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Conto “Tatuagem” de Domingos Pellegrini
TATUAGEM
Eu pescava tranquilo até que os dois vieram se botar bem do meu lado, falando alto depois que botaram as linhadas na água.
— Cara, não podemos pescar mais que cinco quilos, hem, senão o dinheiro não vai dar.
— Quatro quilos, porque a gente vai tomar umas cocas, né.
Assim combinados, ficaram botando e tirando os anzóis da água tão depressa que os pobres peixes, se quiseram beliscar, ficaram só na vontade.
Até que esqueceram das varas, apoiadas em forquilhas, e um deles falou olhando o braço: — Tô a fim de tatuar aqui, cara, mas não sei o quê.
— Uma cobra.
— Por que uma cobra?
— Porque toda gata vai perguntar por que a cobra. Aí você joga aquele lero e ganha a gata.
O outro ficou pensando, sem ver que a boia da sua vara afundava.
— Cobra, cara, já infernizou Adão e Eva, né, e mulher tem medo de cobra, qualé?
— Então vou tatuar um sol, mulher gosta de tomar sol que nem peixe gosta de água.
Aí viram as pontas das varas bicando a água, de tão curvadas, e puxaram com tanta força que conseguiram, os dois, arrebentar as linhas ao mesmo tempo. Ficaram se lamentando, depois foram trocar as varas, voltaram falando da tatuagem.
— Sol é dez, cara, mas lua não será mais romântico?
— Aí vai agradar as gatas, mas a moçada vai pensar que você é gay…
Lançaram os anzóis.
— E uma flor, hem, com forma de sol mas cara de flor!? Aí explico: é que eu sou quente como o sol, gata, mas carinhoso como uma flor.
— E flor é carinhosa, cara? Flor é bonita, é cheirosa e só.
— Uma gata me falou que dar flor é mostrar carinho.
— Dar flor, né, não tatuar flor! Os caras vão te chamar de florzinha.
As boias de novo começaram a pinotear, eles nem viram.
— Precisa ser coisa que a gata olhe e arregale os olhos, cara, dizendo que lindo, por que você tatuou isso?
— Já sei! Que tal uma lua chorando umas lágrimas que viram estrelas?
— Cê tá brincando? Parece coisa de corno ou de bichinha louca! Tem de ser uma coisa que… não sei.
— Pois é.
Enquanto isso, as varas pararam de beliscar, decerto as iscas já comidas. Mas eles continuaram discutindo a tatuagem, até que recolheram as linhas.
— Vamos tomar aquelas cocas, cara, não dá peixe não.
E foram, discutindo a tatuagem porque, como disse um e o outro concordou, “se vai fazer, tem de fazer bem feito”…
Confira esse e outros contos no livro “A caneta e o anzol“, de Domingos Pellegrini.
Corrupção da PM no RJ é retratada em livro
Sangue Azul – morte e corrupção na PM do Rio trata da guerra civil não declarada que já existe no Rio de Janeiro e que, até agora, abate principalmente as classes mais pobres. Vemos aqui, pela voz de um deles, a história de policiais militares (os tais homens de “sangue azul”) dos quais se espera que protejam a sociedade. Pouco a pouco, somos apresentados ao dia a dia dessa gente que também tem família, filhos, projetos de vida. Gente como a gente – mas existe algo de errado nessa história.
Eis, então, o drama: à medida que avançam em sua missão, esses policiais se corrompem, buscando dinheiro, e se dilaceram no abandono da ética e da própria humanidade. Transformam-se basicamente em matadores. Eles matam bandidos como se fossem justiceiros, mas, na dúvida, acabam matando qualquer um. E aí entram no crime. E então matam adversários. Matam concorrentes. Matam pessoas inocentes, inclusive mulheres e crianças. A barbárie. O horror.
Confira o book trailer:
Trechos do livro
“O barraco que nós estouramos era também um esconderijo de armas de traficantes. Achamos quatro fuzis. Dois G3, um 5.56 e um AK47. Depois que me deixaram no pronto-socorro, a viatura seguiu para a favela vizinha e meus companheiros venderam, para a facção rival, os fuzis que nós encontramos”.
“Sabe o que eu acho? Vou ser sincero com vocês. A população tem mais que se fuder. Ela tem a polícia que merece, num sabe votar. Agora se tu deu pra trás é tu que vai ficar mal comigo e com os seus colegas. A escolha é tua”.
“Se uma dúzia de policiais sem nenhum aparato especial, sem a superestrutura do Estado junto com eles, toma um morro inteiro, porque a PM, com seus milhares de soldados, não consegue acabar com o tráfico?”.
Sangue Azul – morte e corrupção na PM do Rio
Autor: Leonardo Gudel
Categoria: Reportagem
Formato: 15,6×23
Páginas: 332
Peso: 400g
ISBN: 9788561501396
Preço: R$ 39,90