Luiz Fernando Emediato fala sobre o mercado do livro ao Estadão
Confira na íntegra a entrevista concedida ao jornal O Estado de S.Paulo pelo editor e publisher (licenciado) da Geração, em matéria sobre o mercado editorial e o papel do editor.
1. Qual a história da Geração Editorial e em que nicho de mercado ela se encaixa?
A Geração Editorial nasceu em 1992, dois anos depois de eu ter abandonado a profissão de jornalista para me dedicar a uma empresa da família. O cargo de executivo dava-me muito tédio e abri a editora para me divertir, quase como um hobby. Mas ela cresceu e eu tive então que me dedicar a esta nova produção – a de Publisher. Ela começou como uma editora de instant books, livros de jornalista, reportagens e denúncias, livros de oportunidade. Era uma editora jornalística. Com o tempo, transformou-se numa editora de livros de interesse geral, do infantil à filosofia e à ciência, da ficção à poesia. Publicamos tudo o que pode interessar aos leitores.
2. Qual o movimento da Geração Editorial – volume de produção e de vendas/ano?
Somos uma editora de médio porte cujo tamanho varia de acordo com o sucesso ou não de nossos lançamentos. Há períodos em que somos a maior editora do país, com um título em primeiro lugar nas listas de mais vendidos. Há períodos mais mansos, em que somos a editora de nosso tamanho: porte médio. Publicamos em média 60 livros por ano, cinco por mês, um ou dois por semana. Temos livros, como A privataria tucana, que venderam 150 mil exemplares em 60 dias, quando a média de tiragem no Brasil é de 5 mil exemplares que demoram um ano para vender. Temos longsellers, como a biografia de Darwin, que vendem continuamente há 18 anos.
3. Qual foi a sua trajetória profissional e o que o levou a se transformar em um publisher?
Eu era escritor de ficção desde os 18 anos, ganhei um grande premio literário nacional aos 19, publiquei 8 livros até os 30 anos e aí parei de escrever ficção para me dedicar ao jornalismo, profissão a que dediquei 17 anos de minha vida. Ganhei os prêmios Esso de Jornalismo e Rei de Espanha, além de outros, e aí encerrei precocemente minha carreira, depois de chegar a editor no jornal O Estado de S. Paulo e Diretor Executivo de Jornalismo no SBT. Como disse, deixei a profissão para ser empresário e abri a editora para não morrer de tédio.
4. O que diferencia um editor de jornal de um editor de livros?
O editor de jornal tem que viver a noticia a cada dia, viver o clima feérico e tenso das redações, matar um leão por dia, conviver com a velocidade dos fatos, dar o furo, cavar a notícia, pensar a reportagem especial. A vida passa muito rápida também. Um editor de livros tem que estar ligado no que está acontecendo em todo o mundo, nos livros que ainda não foram sequer escritos e são oferecidos, em forma de sinopse, pelos agentes, tem que identificar tendências. Tem que ter um olho no mercado e outro na cultura, porque o editor que só vive do mercado ganha dinheiro, mas produz livros como se produz feijão, trilhos, sabão. Eu tenho o olho no mercado, porque não podemos ter prejuízos, mas lanço autores novos, livros fantásticos que vendem pouco, mas vendem para pessoas especiais. Não sou um editor sonhador, como nos velhos tempos, mas não abro mão da qualidade, da arte. Um olho na realidade prática, outro na ilusão e na fantasia.
5. Como preparou sua filha para assumir a editora? Isso transforma a Geração Editorial em uma empresa familiar?
Minha filha Fernanda Emediato foi um feliz acidente. Ela tinha 14 anos, estava num desvio da vida e eu precisava ficar de olho nela. Levei-a para ser telefonista, ela tomou gosto pela coisa, aprendeu a ser uma boa executiva e hoje ela é quem toca a editora. Tenho outros dois filhos adultos que também trabalharam na editora, mas nenhum deles deu certo lá. O mais velho vive em Maresias, no mercado imobiliário e turístico, e o outro é mestre e doutor em Zootecnia, trabalha numa grande empresa do setor de laticínios. A empresa não é familiar no sentido estrito. Minha filha é minha sócia por seus méritos, não por ser minha filha.
6. Como você classifica o mercado atual: estagnado, em ebulição ou instável – por quê?
O mercado editorial brasileiro está em ebulição. O governo Lula, ao distribuir renda e criar uma classe média consumidora, ampliou o numero de leitores. Tenhos muitos adolescentes, principalmente do sexo feminino, lendo muito. Ainda lêem livros descartáveis, de entretenimento, mas lêem, e isso é bom. O Brasil é a boal da vez. Até há uns 5 anos nós comprávamos livros estrangeiros com adiantamentos de 3 mil ou 5 mil dólares, agora os agentes nos cobram 30 mil, 150 mil, 300 mil dólares. Recentemente entrei no leilão para comprar a triologia “50 tons de cinza” e cheguei até 175 mil dólares de adiantamento e achei que estava abafando. O concorrente levou por 780 mil dólares e ganhou milhões. Esse é o Brasil dos leitores atuais.
7. Vale a pena investir nessa profissão? Quais as necessidades básicas para a formação de um editor?
Vale. Um bom editor tem que saber vários idiomas, ler muito, estar ligado a tudo o que acontece no mundo, as tendências, as novidades. Hoje isso é mais fácil com a Internet, mas não basta. É preciso ter bom relacionamento com os agentes literários, pois são eles que vendem os direitos, e se eles não te respeitam e não te oferecem os títulos que vão ser sucesso, você fica fora do mercado. Internamente, na editora, o editor em si tem que saber produzir um livro, o que implica conhecer literatura e arte, cinema, filosofia, ciência, mas também artes gráficas e visuais, conhecer papel, fontes gráficas, tipos. É uma arte.
8. Como a Internet ajuda e como atrapalha o mercado editorial?
Não acho que atrapalha. Só ajuda. O mundo, as artes, os livros, os autores estão a um toque de seu teto, na tela do computador e do tablet.
9. Ela mudou o esse mercado? Como?
Mudou porque te possibilita acessar tudo e todos rapidamente. Diminuiu a importância de feiras de livros como a de Frankfurt, onde vamos agora menos para fechar negócios e mais para fazer relações públicas. Mostrar a cara, conhecer agentes e autores, pessoas.
10. E o perfil do leitor/consumidor sofre influência dessa ferramenta? Isso ajuda ou atrapalha?
O leitor de livros usa a internet de um jeito, o leitor de internet não necessáriamente lê livros, jornais ou revistas. São públicos diferentes. A internet é uma selva e só uns raros sabem andar em seus trilhas. Muitos se perdem nos links e no excesso de informação.
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