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Retrospectiva, por Flora Figueiredo
Hoje é aniversário da poetisa Flora Figueiredo, autora do livro Chão de Vento. Para a ocasião, selecionamos um de seus poemas. Confira:
RETROSPECTIVA
Porque a vida é feita de proibições,
eu não compus todas as canções,
não percebi a brisa suspirar,
eu esqueci cantigas de ninar,
dei chances demais à voz dos credos,
não rompi de vez todos os medos,
roubei do tempo um tanto de carinho,
não vi a flor amar o passarinho,
perdi o trem na curva da vertente
e não deixei o mel melar completamente.
Porque a vida é feita de proibições,
larguei o fio, soltaram-se os balões,
deixei que o pião revirasse sozinho,
mandei que o zangão se zangasse baixinho,
desprezei a bruma que baixou o véu,
permiti à palavra dormir no papel,
evitei o desvio que atravessa a estrada,
não quis o desafio da ronda embriagada,
não li o poema do poeta maldito
e não tive o dilema do beijo infinito.
Porque ainda há tempo para o encantamento,
quebre-se o vidro do sermão absoluto,
rompa-se a teia, reveja-se o estatuto,
que a primavera quer amar o chão de vento.
Menor livraria do mundo guarda 3 mil livros em 3,8 m²
Aos 32 anos, o lisboeta deixou seu trabalho como professor de Química para ganhar a vida com sua grande paixão: a literatura
“Procurava um espaço maior, mas este é o único lugar que encontrei que me permitia montar uma livraria, ainda que fosse pequena”, comentou o dono do espaço
Lisboa – Com mais de três mil livros em apenas 3,8 metros quadrados, a livraria das escadas de São Cristovão, situada na popular Baixa de Lisboa, é considerada a menor do mundo.
“Não sei se é menor local do mundo que vende livros, mas em termos de oferta, qualidade e tratamento do cliente posso dizer que isto é uma livraria e, neste aspecto, acho que é a menor”, explicou o proprietário da loja, Simão Carneiro, em entrevista à Agência Efe.
Há quase uma década, Carneiro, de 41 anos, vive rodeado de milhares de livros (que ele afirma conhecer todos os títulos) escritos em idiomas como português, italiano, espanhol e inglês, e até em línguas tão distantes como o mandarim e o japonês.
Antonio Machado, Haruki Murakami, António Lobo Antunes e Fernando Pessoa são alguns dos autores que formam o variado catálogo de romances, livros de poesia, de história e de arte, entre outros estilos, que vende em sua estreita livraria.
Aos 32 anos, o lisboeta deixou seu trabalho como professor de Química para ganhar a vida com sua grande paixão: a literatura.
Para isso, ele montou a loja no único lugar que encontrou disponível na região histórica de Lisboa.
“Procurava um espaço maior, mas este é o único lugar que encontrei que me permitia montar uma livraria, ainda que fosse pequena”, comentou.
As escadinhas de São Cristovão unem o centro da capital lusa ao turístico Castelo de São Jorge, que a partir do alto de sua colina oferece uma incrível vista da cidade. Diariamente, milhares de turistas sobem as escadas decoradas com grafites coloridos que dão acesso ao castelo, e esses se transformam em potenciais clientes da acolhedora loja de Simão Carneiro.
“Os espanhóis são bons clientes, mas não gostam de ler livros em português. Já os portugueses leem literatura escrita em espanhol”, detalhou o livreiro com um sorriso no rosto.
Enquanto isso, dois jovens entraram na loja para olhar uma das estantes.
“Venho muito porque têm livros antigos que não são encontrados em livrarias públicas e, além disso, o tratamento é muito mais acolhedor do que em grandes lojas”, afirmou Ana Biçoso, uma jovem portuguesa que passeia por Lisboa com um amigo espanhol.
“É um lugar muito receptivo e curioso”, disse Ángel, que visita a capital lusa pela primeira vez com sua amiga portuguesa.
Outros turistas chegam à loja por acaso durante um passeio pela nostálgica cidade. “É muito “cool” e tem muitos livros estilo “vintage””, completou o canadense Jenny.
Os livros com a imagem do poeta luso Fernando Pessoa na capa ocupam um lugar privilegiado nas estantes da livraria, já que é o autor mais pedido pelos estrangeiros.
“Pessoa não é um poeta português, é universal. Pertence ao sul, ao norte, ao leste e ao oeste. É único”, declarou Carneiro cheio de emoção.
Ávido leitor, ele afirma ter lido milhares de livros ao longo da vida, tantos que não lembra. Mas lamenta que já não mergulhe mais entre as páginas tanto quanto antes de ser livreiro porque tem menos tempo livre.
Trabalhando na livraria, passa o dia todo rodeado de literatura e isso faz com que quando chegue a casa tenha menos vontade de desfrutar de sua paixão. E conclui recorrendo a um velho ditado: “Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.
Fonte: Exame