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Daniela Arbex participa do projeto “O autor da praça”
Daniela Arbex, autora de “Holocausto brasileiro” participa de O AUTOR NA PRAÇA
O AUTOR NA PRAÇA completa 15 anos e convida a jornalista Daniela Arbex para tarde de autógrafos do livro “Holocausto brasileiro”, vencedor do Prêmio APCA de melhor livro-reportagem de 2013.
Será no próximo sábado, dia 17 de maio, às 15h no Espaço Plínio Marcos (Tenda na Feira de Artes da Praça Benedito Calixto, em Pinheiros – SP). Com a participação do cartunista Junior Lopes, realizando caricaturas e outros convidados.
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Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex tira das sombras o esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.
Quando chegavam ao hospício, suas cabeças eram raspadas, suas roupas arrancadas e seus nomes descartados pelos funcionários, que os rebatizavam. Daniela Arbex devolve nome, história e identidade aos pacientes, verdadeiros sobreviventes de um holocausto, como Maria de Jesus, internada porque se sentia triste, ou Antônio Gomes da Silva, sem diagnóstico, que, dos 34 anos de internação, ficou mudo durante 21 anos porque ninguém se lembrou de perguntar se ele falava. Os pacientes da Colônia às vezes comiam ratos, bebiam água do esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados. Nas noites geladas da Serra da Mantiqueira, eram deixados ao relento, nus ou cobertos apenas por trapos. Pelo menos 30 bebês foram roubados de suas mães. As pacientes conseguiam proteger sua gravidez passando fezes sobre a barriga para não serem tocadas. Mas, logo depois do parto, os bebês eram tirados de seus braços e doados. Alguns morriam de frio, fome e doença. Morriam também de choque. Às vezes os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia. Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para 17 faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida.
No início dos anos 60, depois de conhecer a Colônia, o fotógrafo Luiz Alfredo, da revista O Cruzeiro, desabafou com o chefe: “Aquilo é um assassinato em massa”. Em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro da luta pelo fim dos manicômios que também visitou a Colônia, declarou numa coletiva de imprensa: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como essa”.
Veja o Book trailer: http://www.youtube.com/watch?v=hZSwEuGj1xU.
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Daniela Arbex é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração. Repórter especial do jornal Tribuna de Minas há 18 anos, tem no currículo mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três prêmios Esso, o mais recente recebido em 2012 com a série “Holocausto brasileiro”, dois prêmios Vladimir Herzog (menção honrosa), o Knight International Journalism Award, entregue nos Estados Unidos (2010), e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina e Caribe (Transparência Internacional e Instituto Prensa y Sociedad), recebido por ela em 2009, quando foi a vencedora, e 2012 (menção honrosa). Em 2002, ela foi premiada na Europa com o Natali Prize (menção honrosa).
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Serviço:
Espaço Plínio Marcos – Tenda na Feira de Artes da Praça Benedito Calixto – Pinheiros
Dia 17 de maio, sábado, às 15h
Informações: Edson Lima – 3739 0208 / 95030 5577 – oanp@uol.com.br.
Realização: Edson Lima, AAPBC.
Apoio: Max Design, Enlace-Media, Restaurante Consulado Mineiro e O Cantinho Português
“Holocausto brasileiro” é agraciado pelo Prêmio “CARRANO” de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos
Daniela Arbex, autora do livro “Holocausto brasileiro”, conquista o Prêmio Carrano Luta Antimanicomial e Direitos Humanos.
A entrega do VI Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos será realizada no dia 14 de maio, quarta-feira, a partir das 19h, no auditório da Biblioteca Publica Alceu Amoroso Lima, em Pinheiros – SP. O evento integra a semana do Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05). Além dos homenageados que receberão o Prêmio, contaremos com a participação de artistas, músicos e convidados a apresentação fica por conta do palhaço e músico Clerouak. Mais informações abaixo.
Os convidados para receber o prêmio este ano de 2014 são:
- Adriano Diogo
- Antônio Lancetti
- Ariel de Castro Alves
- Centro Santo Dias de Direitos Humanos
- Claudia Valéria Ribeiro
- Daniela Arbex
- Instituto Vladimir Herzog
- José Ibrahim
- Marilia Caponi
- Operação “Braços Abertos”
Daniela Arbex – é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração. Repórter especial do jornal Tribuna de Minas há 18 anos, tem no currículo mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, por suas matérias sobre Direitos Humanos, entre eles três prêmios Esso, o mais recente recebido em 2012 com a série “Holocausto brasileiro”, dois prêmios Vladimir Herzog (menção honrosa), o Knight International Journalism Award, entregue nos Estados Unidos (2010), e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina e Caribe (Transparência Internacional e Instituto Prensa y Sociedad), recebido por ela em 2009, quando foi a vencedora, e 2012 (menção honrosa). Em 2002, ela foi premiada na Europa com o Natali Prize (menção honrosa). Daniela é autora do livro-reportagem “Holocausto brasileiro”, lançado em 2013. O livro revela uma das tragédias brasileiras mais silenciosas: a morte de 60 mil pessoas dentro do maior hospício do país, o Hospital Colônia de Barbacena (MG). Trecho da resenha da obra, escrita pelo geógrafo e educador Guilherme Fioravante: “Holocausto brasileiro dá voz a um grito que, no Brasil, só faz-se calar. Analisa o sistema manicomial como o fazem Estação “Carandiru” e “Carcereiros”, de Dráuzio Varela, em relação ao sistema prisional, e “Rota 66″, de Caco Barcellos, à violência policial. Unem-se a tantos outros títulos que desvelam episódios trágicos de nossa história, produtos de um estado de confusão e violência, cujos ruídos se abafam em meio ao volume de nossas ocupações cotidianas.”.
Saiba mais sobre o livro: http://geracaoeditorial.com.br/blog/holocausto-brasileiro.
D. Pedro II, o filho do Demonão
Mas a corte que Pedro II e suas irmãs, D. Francisca, D. Paula e D. Januária, herdavam era uma corte pobre, segundo testemunho de um de seus primos europeus que os visitaram: “A mais miserável do universo”. A política de austeridade quase franciscana implementada na corte na época das Regências a esvaziou. Essa austeridade também foi a grande marca da criação do futuro imperador. Seus tutores cuidariam para que sua educação fosse esmerada, que d. Pedro II, diferente do pai, fosse uma pessoa regrada, controlada e ilustrada.
Até 1834, quando D. Pedro I morreu tuberculoso em Portugal – na mesma sala do Palácio de Queluz em que nascera em 12 de outubro de 1798 -, várias alas da política brasileira tinham verdadeiro pavor de que o ex-imperador retornasse ao Brasil e assumisse a regência do filho. Logo, uma campanha de desmoralização pública teve início assim que o navio que o levava ao exílio deixou de ser visto no horizonte.
As críticas ao ex-monarca tornaram-se públicas, afinal, a constituição que protegia a figura do imperador não dizia nada a respeito de ex-imperantes. Assim, expressões sutis e satíricas que apareceram nos jornais ao longo do Primeiro Reinado, como “o nosso caro Imperador”, em que caro não era para ser lido como caríssimo ou querido, e sim como excessivamente dispendioso, foram trocadas na época das Regências para “assassino da esposa”, “amante dissoluto”, “devasso corrupto”, entre outras.
A nódoa moral de seu reinado, seu caso de sete anos com a Marquesa de Santos, foi relembrada às escâncaras nessas folhas, e logo a sua ex-amante, a paulista Domitila de Castro do Canto e Melo, foi elevada a símbolo máximo da corrupção e devassidão do Primeiro Reinado nos jornais da época, sobretudo no periódico Sete de Abril. Não foi por mero acaso que, em 1833, Domitila acabou se amancebando com o “reizinho de São Paulo”, o rico e influente político Tobias de Aguiar, primeiro paulista a ser presidente da Província de São Paulo e amigo íntimo, de infância, do regente do Império, o padre Diogo Antônio Feijó. Domitila sempre foi uma sobrevivente.
E, para que o Império e o futuro imperador D. Pedro II também pudessem sobreviver, a educação moral dele foi rígida. Desde o princípio ele sabia o quanto o romance escancarado de seu pai com a fogosa paulista jogara lenha na fogueira moral ateada pelos inimigos de D. Pedro I e, assim, a discrição amorosa do nosso segundo imperador se fez. Não que ele não tenha tido seus tórridos casos de amor. O mais famoso caso de D. Pedro II foi com a condessa de Barral, Maria Margarida de Barros Portugal, rica dona de engenho, casada com um nobre francês, que foi preceptora das princesas imperiais, Leopoldina e Isabel. Esse foi o mais longo e duradouro, cerca de 34 anos de ânsias e suspiros apaixonados, em que d. Pedro II lembrava com carinho das “noites atenienses” ou de quartinhos de hotéis em Petrópolis. Mas essa paixão era mais intelectual. Nada, ao menos da correspondência amorosa que sobreviveu entre ele e a condessa, lembra o fulgor do pai, que tratava com paixão a Marquesa de Santos ora com versinhos mal construídos, ora com palavras das mais vulgares, chegando a enviar pelos pubianos à amante e sentir saudades de “ir aos cofres” dela.
Existe na historiografia brasileira a lenda de que o historiador Tobias Monteiro teria encontrado cartas picantes envolvendo D. Pedro II que estavam depositadas na Biblioteca Nacional. Um arranjo na numeração e pronto, elas ficaram desaparecidas por muito tempo no arquivo, afinal, não pegava bem para a imagem do ex-imperador ter sua vida amorosa exposta de maneira indecorosa, como aconteceu com seu pai. Quem conhece um pouco sobre organização de bibliotecas e arquivos sabe muito bem que uma pasta, caixa ou livro posto em outro lugar que não o seu é uma atrocidade, pois se perde a localização da peça no acervo e as formas de se desarquivar a informação. Pois bem, vira e mexe esse acervo de cartas de D. Pedro II é “redescoberto”, recentemente foi até mesmo fichado novamente. Assim, o acervo mostra um imperador menos morno que suas sábias barbas brancas nos retratos fazem supor. Ele também teve seu lado “Demonão”, como o pai, que assinava assim as missivas à marquesa de Santos no auge da paixão.
Se as cartas da Barral para D. Pedro II são mornas, na maioria das vezes, o mesmo não aconteceu com o fogo que ele causou na baronesa da Boa Vista que suspira nas missivas lembrando que “cada uma de tuas expressões tão apaixonadas me fazem estremecer de amor” e declarações do tipo: “Eu te amo e sou tua de toda a minha alma. Eu te abraço tão ardentemente como tu desejas”. E, a pedido do imperador, lhe envia uma foto com vestido decotado. Aliás, hábito esse que parece ser uma constante no quase sexagenário amante, que também pede para a condessa de Villeneuve uma foto, sobre a qual se debruça a escrever-lhe, confessando que, diante da imagem, fantasiou uma forte cena erótica em que os dois corpos se entrelaçavam no sofá da casa dela, desfalecendo-se de prazeres.
Uma testemunha da época do Segundo Reinado, o diplomata espanhol Juan Valera, confidenciava a um amigo seu na Espanha que “a imperatriz do Brasil (D. Teresa Cristina) é tão virtuosa quanto feia e D. Pedro II lhe é infiel de vez em quando. O teatro de suas infidelidades é a biblioteca do palácio; o que acontece é que as damas se instruem…”. Outra característica que d. Pedro II herdou do pai foi a sovinice: se esbanjava com esmolas e bolsas de estudo, era miserável com as amantes. Valera chega a comentar que não foram poucos os homens que acabaram falindo para manter as esposas frequentadoras assíduas da corte e da “biblioteca” do imperador.
Pois é, Luiz Felipe Pondé, para alguém que hoje seria considerado de “direita”, o velho Pedro II tinha lá a sua lábia e esbanjava cultura até para pegar mulher. E a direita de hoje nada?
Monarquistas, republicanos, velhos, novos, ricos, pobres, todos fazem e fizeram sexo. Nossos avós, bisavós, tataravós eram bem menos castos que suas expressões sisudas nos retratos nos fazem supor. E assim é a vida, cheia de idiossincrasias, paixões, sexo e todos os elementos necessários para construir, sem que essa construção na realidade seja linear e cerebral o tempo todo. Afinal, todos precisamos de uma pequena dose de loucura e aventura em algum momento para que não sucumbamos como uma massa coesa, uniforme e submissa ao destino final que nos aguarda a todos. E a moral? Deixemo-na para os moralistas, não para os historiadores.
Paulo Rezzutti é historiador e escritor. Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, colaborador da revista Aventuras da História da Ed. Abril e de diversos blogs sobre história. Em 2010 descobriu 94 cartas inéditas de D. Pedro I à sua amante, a Marquesa de Santos. Em 2012 participou, como consultor, do trabalho de exumação dos primeiros imperadores brasileiros sepultados na cripta do Monumento à Independência, em São Paulo.
O D. Pedro II e seu pai: a figura austera escondia uma vida amorosa movimentada.
Fonte: História Hoje