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Assim vamos, do conservadorismo ao agringalhamento da educação
A professora e historiadora Maria Aparecida de Aquino havia sido recentemente convidada para um programa de debate na TV Cultura de São Paulo. Agradou, e a produção a chamou para as três sextas-feiras seguintes, uma produtora ligaria na quinta para acertar. Não ligaram, ela ligou. Ouviu que estavam remodelando o programa e, na outra sexta, ela participaria. Não ligaram, ela ligou. Com novas desculpas, a produtora informou que sua participação estava cancelada. A mestra está preocupada: “Há uma coisa perigosa no momento, uma onda de conservadorismo muito forte. Vocês sabem que eu fui demitida do Mackenzie?”.
Ela coordenava a pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura. Não por acaso, o Mackenzie a manda embora em dezembro do ano seguinte à posse do novo reitor, em março de 2011. O diretor que comunica a demissão justifica que Maria Aparecida estuda o regime militar — “sua perspectiva é crítica e isso não interessa ao nosso programa”. Então, diz ela, “precisamos tomar cuidado com essa onda de conservadorismo, porque ela pode entornar o caldo”. O novo reitor, Benedito Guimarães, pertence à Igreja Presbiteriana.
Foi do teto do Mackenzie que partiram tiros contra a Faculdade de Filosofia na rua Maria Antônia, em 2 e 3 de outubro de 1968. Durante dois dias, estudantes de esquerda da Filosofia e estudantes de direita do Mackenzie travaram a Batalha da Maria Antônia, com paus, pedras, rojões, coquetéis molotov, ácido sulfúrico — e as armas de fogo dos mackenzistas, entre eles membros do CCC — Comando de Caça aos Comunistas. Pela uma e meia da tarde do dia 3, um repórter fotográfico flagra cinco deles no teto de um prédio da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cujo reitor havia apoiado o golpe militar. Um, à frente do grupo, faz pontaria com uma carabina. Cá embaixo ouvem-se gritos de “ambulância! ambulância!”, e vêm carregando o estudante José Carlos Guimarães, colegial que ia a uma livraria e, resolvendo engrossar as hostes da turma da Filosofia, levou aquele tiro na cabeça, que o matou antes de chegar ao hospital. Testemunhas identificaram o atirador como Osni Ricardo, do CCC e informante da polícia.
O retrospecto ajuda-nos a considerar a advertência da professora Maria Aparecida sobre o cuidado a tomar com a onda de conservadorismo que paira no ar. Nós lhe perguntamos se aquela noite de vinte e um anos, que vai de 1964 a 1985, não baixou sobre nós para piorar vários aspectos da vida cultural brasileira, a educação principalmente, área em que Maria Aparecida atua desde 1974, primeiro no ensino médio e fundamental, por vinte anos, depois no ensino universitário. Ela concorda: “Na educação é uma tragédia. O que observei do que eles fizeram ao longo desses anos todos foi destruir completamente a escola pública. E depois, lamento informar, já no período do Fernando Henrique, veio a segunda parte do processo, em que se ataca a Universidade”.
Ele aprofundou esse processo da ditadura?, perguntamos nós. “Eu não tenho dúvida. É doído, porque o que ele fez com a Universidade, com essa ideia das tais avaliações! As Universidades todas hoje se pautam pelas tais avaliações, ‘o que será que o MEC dirá quando fizer a visita aqui, que nota nós vamos tirar?’, tudo está pautado por aquilo que as comissões avaliadoras gostariam de ver.”
Funciona assim, segundo ela explica: “Nós temos um curso de História numa Universidade. Quando começa, ele vai receber a primeira avaliação. Vem uma comissão do MEC, normalmente com pessoas de diferentes estados. Eles vão fazer reuniões, com a direção, com os professores e com os alunos. Passam uns cinco dias dentro da escola”. A avaliação é trienal. A cada três anos sai uma nota. Da análise que fizeram, eles mandam a pontuação da escola.
“Para vocês terem uma ideia, o curso de História da Universidade de São Paulo tem a nota mais alta: sete. Já coordenei o curso de pós-graduação de História Social da USP. E houve uma articulação tremenda, e nessa articulação o nosso curso caiu, para manter só um com nota sete: o da Universidade Federal Fluminense.” As escolas, conta a professora, “ficam apavoradas”, pois se recebem nota abaixo de três em três avaliações seguidas, o curso é descredenciado pelo MEC: “Fecha!”.
Os critérios são “complicados”. Quando a nota da USP baixou, os avaliadores justificaram, segundo Maria Aparecida: “Vocês têm uma produção maravilhosa, mas… mas vocês têm aposentados demais no programa. Falei ‘tudo bem, mas nossos aposentados não são produtivos?’, se estão aposentados e ainda orientam, deviam era valorizar o curso”. Uma metáfora se forma na cabeça da professora Maria Aparecida de Aquino: “É uma faca que passa, e que acaba mediando tudo que a escola faz”.
Quatro meses antes, em Florianópolis, numa tarde do inverno de 2013, o professor Nildo Ouriques, economista, fundador do Iela — Instituto
de Estudos Latino-Americanos, nos recebia em sua sala da UFSC — Universidade Federal de Santa Catarina. Nildo apontou outro subproduto nocivo do modelo que a ditadura implantou: “O modelo brasileiro pré‑ 1964 era de ampliação da educação brasileira, nacionalização da educação e democratização da universidade. Depois da ditadura, começam a existir os excedentes e passa a existir o vestibular. O vestibular não foi extirpado após o fim da ditadura. Começou um sistema de cotas dentro do vestibular. Cotas para as classes sociais, negros, índios, cotas para escola pública. Mas se preservou o vestibular, quando teriam de acabar com ele”.
Criado na ditadura, o vestibular é mostrado como “virtude” quando se trata de “excrescência”: “O estado tinha de aumentar as vagas para atender a demanda”, explica Nildo. “Este é um aspecto: o vestibular segue, e não dá demonstrações de que vai morrer. Todo o mundo tenta dourar a pílula, ‘vamos democratizá-lo’. Papo furado!”
A escola pública foi degradada e a escola privada é um desastre, resume o mestre, contrariando o senso comum de que as universidades privadas é que oferecem hoje o melhor ensino. Sua fala seria amplamente comprovada quando, em janeiro de 2014, ficaríamos sabendo que, no estado mais rico do país, seis de cada dez recém-formados em escolas médicas, públicas e privadas, não atingiram o critério mínimo do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo — Cremesp — e os mais mal avaliados haviam saído justamente de universidades privadas, mais que o dobro dos formados em escolas públicas. O coordenador do exame, Bráulio Luna Filho, disse à imprensa que a condição para ser médico em certas escolas é poder pagar entre 4 mil e 6 mil reais por mês. Considerando a média e a duração de seis anos para o curso, pode-se dizer que no Brasil se pode comprar diploma de médico por 360 mil reais em setenta e duas parcelas mensais de 5 mil. E depois sair às ruas protestando contra o programa Mais Médicos, do governo federal, e a vinda de médicos cubanos para atender nos grotões para onde eles não querem ir.
Nildo Ouriques cita o antropólogo Darcy Ribeiro: “Ele publicou, em 1984, Nossa escola é uma calamidade, e repito até hoje: os professores
não estão dispostos a aceitar. Se eles aceitam que a obra no conjunto é uma calamidade, estarão achando que é o trabalho deles a calamidade.
É um equívoco”. Nildo escreveu com a jornalista Elaine Tavares o livro Crítica à razão acadêmica, sobre “a miséria da universidade”. Mas, para ele, é preciso “ir com calma” quando se fala no famigerado acordo Mec-Usaid. Ele tratou de estudar o assunto lendo os dois livros do acordo. Veio ao Brasil, por exemplo, um professor da Pensilvânia para fazer a reforma universitária em sua área, economia. Ele escreve em 1968 que nossas faculdades de economia padecem de um mal: não geram interesse, pois não estudam problemas brasileiros! “Está expresso no acordo: nacionalizar o pensamento econômico!”.
Perguntamos ao professor: a ditadura desprezou esta indicação do próprio professor americano? Responde Nildo Ouriques: “A ditadura agringalhou a educação brasileira, no sentido de from United States. E isso não foi mudado. Nem com Paulo Renato, nem com Haddad, com Goldenberg, com ninguém”. Segundo a visão de Ouriques, a ditadura montou um sistema de pós-graduação em São Paulo, criou a Unicamp — Universidade de Campinas —, “expandiu um pouco e parou”. Vindo a redemocratização, onde se pode ver “a maior colaboração da inteligência brasileira com a obra da ditadura é na pós-graduação”, avalia o economista, porque “foi feita dentro de um modelo perverso, para aprofundar o subdesenvolvimento e a dependência”. A ditadura cria os chamados núcleos de excelência, tomados “como virtude”, mas “na prática a expressão maior do subdesenvolvimento”: “Porque uma universidade de massa não era possível, no modelo de dependência”, completa Ouriques, “então fazem núcleos de excelência numa nação empobrecida e alguns grupos de mestrado, doutorado. Dão dinheiro só para alguns. Consiste em criar ilhas de modernidade num deserto completo. É a maior expressão do subdesenvolvimento, isso”.
O modelo, avalia o mestre catarinense, ganhou força depois, com a USP, a própria UFSC. “E virou um academicismo, que era o programa da ditadura. Outra herança, o sistema de pós-graduação brasileira. E o grosso da universidade, 90%, casou com o projeto da ditadura. Os tucanos, a intelectualidade, todos!”
Ouriques havia entrevistado naqueles dias o escritor Ariano Suassuna (16 de junho de 1927 — 23 de julho de 2014), de quem discordou num
ponto: “Suassuna acha que tem um movimento cultural, pelo menos na literatura. Eu acho que não tem. Qual a característica da cultura brasileira hoje? Não temos um movimento cultural no Brasil. O que temos é a vigência do colonialismo. Em todas as áreas. Desde o desenho gráfico das revistas, está agringalhado por completo. Gerald Thomas é o teatro!”.
É de rir, comentamos, e ele emenda: “Opa! Você não gosta, eu não gosto, mas é um ícone! Na televisão, talk-show: Jô Soares. É o empobrecimento completo. As editoras? Internacionalizadas. O centro cultural mais famoso de São Paulo é o Instituto Itaú Cultural, o outro é o Sesc: Sesc Pompeia, Sesc Brás, Pinheiros. São investidas empresariais. Qual é o movimento cultural que nós temos? Cinema? Acabou. Compare com a evolução do cinema argentino, gigantesco. No terreno da cultura, não sei… poderia dizer: para tudo a ditadura foi responsável. Porque ceifou vidas e tendências que estavam florescendo. Mas a ditadura acabou em 1985. Nós estamos envelhecendo na democracia”.
Fonte: Livro Golpe de Estado, de Palmério Dória e Mylton Severiano
Ri melhor quem bate panela por último.
Marcius Cortez
Em 50: Fora Getúlio. Vamos acabar com o mar de lama. Getúlio se mata.
Em 60: a Casa Grande e o Tio Sam puseram os milicos para derrubar o João Goulart. A democracia foi para o beleléu e a Ditadura Militar reinou por mais de vinte anos de chumbo.
Em março de 2015, segundo os organizadores, 1 milhão de pessoas, vestindo as camisas da CBF, lotaram a Avenida Paulista para o Fora Dilma.
Bobo é quem diz que a história do Brasil não prima pela coerência. Em boa hora já está à venda nas livrarias o mais novo míssil da dupla que acumula histórias secretas dignas de deixar o Yul Brynner, o careca mais famoso do cinema, de cabelos em pé. Os jornalistas Mylton Severiano (Myltainho) e Palmério Dória já implodiram a corrupção na era Sarney em “Honoráveis Bandidos”, aquele em que a capa é a foto do ex-Presidente de óculos escuros fazendo o gênero Al Capone. Em seguida, o paraense de Belém e o paulista de Marília produziram o molotov que é “O Príncipe da Privataria”, o relato documentado de como o país perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição. E agora na terça-feira da semana passada, na Saraiva, do Shopping Higienópolis, 14 de julho, foi o lançamento do seu último rugido, “Golpe de Estado”, publicado com esmero pela Geração Editorial. (Prefácio: Fernando Morais. O livro tem uma boa diagramação, uma capa interessante, um acabamento profissional e respeita o leitor que paga apenas 29 reais).
Os autores argumentam que o Brasil vive em estado de golpe permanente. Um trem-fantasma, um susto em cada curva. Ao menor enxerimento da senzala, a Casa Grande prontamente dá uma festinha, reúne os amigos e a conspiração contra a vontade popular consagrada nas urnas reacende as cinzas dos retrocessos da História. Então prenda-se e arrebente o pessoal que estava pondo lenha na fogueira, ateando fogo no circo. Isso já aparece nas primeiras páginas pretas que abrem o livro. Precisamente na quinta página de fundo preto o texto diz: “o golpe de 1964 configurou um estelionato de proporções continentais, mediante o qual alguns golpistas, sob a alegação fraudulenta de pôr fim à subversão e à corrupção, obtiveram vantagem ilícita para si e para outros em prejuízo de milhões de brasileiros”.
O golpe de 64 foi um passeio. Estalou-se o dedo e no ato, a vaca fardada soltou as tropas de Minas para o Rio, a Fiesp entregou a mala para o Kruel, o Gilmar Mendes de plantão bolou uma roupagem constitucional para o crime e as Forças Armadas e a Polícia Militar (que sempre foram “um dos nossos”) se encarregaram do resto assassinando, prendendo e torturando. A Casa Grande festejou. Auro Moura Andrade declarou que a cadeira da Presidência estava vaga (mesmo com João Goulart ainda em terras brasileiras) e, num passe de mágica, Lincoln Gordon assumiu a gerência.
São 32 capítulos. Breves, mas consistentes. No primeiro já tem um “furo”: a lista que o braço direito da ditadura publicou em sua primeira página dedurando aos milicos os intelectuais “que trabalharam pela implantação do regime comunista do Brasil”. A manchete do jornal O Globo, de 7 de abril de 64, era “Fundação do Comando dos Trabalhadores Intelectuais”. No bloco de texto, segue o manifesto e as assinaturas de escritores, jornalistas, críticos, cientistas, compositores, artistas plásticos, atores, cineastas, dramaturgos, humoristas, cantores, economistas. Myltainho e Palmério republicam os principais trechos da delação e a relação completa dos perigosos comedores de criancinhas, entre eles, o marxista da linha Groucho Marx, o cearense Chico Anysio. Consulte na página 28 os nomes dos outros meliantes. Imagine o orgasmo dos cartolas “globais” ao verem a deduragem estampada na capa do jornal. Eles sempre se derreteram pelo ódio à inteligência, pois o negócio dos Marinhos é a mentira e a mediocridade.
A vida é interessante. A lição de ética em termos de jornalismo ocupa as 263 páginas do “Golpe de Estado”. A cada denúncia apresentada, publica-se a prova. Leia o capítulo 9 (“Como o Brasil escapou de virar Brasil do Norte e Brasil do Sul”) e veja como Palmério e Myltainho constroem a notícia da Fiesp ao entregar duas malas de dinheiro (um milhão de dólares?) para o General que ficara embaçando o apoio à Redentora. Pois é, como podem o Myltainho, o Palmério que um dia estavam trabalhando aqui e no dia seguinte estavam trabalhando acolá, logo eles, “porra-loucas”, como podem ter esse tipo de preocupação quando o procedimento adotado pelos “guardiães da moral” é fazer um escarcéu publicando a denúncia e anexando como prova a fita sem áudio.
Aprecio a seriedade quando o livro aborda assuntos como a proposta para extinguir a Polícia Militar ou o problema da reforma agrária que ainda não se fez ou se o golpe de 64 foi contra Brizola e não contra os comunistas, ou então, quando pior do que a Gestapo prendeu-se, torturou-se e calou-se a arte brasileira. Os autores entrevistam quem estava lá, quem pulou a fogueira. No primeiro caso, eles ouviram o cientista político Luis Eduardo Soares, ex- Secretário Nacional de Segurança Pública no governo Lula que responde seis perguntas de uma substanciosa entrevista. Sobre a reforma agrária, tema vital para o desenvolvimento do País, leia o sensacional depoimento do “lúmpen internacional”, José Luiz del Roio, página 41. Para falar de Brizola, os jornalistas conversaram com o gaúcho Carlos Araújo, militante do PDT, partido fundado por Brizola. O depoimento é uma bela aula de história remetendo a Getúlio, a Jango e a Brizola. Araújo foi membro da organização guerrilheira Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, ele e sua mulher, a Presidenta Dilma Rousseff. Sobre cultura, o depoimento é do ator, dramaturgo, diretor e encenador José Celso Martinez Corrêa. São 10 páginas dedicadas ao artista voltado para o contato com o corpo quântico “porque a tendência hoje é as pessoas se manterem fechadas para o outro. As pessoas não têm percepção de si mesmas”.
Em alguns capítulos do “Golpe de Estado”, os autores abrem espaço para o disco de risadas. Confira a hilariante história dos macacos subversivos das praças XV e da Alfândega, em Porto Alegre. Um deles foi detido para interrogatório e o outro ficou preso, “incomunicável”. Tem também aquela da Dona Lurdinha, a eterna secretária da Casa Civil, em Brasília. Dou um doce para quem não ficar a gargalhar no final do capítulo 32, o último do livro. E para encerrar a obra, tem a Linha do Tempo, apuradíssimo retrato do Brasil de 1882 até os dias de hoje. As nossas principais datas e fatos históricos pinçadas com rigor e para não perder a “deixa” com o indispensável bom humor. Tomo a liberdade de divulgar a minha preferida. O lema do jornal A Lanterna, anarquista, publicado em São Paulo: “Urge enforcar o último rei com as tripas do último frade”.
Todos nós estamos vendo que a situação está mais para jacaré do que para beija-flor. Myltainho, uma das mentes mais brilhantes do jornalismo brasileiro, nos deixou em maio de 2014, aos setenta e quatro anos. Palmério Dória continua na trincheira, lutando para honrar o compromisso de contar boas e verdadeiras histórias para as pessoas. Prezo ser seu amigo, julgo-me um sortudo por tê-lo como uma das minhas fontes para entender o Brasil. Sua visão independente, crítica em relação ao radicalismo de certa esquerda, longe de qualquer dogma, de qualquer partido político e dos nauseabundos gigolôs da cultura tem muito a ver comigo. Somos da geração criada sob o lema de Proibido Proibir. Nossa consciência libertária diz que é para liberar geral. Pode tudo, só não pode é ser coxinha. O problema nem é a arrogância, o preconceito, o analfabetismo político, o fascismo, o problema é quando ficam de quatro, eles não conseguem mais levantar.
Literatura – Jovem guairense lança o primeiro livro: Ovelha
Ovelha é um livro fragmentado, que apesar de forte e polêmico, tem o objetivo de criar um debate humanizado sobre o assunto
Depois de fascinar leitores brasileiros com o site Literatortura, ele conquistou mais de meio milhão de curtidores no Facebook e se tornou parceiro de importantes agentes culturais nacionais. Agora, o jovem do oeste do Paraná, o guairense, Gustavo Magnani, ganha a confiança da Geração Editorial e lança o seu primeiro livro: Ovelha – memórias de um pastor gay. Um romance fragmentado que, apesar de forte e polêmico, tem o objetivo de criar um debate humanizado sobre o assunto.
Com apenas 20 anos, Gustavo Magnani vive a expectativa do lançamento, previsto para o início do segundo semestre de 2015 pela Geração Editorial. A tiragem inicial será de cinco mil exemplares. Segundo ele, Ovelha – memórias de um pastor gay não tem a intenção de ofender nenhum ser humano. “É um livro que aborda a vida de um pastor que, internado num hospital por conta de uma doença, acredita estar prestes a morrer e decide, então, contar sua verdadeira história através de memórias. O tema principal gira em torno de um homem que condena aquilo que ele próprio é”.
Diferente das primeiras histórias escritas por Gustavo Magnani, que ficaram em stand by e auxiliaram o crescimento técnico do escritor, o primeiro livro a ser lançado foi escrito em um intervalo de 40 dias. A ideia inicial era conceber um roteiro para uma série de televisão a pedido de uma agência, mas o personagem central – ovelha – tornou-se forte demais para apenas figurar em um projeto de série.
Para o escritor, o livro começou a nascer há sete anos. “Foi durante uma vivência intensa que eu tive dentro da Igreja Evangélica por um período de aproximadamente oito meses. Isso aconteceu mesmo sem que eu soubesse. Acredito que não poderia abordar esse assunto sem essa experiência com a religião, que, aliás, respeito profundamente”. Além da experiência pessoal com a igreja, Gustavo Magnani também realizou uma pesquisa sobre a homossexualidade e outros fatores que influenciam a história do livro.
Lançamento
A editora promoverá três eventos de lançamento, um em São Paulo e outro em Curitiba. O terceiro evento ainda não tem local definido, mas o jovem escritor já demonstra o desejo de que seja na região oeste do Paraná. “Eu sou bastante reconhecido pelo meu trabalho Brasil a fora, mas sinto que falta essa aproximação com a minha cidade natal e a região”, finalizou.
O escritor
Fascinado em criar e contar histórias desde criança, Gustavo Magnani, que começou a escrever livros aos 13 anos, lança sua primeira obra: “ovelha – memórias de um pastor gay” em agosto de 2015, pela Geração Editorial. O jovem escritor, de apenas 20 anos, também é o idealizador e administrador do site Literatortura – o maior site literário da América Latina e conta com outros trabalhos online, como: Diário Informal de um suposto escritor e o mais recente projeto – em parceria com a página Brasileiríssimos – BrasiLivros.
Prefácio do Livro
“Eu deslizei das mãos de Deus tantas vezes quanto pude”
Criado desde cedo num regime de terror religioso, ele foi predestinado a ser um grande profeta. Cresceu e virou pastor, homem de fé, guia espiritual para as ovelhinhas carentes do Paraíso.
Com a palavra dele, a verdade: “Nasci viado, amém!”
O pastor protagonista deste livro corrosivo e provocante viveu trinta
anos envolto numa bolha de fé, angústia, ódio e mansidão.
Preso a relações amorosas e sexuais doentias, com homens e mulheres, e sufocado por uma mãe paranóica, ele se fez um homem dividido, perturbado e incontrolável em seus desejos proibidos.
Condenador e condenado.
Mas uma desgraça aconteceu.
Ele foi ultrajado por um soco do destino – ou seria de Deus? Uma ironia de todo o seu mundo de farsa. Seu corpo está minado, contaminado pelo pecado. Toda sua história está ameaçada.
E eis que justamente neste momento, largado numa cama de hospital, ele pensa: “Uma história suja, mas tão humana… Por que não contá-la?”
Vem então uma explosão potente de verdades indizíveis ao ouvido moralista, despejadas sob a forma de um diário suicida.Endereçado à mãe odiada e amada; aos amantes; à esposa enganada; às vidas alheias destruídas…Um aceno aos próprios sonhos, e à morte. O insuportável em nível absoluto – e fascinante.
Profundo, por vezes pejorativo. Uma narrativa surpreendente, que lança uma luz fortíssima – e ácida, no submundo da religião.
Uma estreia impressionante, de um novíssimo e surpreendente autor brasileiro.
“Religião e homossexualidade já renderam muitas sátiras, mas essa é uma visão mais profunda e perturbadora do tema. Que um garoto tão novo escreva com tamanho lirismo e maestria é assombroso. Gustavo Magnani é um prodígio.” Santiago Nazarian, um dos mais relevantes autores do cenário atual.