. E, para nosso espanto e horror, abriu uma a uma, escancarando o tamanho do esbulho que a nação sofreu. ( + )

CENTELHA
Em “Centelha”, continuação da série “Em busca de um novo mundo”, Seth vai precisar ter muita coragem não só para escapar da prisão, mas para investigar e descobrir quem é esse novo inimigo que deixa um rastro de sangue por onde passa. A saga nas estrelas continua, com muita ação de tirar o folego! ( + )

MALUCA POR VOCÊ
Famosa na cidade pelos excessos do passado, Lily terá de resistir ao charme de um policial saradão oito anos mais jovem que acaba de chegar na cidade. Prepare-se para mais um romance apimentado e divertidíssimo escrito por Rachel Gibson.. ( + )

NOS IDOS DE MARÇO
A ditadura militar na voz de 18 autores brasileiros em antologia organizada por Luiz Ruffato. Um retrato precioso daqueles dias, que ainda lançam seus raios sombrios sobre os dias atuais. ( + )





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abr 25, 2014
admin

Os limites da China on-line

Por Edward Wong
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Quando o romancista Murong Xuecun apareceu em uma cerimônia no ano passado para receber seu primeiro prêmio literário, ele segurava uma folha de papel com algumas das palavras mais incendiárias que já escrevera.

Era uma meditação sobre o mal estar causado pela censura. “A escrita chinesa exibe sintomas de um distúrbio mental”, pretendia dizer ele. “Este é um escrito castrado. Sou um eunuco proativo, me castro antes mesmo de o cirurgião erguer o bisturi.”

Os organizadores da cerimônia o proibiram de proferir o discurso. Sobre o palco, Murong fez um gesto de quem fecha a boca com zíper, e saiu sem dizer palavra.

Ele então fez com o discurso o que havia feito com três dos seus romances de sucesso, todos eles submetidos a uma rigorosa censura: colocou na internet o texto sem cortes. Os fãs foram atrás.

Revolução editorial
Murong Xuecun é o pseudônimo de Hao Qun, 37, um dos mais famosos numa safra de escritores chineses que se tornaram sensações editorais na última década graças ao uso astuto que fazem da internet.

Os livros de Murong são picantes, violentos e niilistas, com histórias de empresários e autoridades envolvendo-se em subornos, brigas, bebedeiras, jogos de azar e programas com prostitutas nas prósperas cidades chinesas.

O simples fato de seus livros serem publicados na China mostra como o setor, outrora muito controlado pelo Estado, está mais voltado para o mercado.

Mas a prosa de Murong inevitavelmente esbarra na censura. O autor se diz um “criminoso da palavra” aos olhos do Estado, e um “covarde” aos seus próprios olhos, por recorrer à autocensura. Ele contou que já abandonou pela metade dois romances que suspeitava que jamais seriam publicados.

“O pior efeito da censura é o impacto psicológico sobre os escritores”, disse Murong.

“Quando eu estava trabalhando no meu primeiro livro, não me importava se ele seria publicado, então escrevi o que quis. Agora, após ter publicado alguns livros, posso sentir claramente o impacto da censura quando escrevo. Por exemplo, penso em uma frase, e aí percebo que ela certamente será suprimida. Então nem a escrevo. Essa autocensura é o pior.”

Suas frustrações o levaram a se tornar um dos mais inflamados críticos da censura na China. Após fechar a boca em novembro de 2010 em Pequim, ele leu publicamente seu discurso proibido três meses depois, em Hong Kong.

Murong deve o seu sucesso comercial ao fato de ter encontrado formas de praticar a sua arte e de angariar leitores na internet, fora da indústria editorial, onde o patrulhamento é maior.

Ele aborda questões políticas em um blog e em um serviço semelhante ao Twitter. Conforme escreve os romances, vai colocando-os na internet, capítulo por capítulo, sob diferentes pseudônimos.

Quando o livro está concluído, ele assina contrato com uma editora. As edições impressas, censuradas, rendem dinheiro, mas as versões da internet são mais completas.

Em 2004, a estatal Rádio China Internacional qualificou o popular romance de estreia de Murong como “um formador de opinião cibernético”. Mas autoridades da cidade de Chengdu, onde a história se passa, denunciaram a obra. A versão sem censura foi traduzida para o inglês (Leave Me Alone: A Novel of Chengdu, que significa “deixem-me em paz: um romance de Chengdu”) e indicada em 2008 ao prestigioso Prêmio Literário Asiático Man.

A internet não oferece libertação total aos escritores chineses, já que há monitoramento. Mesmo assim, ela desencadeou uma revolução editorial, permitindo novas vozes. Os editores podem caçar talentos e comprar os direitos para edições impressas.

Palavras não ditas
O site Rongshuxia é particularmente influente, divulgando romances de Annie Baobei, Ning Caishen e Li Xunhuan (pseudônimo de Lu Jinbo, hoje um importante editor que apoia Murong).

“A internet criou todas -e digo todas- as tendências literárias que decolaram em 2005 e depois”, disse Jo Lusby, editora-gerente da Penguin China.

Murong já escreveu quatro romances e um livro-reportagem, baseados nos anos que passou vivendo em grandes cidades chinesas e trabalhando como consultor jurídico e em outros cargos.

Ele escrevia nas horas vagas e enviava os textos para revistas, mas era sempre rejeitado. Até que topou na internet com um fórum interno da empresa de cosméticos onde trabalhava. Ali amadores colocavam poemas e contos.

“Vi um romance intitulado ‘Minha Pequim’, que me inspirou”, disse. “Pensei: ‘Também posso escrever esse tipo de coisa’.”

Depois que Murong assinou contrato para publicar o romance de Chengdu, foi obrigado a cortar 10 mil palavras. Mas, depois que o livro saiu, ele colocou o original não censurado na web. “A sensação foi libertadora”, afirmou.

Alguns autores são céticos quanto ao efeito dos livros não censurados na internet. Chan Koonchung, autor de Os Anos Gordos, romance distópico publicado em Hong Kong e Taiwan, mas vetado na China continental, disse acreditar que apenas um pequeno número de pessoas na China comunista leria o livro na rede, já que ele não pode ser citado na imprensa ou em outros fóruns.

Murong começou a se amordaçar no segundo livro. “Eu já sabia onde estavam os limites”, disse.

Ele originalmente planejou que os protagonistas tivessem vivido os protestos de 1989 na praça Tiananmen. Mas disse que não se atreveu a ultrapassar essa “intocável linha vermelha”. A versão completa da história está online.

“Agora que estou ciente das minhas tendências à autocensura, tento compensar isso na hora de escrever”, disse Murong. “Posso escrever uma versão, e publicar uma versão ‘mais limpa’.”

Sua amizade com os editores o leva a se curvar à censura. “Não quero colocar meus amigos em apuros”, afirmou. “Se eles dizem algo é arriscado, ou que eles podem perder o emprego por causa disso, eu os deixo suprimirem o que quiserem.”

A luta mais dolorosa de Murong contra a censura ocorreu quando ele trabalhava com um editor na preparação do seu livro mais recente, China: Na Ausência de Um Remédio, que documenta os 23 dias que ele passou investigando clandestinamente um esquema de pirâmide. O livro saiu no ano passado, e foi aclamado. A revista Literatura Popular, fundada por Mao Tse-tung, o premiou.

Mas sua edição envolveu inacabáveis negociações. Até termos como “chineses” tiveram de ser trocados por “algumas pessoas”. Murong gritou com o editor e socou uma parede da sua casa. “Em 2008, a censura foi dolorosa, e pude suportá-la. Mas, em 2010, eu não aguentava mais.”

Zhang Jingtao, o editor, disse que queria “tornar o livro mais adequado à nossa sociedade e aos nossos tempos”. “Meu trabalho é ser o controle de qualidade ideológico”, afirmou.

Em novembro do ano passado, na véspera da cerimônia de premiação da Literatura Popular, Murong passou oito horas preparando o seu discurso.

Ele escreveu: “A única verdade é que não podemos falar a verdade. O único ponto de vista aceitável é que não podemos expressar um ponto de vista”.

O discurso tinha 4.000 palavras. Mas nem uma só foi pronunciada naquela noite.  [Mia Le contribuiu com pesquisa]

***
Reproduzido da Folha de S.Paulo / The New York Times, 14/11/2011
[Edward Wong escreveu de Pequim para o New York Times]

mar 29, 2014
admin

A dona da casa, por Ana Ferreira

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Dali ela não sairia. A tal peça deixada pelo ex‑proprietário da casa. Jaqueline esperava uma mesa colonial ou um quadro renascentista, um tapete persa voador, um espelho mágico, esperava tudo, menos aquilo. Aquela. Ela não é linda?, indagaria Gustavo ao entrar na sala com os homens da mudança que concordaram prontamente. Linda. Uma onda morna de ciúme insólito baqueou Jaqueline ao pensar que seu marido estivera sozinho na casa, orientando pintor, eletricista, encanador, estivera sozinho com ela, a peça deixada pelo ex‑proprietário, a peça pesada, a peça pregada, alta, alva, nua, olhos sem pupilas. Sobre ela Gustavo nada sabia. Não era uma obra assinada. Mármore barato, foi o breve parecer de Jaqueline.

Os sete homens da “Confiança Mudanças” eram rápidos e Jaqueline indicava com precisão onde colocar cada móvel ou caixa; o sofá foi a última peça descarregada e, oportunamente, ocorreu‑lhe transferir a estátua para o jardim, entre as roseiras.

Gustavo franziu a testa, mas não se opôs. A dona da casa mostrou o canteiro e os homens não demonstraram desânimo. Assim, amparada por seis mãos brutas, a estátua foi lentamente deitada e Jaqueline notou que os carregadores gostavam do serviço, bem viu quando o mais jovem alisou os seios duros, iniciando a orgia fria e silenciosa. O carregador de bigode logo entendeu a brincadeira e deslizou a mão na bunda redonda em movimentos circulares, enquanto o homem negro, ventre abaixo, acariciava o sexo sem pelos, como se ali houvesse um clitóris, o que acabou por excitar o colega mais jovem. Então, entre bolinações e risos presos, a estátua atravessou a sala, carregada pelos três homens fortes, passo a passo, toque a toque, no entanto, apesar do cuidado, já quase na saída o braço da estátua bateu no batente e um longo urro de dor reverberou na grande sala. Era o carregador mais jovem com o pênis ereto e o pé esmagado pela estátua que suas mãos suadas perderam no impacto. Jaqueline fechou os olhos e o rapaz ferido saiu carregado por dois colegas, que o acomodaram na carroceria do caminhão, enquanto os outros recolhiam ferramentas e cobertores. Ao ver a estátua caída e sem o braço direito, o chefe deles pediu desculpas pelo “estrago na peça”, que então foi levantada mas não levada ao jardim, conforme desejava a dona da casa. Gustavo os acompanhou até o portão e Jaqueline chorou pelo pé do rapaz e pelo braço da estátua, que não quis sair dali. E lá ficou ela, nua e bela, bem na entrada da sala, decidida a fazer parte da história da família. Para as crianças, foi fantasma, fada, feiticeira, rainha, e, secretamente, a primeira namorada do Betinho, que não perdia uma oportunidade de ficar em casa sozinho só para beijar e acariciar aquele corpo gelado, falando doces obscenidades. A caçula também gostava de deslizar as mãozinhas no mármore frio e sonhava um dia ter um corpo igualzinho ao dela, só que com os dois braços, claro. Até mesmo Jaqueline a beijou algumas vezes. Gustavo nunca, um homem tão sério não beijaria uma pedra. Apesar de inerte e calada, a estátua participava ativamente de festas e reuniões; além de receber os convidados, era frequentemente incluída em piadas, jogos e brincadeiras. Num aniversário de Jaqueline, ela foi elegantemente vestida e maquilada pelo estilista Fabrício Barros, que a adornou até com cílios postiços. Noutra festa, ao contrário, ela foi despida peça a peça.

Vinte anos voaram e, numa terça‑feira à toa, a voz nasalada ao interfone avisa que Sr. José Paulo está no portão. Ao apresentar‑se como “aquele rapaz da Confiança Mudanças”, Jaqueline imediatamente deduz que o senhor seria o jovem acidentado que quebrara o braço da estátua. Por que resolveu aparecer? Estremece ao ver o homem grisalho, robusto, bem vestido, e sem o pé esquerdo. O mutilado estende‑lhe a mão e sorri. Jaqueline retribui o sorriso, o aperto de mão, e enfrenta os olhos negros do homem que, para seu alívio, apoia‑se na muleta e vai diretamente ao assunto: “Se não for inconveniente, a senhora me desculpe, é que eu preciso ver ela de novo.” Jaqueline entende exatamente o que ele quer dizer  com aquela frase mal construída e o conduz à sala, onde ela o aguarda paciente e eterna como toda pedra. A sala é praticamente a mesma, acrescida de alguns novos objetos, dois ou três quadros, os candelabros, e nada disso faz a menor diferença, ela está ali e é só o que o homem enxerga, boquiaberto. O silêncio obtuso incomoda e Jaqueline entende que deve deixá‑los a sós. Eles precisam se entender. “Fica à vontade, só vou dar uma olhada nas panelas, se quiser beber alguma coisa, pode se servir.”

Ao entrar na cozinha, Jaqueline pensa que o pobre perneta intenta tocar os seios dela, como fizera da outra vez. Abre a geladeira imaginando o beijo deles, entre outras carícias proteladas e, para desviar a imaginação do que estaria se passando entre as paredes mudas de sua sala, Jaqueline conta azulejos, rega as violetas, ferve um litro de leite, e espera ainda mais um pouco, espera o tempo necessário para um esperado reencontro, então retorna, pisando pesado e tossindo, a fim de ser ouvida pela visita. Encontra o caro amputado na mesma posição contemplativa em que fora deixado. “Mesmo sem o braço ela é muito bonita”, ele comenta com a voz grossa, um sorriso conformado e o zíper da calça entreaberto, qual os olhos da estátua. Satisfeito com o breve reencontro, Sr. João Paulo agradece. Ao despedir‑se, aperta a mão de Jaqueline e sai mancando, apoiado na muleta. Jaqueline tranca a porta, lava as mãos, e, sem entender o que sente, decide que não quer mais viver no mesmo espaço que a estátua. Com os filhos já casados não seria difícil convencer Gustavo a trocar a casa enorme por um apartamento aconchegante. E assim foi.

Venderam a casa para uma jovem família de Campinas. Bom negócio. Jaqueline não contratou a “Confiança Mudanças”, mas os carregadores da “Transportadora Atual” eram igualmente eficientes. O sofá foi a última peça a sair. Um dos carregadores perguntou se era para levar a estátua, ao que Jaqueline declinou, explicando que ela era a dona da casa. O caminhão partiu e Jaqueline foi fechar as janelas dos quartos, a porta dos fundos. Ao sair da sala, percebeu quando Gustavo tocou a estátua, despedindo‑se.

* Extraído do livro “50 versões de amor e prazer”

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