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Livros são para ler. Tem certeza?
Raw Edges cria estante que se torna um aparador
Esqueça o tradicional costume de apoiar (ou empilhar) os seus livros em estantes ou prateleiras horizontais. A dupla Raw Edges já esqueceu. Yael Mer e Shay Alkalay, os designers por trás do nome, apresentaram na IMM Cologne 2013 uma pequena revolução na maneira que guardamos – e usamos – os livros.
Batizada de Booken, a peça é a primeira colaboração do duo com a marca italiana de móveis Lema. Sua grande sacada está na multifuncionalidade: os livros colocados ali têm suas lombadas transformadas em superfície de apoio. Antes estante, o móvel vira também aparador, com uma estrutura leve de madeira que permite que todos os livros fiquem juntinhos uns dos outros.
Segundo os designers, o desenho da Booken levou em conta a evolução do livro nos últimos anos. Como o livro físico está dando cada vez mais lugar aos e-books e outros formatos digitais, a dupla buscou reforçar a ideia do livro como objeto, reinventando em parte sua função. O fato de pouca gente reler os compêndios que guardam em casa também influenciou o projeto.
Fonte: Casa Vogue
10 casas ideais para amantes de livros
Estantes dominam lares perfeitos para os nerds
Todos têm uma casa dos sonhos. Para alguns, é imprescindível a existência de uma piscina, para outros, a de um grande closet, e ainda há aqueles que queiram uma cozinha equipada e integrada com o living para viver bem. Mas e os estudiosos, os acadêmicos, os ratos de biblioteca? Como seriam as casas ideais para eles? A pergunta pode surtir diversas respostas, mas todas elas terão um ponto em comum: um excelente espaço para armazenar os livros. Selecionamos abaixo 10 incríveis projetos residenciais para inspirar os amantes da literatura. Neles, as estantes estão sempre em destaque, chegando às vezes a ocupar a maior parte do espaço. Confira essas verdadeiras casas de nerds!
Estantes por toda a parte
A Nobis Haus, em Munique, na Alemanha, é uma construção feita basicamente de madeira e vidro. Com um formato bastante simples, nas extremidades menores, encontram-se paredões de vidro, que mantém a residência plenamente iluminada. Ao longo das paredes longitudinais, estantes. O ambiente é perfeito para a leitura: espaço para livros é o que não falta; a vista é agradável e calma; e há boa iluminação por grande parte do dia.
Três andares de livros
Em Roterdã, na Holanda, este “loft vertical” se desenvolve literalmente em volta da estante. Nada discreta, ela ocupa a maior parte da residência, tomando uma área grande da parede, do térreo ao segundo andar. No espaço da cozinha, a mesma estante se torna um armário fechado para guardar as louças e os utensílios. Mas o “móvel” homérico não carrega apenas livros e, sim, o próprio peso da casa – ou parte dele –, substituindo uma das paredes estruturais da construção original. O projeto é do escritório holandês Shift.
Bagunça nerd organizada
Este ambiente, que traz à mente a típica confusão organizada dos lofts nova-iorquinos, na verdade, é fruto das mãos da arquiteta italiana Benedetta Tagliabue, que ali habita. A casa, que fica em Barcelona, sofreu uma série de reformas e reparos até chegar à sua forma atual. A construção é originária do século 18. Entre os vários cômodos, destaca-se o escritório da arquiteta, onde as estantes e os livros a cercam por todos os lados.
Industrial e cultural
Instalada em território brasileiro, na cidade de São Paulo, esta casa com forte apelo industrial foi desenvolvida pelo escritório Gruposp. Dentre seus muitos atributos, fica claro na foto que há uma grande estante que ocupa toda uma das paredes longitudinais da morada. Ao todo, estão armazenados ali mais de 7 mil livros. A estante abrange dois dos três andares da casa. As outras paredes têm acabamento de concreto, exceto pela fachada dos fundos, completamente aberta visualmente para o jardim, com suas muitas esquadrias.
Home office do cientista
Esta biblioteca suspensa faz parte da residência de Wade Davis, um renomado antropólogo e etnólogo canadense. Seu trabalho junto à National Geographic Society exige que ele disponha de um espaço onde possa se dedicar aos estudos e leituras. Assim foi criado o ambiente (acima) pelos profissionais do Travis Price Architects. Abaixo, o escritório e, acima da laje do andar, uma biblioteca circular acessada por uma escada simples. Enquanto o arquiteto considera a obra uma homenagem ao Oráculo de Delfos, o antropólogo a apelidou de “Navajo Kiva do conhecimento”, ou seja, “a sala de devoção ao conhecimento”.
Escalada do saber
Com dupla função, esta biblioteca é também a escada que leva os moradores do loft onde está instalada ao seu dormitório, no mezanino. O projeto do escritório Levitate Architects envolveu a criação tanto da escadaria quanto do mezanino. A privacidade do dormitório é garantida, uma vez que esta livraria vertical é secreta, permanecendo atrás de uma porta. Os pisos da escada, ou os patamares da estante, são feitos de carvalho inglês, e a iluminação é zenital, ou seja, vinda de cima. De peculiar, a escolha de esconder uma obra tão interessante.
Leitura e isolamento
Eis uma biblioteca que comporta 5.200 volumes. Neste espaço, há pouco para se ver que não os livros: a estrutura metálica da passarela e das escadas, uma poltrona neutra e confortável, uma pequena mesa de apoio para uma bebida ou um petisco e a vista. Trata-se de um verdadeiro espaço de leitura e contemplação desenvolvido pela firma de arquitetura suíça Ilai. O contraste entre o tom escuro das estantes, o branco da circulação e a madeira do piso tornam o espaço intimista e agradável, ainda que moderno.
100 nichos do piso ao teto
Em Estocolmo, na Suécia, este amplo apartamento foi criado no topo de um prédio, onde antes havia um grande estúdio. Sem dúvida, os dois elementos que mais chamam a atenção são a estante, com cem nichos, e as aberturas na cobertura. O móvel que ocupa a totalidade da parede não existia anteriormente, sendo construído para servir de divisória de ambientes. Além de livros, os pequenos espaços quadrados guardam os objetos significativos dos moradores, tornando a estante um grande organizador.
Uma casa para 16 mil livros
Às vezes, os arquitetos se deparam com uma tarefa complicada. No caso de Gianni Botsford, foi construir uma casa para seu pai, escritor, que comportasse seus mais de 16 mil livros. A solução foi desenhar uma enorme biblioteca que também tem a função –secundária – de ser um lar. O projeto, todo de madeira, é simples e bonito, com diagonais emocionantes. O espaço capturado na foto carrega apenas parte da coleção.
Nada além de nichos
E que tal uma casa inteiramente feita com nichos? É o caso da Shelf-Pod House, desenhada pelo escritório Kazuya Morita Architecture Studio. O projeto foi concebido para atender às necessidades do cliente, que possuía um extenso acervo literário, em sua maioria, sobre história islâmica – temática que foi incorporada à decoração. As estantes foram feitas sob medida, entregues em partes e montadas no local. Não há um só elemento que não seja constituído por nichos, das escadas às paredes.
Fonte: Casa Vogue
O Pequeno Príncipe,”livro de miss”, e a história de um duplo preconceito
Reza a lenda que a fama de O Pequeno Príncipe como “livro favorito das candidatas a miss” começa no ano de 1966, após uma entrevista de Ronnie Von, então ídolo da juventude, ao programa de Hebe Camargo. Como é também aviador, o cantor, aos 22 anos, comentou com Hebe que admirava um escritor com quem tinha em comum o fascínio pelos aviões: o francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Imediatamente, a apresentadora soltou: “O Pequeno Príncipe!” E, voltando-se para a platéia: “Ele não é a cara do Pequeno Príncipe?”
O apelido pegou e, em outubro daquele ano, o cantor ganharia um programa na TV Record, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, onde interpretava um personagem inspirado no principezinho, e lançaria o primeiro LP, com a música Pequeno Príncipe como faixa-título. O sucesso de Ronnie e seus faiscantes olhos verdes teria, enfim, sido o maior responsável por tornar o livro de Saint-Exupéry popular entre as moçoilas de Norte a Sul do País.
Daí até virar “livro de cabeceira das misses” foi um pulo. Nas décadas de 1970 e 1980, jornalistas (certamente homens) começaram a reparar que, em todos os concursos de beleza, era batata: quando o apresentador perguntava sobre as preferências literárias, a bonitona, não importa que fosse de São Paulo, da Bahia ou do Amazonas, indefectivelmente citava a história do loirinho de cachecol perdido no deserto. A “explicação” sempre era a mesma, que as moças tinham se encantado com frases “melosas” como a célebre “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
72 anos após seu lançamento em Nova York, O Pequeno Príncipe continua a ser o segundo livro mais traduzido do mundo –só perde para a Bíblia. No Brasil, saiu pela primeira vez em 1959, em edição portuguesa, e desde então foi reeditado inúmeras vezes. A mais recente delas, pela Geração, no ano passado, com tradução de Frei Betto. Em certos círculos intelectuais brasileiros, porém, se tornou símbolo de literatura piegas e chegou a ser classificado como “auto-ajuda” –principalmente porque era “leitura de miss”. Uma piadinha de machos, um duplo preconceito: com o livro (um clássico) e, claro, com as misses.
O Pequeno Príncipe é uma história ao mesmo tempo autobiográfica e cheia de imaginação. Também possui metáforas poderosas. A conversa entre o menino e a serpente no deserto remete ao Novo Testamento. Experimente relê-lo: ao encontrar o aviador, o principezinho começa a rememorar a jornada em direção à Terra. Desde o seu planeta, onde cuida de uma rosa e evita o crescimento de baobás, até chegar ao nosso, ele passa por cinco outros lugares: o planeta do bêbado, o planeta do acendedor de lampiões, o planeta do geógrafo, o planeta do astrônomo e o do homem vaidoso.
Tudo que é possível pensar a partir destes arquétipos permanece atual. Toda vez que eu penso no reizinho, por exemplo, lembro dos marqueteiros e suas pesquisas qualitativas, sempre fazendo o político prometer exatamente o que o eleitor deseja –o reizinho, para manter intacta sua autoridade, só dava ordens que estavam prestes a ser cumpridas. O homem de negócios, ocupadíssimo em comprar e vender estrelas, é o legítimo representante do 1% que segue no topo do mundo. O Pequeno Príncipe não é nada piegas. É poético. E extremamente bem escrito.
Ganhou fama de “boboca” porque era lido por misses, mulheres bonitas, logo “burras”. Com menos de 20 anos de idade, em média, pelo menos naquela época, as misses possivelmente eram ingênuas. Mas apreciar O Pequeno Príncipedemonstra, ao contrário, que elas tiveram uma sensibilidade para se dar conta da grandeza da obra muito maior do que seus detratores –delas e do livro. Quem era o burro da história, afinal? As misses, que perceberam estar diante de uma obra-prima, ou aqueles que estamparam nele o pejorativo “livro de miss”?
Os críticos estrangeiros imediatamente respeitaram esta pequena grande obra de Saint-Exupéry. Foi justamente uma mulher, P.L.Travers (1899-1996), a autora deMary Poppins, outro clássico, uma das primeiras a reconhecer o valor literário do livro, em uma resenha que escreveu em 1943 para o New York Herald Tribune. “O brilho de O Pequeno Príncipe irá incidir lateralmente sobre as crianças. Ele as tocará em algum lugar que não é a mente e brilhará até que chegue o tempo em que elas o compreenderão”, escreveu. Pois é, as misses compreenderam.
Muitos literatos norte-americanos e franceses chamaram a atenção para o fato de, apesar das delicadas aquarelas feitas pelo próprio autor, o livro não ser realmente para crianças, porque, ora vejam só, “é complexo demais”. Houve quem enxergasse nele uma alegoria para a guerra que destroçava a Europa, um dos temas caros a Saint-Exupéry, ao lado da aviação. Ele escreveu a história quando estava exilado nos EUA. O amor incondicional do príncipe pela rosa seria inspirado na tortuosa relação entre o autor e sua esposa, Consuelo. Na edição alemã, de 1949, o filósofo Martin Heidegger (1889-1976) o avalizou como seu “livro favorito”. Alguns críticos encontraram paralelo entre O Pequeno Príncipe e o existencialismo, sobretudo O Estrangeiro, de Albert Camus (1913-1960).
Invenção masculina, o mito da beleza como sinônimo de falta de inteligência atinge diretamente a mulher –com o homem, o machismo costuma lançar suspeitas sobre a masculinidade do guapo, o que não é menos grave. Quem sabe a má fama de O Pequeno Príncipe no Brasil como “literatura menor” também não esteja relacionada ao preconceito, por ter sido catapultado por um homem bonito?
Com a mulher, no entanto, esta noção da “bonita e burra” é mais nocivo, porque questiona sua capacidade profissional e embute a ideia da mulher-objeto, sem pensamento ou personalidade e com inferioridade cognitiva. Concursos de beleza não ajudam muito a colocar em xeque estes estereótipos, é verdade, mas neste caso ficou patente que houve uma injustiça dupla. Julgar os outros pelas aparências não é bem um sinal de sagacidade. “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”, diria a loiríssima miss Santa Catarina, soltando um beijinho sobre o ombro.
Um efeito perverso desta implicância é que as misses –desastre!– já não leem mais O Pequeno Príncipe. Quando entrevistadas, preferem citar a Bíblia ou algum best-seller do momento. Ou seria esta outra lenda machista?
Fonte: Socialista Morena