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Testemunha, por Pedro Tierra
17.00 horas
Meus olhos não anoitecem e sei:
não era este o corpo que usavas
para caminhar entre os homens.
Tua carne é apenas tua dor.
19.30 horas
Com os dedos da memória
vigio:
a cabeça cortada em pedaços
de negro e relâmpago
pelas agulhas dos dínamos.
Os dentes cariados do algoz
trituram o grito dos teus ossos.
23.00 horas
Durante séculos enterrados
meus olhos não se fecharam.
Um gosto de vidros estilhaçados
risca a garganta e a alma.
Sinto, na sombra, o brilho dos punhais
a percorrer o corpo,
devastado território
de madeiras em fúria.
03.00 horas
Como um cego de olhos eternos,
a quem as facas do Tempo
arrancaram o véu das pálpebras
vigio:
pasto de tempestades,
tua carne extingue
a brasa dos cigarros
num lago de sangue
e cinzas…
05.45 horas
A garganta dos corredores
devora tua vida:
fardo de sobressaltos.
Meu peito não se cerrou.
Sobrevivente,
aqui te recebo:
bagaço devolvido
pelas oficinas da morte.
Sinto crescer o coração no peito,
fogueira ardendo em madeira antiga,
poema indeciso a desatar-se
da alma inconsútil do teu silêncio.
*** Poema extraído do livro “A palavra contra o muro“.
Como vencer ou morrer na guerrilha aos 18 anos
Celso Lungaretti era um dos mais jovens dirigentes de uma organização guerrilheira de luta armada contra a ditadura militar, no final dos anos 60 e início dos 70, quando foi preso e barbaramente torturado. Acusado de ter delatado seu grupo, passou 34 anos como um renegado, até conseguir provar, há um ano, sua inocência. Neste livro dramático, ele relembra as passeatas, a ocupação de faculdades e fábricas, os festivais de música, as ações armadas dos guerrilheiros, seus conflitos internos, as trajetórias de personagens como José Dirceu, Geraldo Vandré, Marighela e Lamarca, reconstituindo, de forma magistral e dolorida, a história de sua geração – dos jovens estudantes sem experiência militar recrutados para combater a ditadura pelas armas. E acerta, finalmente, as contas com sua consciência e a História.
Trata-se de um livro dramático e impressionante que reconstitui, numa linguagem crua e ao mesmo tempo dolorida, um dos períodos mais trágicos de nossa história recente – o período em que os grupos de esquerda armada de combate à ditadura militar, nos anos 60 e 70, tiveram seus principais militantes e combatentes presos, mortos em ação ou friamente executados e passaram a recrutar para suas fileiras jovens estudantes secundaristas sem maturidade política e sem experiência de combate. Mesmo assim, eles foram para a linha de frente da guerra revolucionária. Celso Lungaretti era um desses jovens.
Neste seu livro-desabafo, um terrível depoimento preso há mais de 30 anos na garganta, ele reconstitui a trajetória de um desses grupos de estudantes, desde o recrutamento num colégio da Zona Leste de São Paulo. Ele passa pelo aprendizado marxista; pela contestação desenvolvida na própria escola; pela organização do movimento secundarista em toda a capital paulista durante o explosivo ano de 1968; pelo engajamento na luta armada em 1969; e, finalmente, pelas prisões, torturas e mortes nos anos seguintes.
Confira a entrevista de Lungaretti no programa Provocações: