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Uma sociedade possível
Para relatar a realidade sueca, surpreender os brasileiros e mostrar que uma outra sociedade é possível, o Sesc da Esquina recebeu, em outubro, a convite do Instituto dos Advogados do Paraná (IAP) e do Instituto de Medicina e Segurança do Trabalho do Estado do Paraná (IMTEP), a jornalista carioca, radicada na Suécia há 12 anos, Claudia Wallin.
Foi na convivência diária com os suecos que Claudia passou a se surpreender com a cultura política daquele país, resultando na elaboração do livro “Um país sem excelências e mordomias”. “Aos poucos eu fui descobrindo a história daquele país e a cultura política. Para uma brasileira como eu, pareciam cenas sobrenaturais.Percebi, então, que na Suécia, os políticos não são considerados cidadãos mais ilustres do que a média. São cidadãos comuns, a quem não se concedem regalias com o dinheiro dos impostos dos demais cidadãos”, revela a jornalista.
Realidades opostas
Claudia destaca que a sociedade sueca desenvolveu uma consciência clara de que os políticos são eleitos para servir e não para serem servidos. Enquanto no Brasil, política é sinônimo de privilégios, poder, prestígio e regalias, na Suécia não é aceito que políticos tenham direito a salários vitalícios, motoristas e secretárias particulares, nem tampouco aposentadorias após exercício da função pública, e excessos com viagens aéreas, com hospedagem e moradia.
A jornalista conta que “farras aéreas não costumam fazer parte do noticiário político na Suécia: deputados suecos nunca tiveram acesso a cotas de passagens de avião”.
Cultura da honestidade
Para a jornalista, a Suécia nem sempre foi assim, mas desenvolveu, ao longo do tempo, a cultura da honestidade e, acredita, que esta experiência mostra que para reduzir a corrupção é preciso uma grande mudança no sistema e, também, na maneira como a sociedade pensa e age. “Foi isso que os suecos fizeram. Além da reforma na educação, reorganização total da administração pública, eles criaram um novo código de conduta para os funcionários públicos. Outra providência, fundamental para a mudança que se produziu, foi aplicar uma ampla Lei de Transparência e também a Lei Anticorrupção”, pontua.
Claudia acredita ser errônea a afirmação de que a corrupção está no DNA do Brasil. “Conviver com esta fatalidade histórica condena o país a um beco sem saída. Eu prefiro discordar dessa noção que só interessa a quem quer manter tudo do jeito que está. A herança colonial teve efeitos perversos no processo de formação da sociedade brasileira, mas é preciso começar a romper este cordão umbilical”, conclui a jornalista.
Fonte: Impressões
Livro “Operação Banqueiro” é tema de palestra em Conferência Latino-americana de Jornalismo de Investigação
O livro “Operação Banqueiro” (Geração Editorial, 2014) foi escolhido pela comissão organizadora da COLPIN-2015 (Conferência Latino-Americano de Jornalismo de Investigação), o mais importante evento sobre jornalismo investigativo da América Latina para ser tema de palestra no evento que neste ano ocorrerá em Lima, no Peru, de 20 a 23 de novembro. O autor do livro, Rubens Valente, repórter da Folha de S. Paulo em Brasília, falará no dia 21/11 sobre o processo de produção da obra, que esteve cinco semanas em listas dos mais vendidos no Brasil no ano passado e já vendeu 25 mil exemplares.
O livro brasileiro será tema de debate ao lado de outros dois livros-reportagens produzidos na América Latina em 2014: “Born – 40 anos depois, todos os segredos do sequestro mais caro da história”, da argentina María O’Donnell, e “Metade monges, metade soldados – Pederastia, abusos e manipulação psicológica dentro do Sodalício da Vida Cristã”, do peruano Pedro Salinas.
A conferência é promovida pelo Ipys (Instituto Prensa y Sociedad) e pela Transparência Internacional e ocorre em paralelo à entrega do Prêmio Latino-Americano de Jornalismo de Investigação, concedido desde o ano 2000 pelo Ipys, entidade liderada pelo jornalista peruano Ricardo Uceda, autor de “Muerte en Pentagonito” (2005) e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot da Universidade Columbia. Uceda foi escolhido em 2000 pelo International Press Institute como um dos 50 “Heróis da liberdade de imprensa” no mundo.
Outros brasileiros participarão do evento neste ano no Peru. A procuradora da República do Paraná Laura Gonçalves Tessler falará sobre a Operação Lava Jato. Haverá palestras dos jornalistas Mauri Konig, que com equipe de “Gazeta do Povo” venceu neste ano o prêmio da Rede Mundial de Jornalismo Investigativo, Rodrigo Hidalgo (TV Bandeirantes), Andreza Matais (“O Estado de S. Paulo”), Guilherme Amado (coluna de Lauro Jardim), José Luis Costa (“Zero Hora”), Giuliana Girardi (“TV Globo”) e Vinicius Sassine (“O Globo”). Rubens Valente voltará a falar no dia 23 sobre o tema “A imprensa brasileira e o caso Lava Jato”.
O Pequeno Príncipe,”livro de miss”, e a história de um duplo preconceito
Reza a lenda que a fama de O Pequeno Príncipe como “livro favorito das candidatas a miss” começa no ano de 1966, após uma entrevista de Ronnie Von, então ídolo da juventude, ao programa de Hebe Camargo. Como é também aviador, o cantor, aos 22 anos, comentou com Hebe que admirava um escritor com quem tinha em comum o fascínio pelos aviões: o francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Imediatamente, a apresentadora soltou: “O Pequeno Príncipe!” E, voltando-se para a platéia: “Ele não é a cara do Pequeno Príncipe?”
O apelido pegou e, em outubro daquele ano, o cantor ganharia um programa na TV Record, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, onde interpretava um personagem inspirado no principezinho, e lançaria o primeiro LP, com a música Pequeno Príncipe como faixa-título. O sucesso de Ronnie e seus faiscantes olhos verdes teria, enfim, sido o maior responsável por tornar o livro de Saint-Exupéry popular entre as moçoilas de Norte a Sul do País.
Daí até virar “livro de cabeceira das misses” foi um pulo. Nas décadas de 1970 e 1980, jornalistas (certamente homens) começaram a reparar que, em todos os concursos de beleza, era batata: quando o apresentador perguntava sobre as preferências literárias, a bonitona, não importa que fosse de São Paulo, da Bahia ou do Amazonas, indefectivelmente citava a história do loirinho de cachecol perdido no deserto. A “explicação” sempre era a mesma, que as moças tinham se encantado com frases “melosas” como a célebre “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
72 anos após seu lançamento em Nova York, O Pequeno Príncipe continua a ser o segundo livro mais traduzido do mundo –só perde para a Bíblia. No Brasil, saiu pela primeira vez em 1959, em edição portuguesa, e desde então foi reeditado inúmeras vezes. A mais recente delas, pela Geração, no ano passado, com tradução de Frei Betto. Em certos círculos intelectuais brasileiros, porém, se tornou símbolo de literatura piegas e chegou a ser classificado como “auto-ajuda” –principalmente porque era “leitura de miss”. Uma piadinha de machos, um duplo preconceito: com o livro (um clássico) e, claro, com as misses.
O Pequeno Príncipe é uma história ao mesmo tempo autobiográfica e cheia de imaginação. Também possui metáforas poderosas. A conversa entre o menino e a serpente no deserto remete ao Novo Testamento. Experimente relê-lo: ao encontrar o aviador, o principezinho começa a rememorar a jornada em direção à Terra. Desde o seu planeta, onde cuida de uma rosa e evita o crescimento de baobás, até chegar ao nosso, ele passa por cinco outros lugares: o planeta do bêbado, o planeta do acendedor de lampiões, o planeta do geógrafo, o planeta do astrônomo e o do homem vaidoso.
Tudo que é possível pensar a partir destes arquétipos permanece atual. Toda vez que eu penso no reizinho, por exemplo, lembro dos marqueteiros e suas pesquisas qualitativas, sempre fazendo o político prometer exatamente o que o eleitor deseja –o reizinho, para manter intacta sua autoridade, só dava ordens que estavam prestes a ser cumpridas. O homem de negócios, ocupadíssimo em comprar e vender estrelas, é o legítimo representante do 1% que segue no topo do mundo. O Pequeno Príncipe não é nada piegas. É poético. E extremamente bem escrito.
Ganhou fama de “boboca” porque era lido por misses, mulheres bonitas, logo “burras”. Com menos de 20 anos de idade, em média, pelo menos naquela época, as misses possivelmente eram ingênuas. Mas apreciar O Pequeno Príncipedemonstra, ao contrário, que elas tiveram uma sensibilidade para se dar conta da grandeza da obra muito maior do que seus detratores –delas e do livro. Quem era o burro da história, afinal? As misses, que perceberam estar diante de uma obra-prima, ou aqueles que estamparam nele o pejorativo “livro de miss”?
Os críticos estrangeiros imediatamente respeitaram esta pequena grande obra de Saint-Exupéry. Foi justamente uma mulher, P.L.Travers (1899-1996), a autora deMary Poppins, outro clássico, uma das primeiras a reconhecer o valor literário do livro, em uma resenha que escreveu em 1943 para o New York Herald Tribune. “O brilho de O Pequeno Príncipe irá incidir lateralmente sobre as crianças. Ele as tocará em algum lugar que não é a mente e brilhará até que chegue o tempo em que elas o compreenderão”, escreveu. Pois é, as misses compreenderam.
Muitos literatos norte-americanos e franceses chamaram a atenção para o fato de, apesar das delicadas aquarelas feitas pelo próprio autor, o livro não ser realmente para crianças, porque, ora vejam só, “é complexo demais”. Houve quem enxergasse nele uma alegoria para a guerra que destroçava a Europa, um dos temas caros a Saint-Exupéry, ao lado da aviação. Ele escreveu a história quando estava exilado nos EUA. O amor incondicional do príncipe pela rosa seria inspirado na tortuosa relação entre o autor e sua esposa, Consuelo. Na edição alemã, de 1949, o filósofo Martin Heidegger (1889-1976) o avalizou como seu “livro favorito”. Alguns críticos encontraram paralelo entre O Pequeno Príncipe e o existencialismo, sobretudo O Estrangeiro, de Albert Camus (1913-1960).
Invenção masculina, o mito da beleza como sinônimo de falta de inteligência atinge diretamente a mulher –com o homem, o machismo costuma lançar suspeitas sobre a masculinidade do guapo, o que não é menos grave. Quem sabe a má fama de O Pequeno Príncipe no Brasil como “literatura menor” também não esteja relacionada ao preconceito, por ter sido catapultado por um homem bonito?
Com a mulher, no entanto, esta noção da “bonita e burra” é mais nocivo, porque questiona sua capacidade profissional e embute a ideia da mulher-objeto, sem pensamento ou personalidade e com inferioridade cognitiva. Concursos de beleza não ajudam muito a colocar em xeque estes estereótipos, é verdade, mas neste caso ficou patente que houve uma injustiça dupla. Julgar os outros pelas aparências não é bem um sinal de sagacidade. “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”, diria a loiríssima miss Santa Catarina, soltando um beijinho sobre o ombro.
Um efeito perverso desta implicância é que as misses –desastre!– já não leem mais O Pequeno Príncipe. Quando entrevistadas, preferem citar a Bíblia ou algum best-seller do momento. Ou seria esta outra lenda machista?
Fonte: Socialista Morena