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Encontro no planalto central – Gazeta do Povo
1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, sediada na capital do país, destaca produção literária da África e da América Latina
Até a semana passada, o nigeriano Wole Soyinka figurava entre os autores inéditos no Brasil. Primeiro negro a receber o prêmio Nobel de Literatura, em 1986, talvez continuasse desconhecido entre nós se não fosse, ao lado de Ziraldo, o grande homenageado da 1.ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, evento que termina depois de amanhã, em Brasília. Com quase 50 anos de atraso, a obra de Soyinka O Leão e a Joia acaba de ser publicada aqui, pela Geração Editorial. O mesmo selo, fundado pelo coordenador literário da Bienal, Luiz Fernando Emediato, também se ocupou de relançar obras esgotadas das prateleiras nacionais, como Morango e Chocolate, do cubano Senel Paz, e Luna Caliente, do argentino Mempo Giardinelli, ambos convidados do evento.
“A literatura produzida na África e nos países hispano-americanos foram os dois eixos desta Bienal. A primeira, por ser quase totalmente desconhecida dos brasileiros. A segunda, porque já foi muito popular entre nós durante o chamado boom latino, mas depois perdeu espaço para a literatura em língua inglesa”, explica Emediato, que prezou por uma programação independente, alheia aos interesses do mercado. “Aqui não vai ter padre lançando livro”, garantiu, em tom de provocação.
Estante
Confira alguns títulos dos convidados da Bienal Brasil do Livro e da Leitura disponíveis nas livrarias:
• Amor Que Serena Termina?
Juan Gelman
Tradução Eric Nepomuceno. Record, 2001. 159 págs., R$ 31. Poesia.
• Os Escravos
Kangni Alem
Tradução de Laura Alves e Aurélio Barroso Rebello. Editora Pallas, 2011. 258 págs., R$ 38. Romance.
• O Leão e a Joia
Wole Soyinka
Tradução de William Lagos. Geração Editorial, 2012. 168 págs., R$ 24,90. Teatro.
• Pássaros na Boca
Samanta Schweblin
Tradução de Joca Reiners Terron. Editora Benvirá, 2012. 224 págs., R$ 29,90. Ficção.
• Livro de Receitas para Mulheres Tristes
Héctor Abad
Tradução de Sérgio Molina e Rubia Prates Goldoni. Companhia das Letras, 2012. 144 págs., R$ 32.
Mesmo sem a presença de Abdulai Silá – escritor da Guiné-Bissau que cancelou viagem após o golpe de estado ocorrido em seu país no último dia 12 –, os encontros do seminário Literatura Africana Contemporânea suscitaram debates interessantes. O togolês Kangni Alem, autor do romance Os Escravos, apontou a identidade, o encontro entre civilizações e os efeitos da colonização sobre os povos como os grandes temas da literatura atual no continente. Sobre a produção de Moçambique, Angola e Cabo Verde, o angolano radicado no Brasil, Ondjaki (psedônimo do escritor Ndalu de Almeida), afirmou: “somos países africanos de língua portuguesa, não de expressão portuguesa”. Paulina Chiziane, primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, disse que apesar da distância entre o Brasil e seu país, o colonizador é o mesmo e certas correntes de pensamento que formam a identidade de ambos os povos são comuns. “Hoje, nossa literatura significa uma negociação dessas identidades”.
Hispânicos
Sob a coordenação do jornalista e tradutor Eric Nepomuceno, a Jornada Literária da América Hispânica trouxe nomes expressivos do continente, como o mexicano Mario Bellatin, o chileno Antonio Skármeta – autor de O Carteiro e o Poeta – e o argentino Juan Gelman, considerado o maior poeta vivo de língua espanhola. O autor emocionou o público com a leitura dos poemas da antologia Amor Que Serena Termina?, lançada em edição bilíngue. Ao ler sua tradução daqueles versos, Nepomuceno relevou que recorreu a um amigo músico para revisar o trabalho: ninguém menos que Chico Buarque.
No encontro Duas Gerações Argentinas, Mempo Giardinelli e a jovem escritora Samanta Schweblin, apontada como revelação em seu país, falaram sobre a necessidade de cometer “parricídios literários” para defender sua existência após os cânones. “Sou de uma geração que veio depois do século de ouro da literatura argentina. Hoje, os novos autores não precisam lidar com o peso de suceder a Bioy Casares e Jorge Luis Borges”, disse Giardinelli, cujo romance Luna Caliente virou minissérie na tevê Globo em 1999. Samanta concordou com a afirmação, ironizando: “na verdade não sobraram muitos autores por matar”, em referência ao genocídio perpetrado pela ditadura argentina. Vencedora do prêmio Casa de las Américas de 2008, a jovem de 33 anos se confessa parte do que chama de geração A: apolíticos, ateus e adogmáticos. Porém, diz notar menos isolamento entre os novos contistas, talvez por terem surgido conjuntamente, em antologias literárias. Perguntada se ainda há espaço para as utopias que inspiraram os jovens latino-americanos décadas anteriores, ela diz acreditar nas utopias pessoais.”Uma delas é poder ler autores dos países vizinhos quase em tempo real, enquanto estão escrevendo. Antes, levava-se 10 anos para um livro argentino chegar ao Chile”, exemplifica Samanta, depois de contar que acaba de ler Mãos de Cavalo, do gaúcho Daniel Galera, editado em espanhol.
Por Gazeta do Povo
Resistência africana – Correio Braziliense
Por Felipe Moraes / Nahima Maciel / Correio Braziliense
Soyinka defende o questionamento de valores externos na cultura africana |
O Nobel de Literatura Wole Soyinka terá sua primeira obra lançada no Brasil durante a Bienal. Zuenir Ventura e Affonso Romano de Sant%u2019Anna também são destaques hoje
O homenageado da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura tem no teatro um aliado. Como em muitos países africanos durante anos, na Nigéria o teatro popular é um meio mais acessível de representação da vida e da ficção do que o romance. Um pouco por isso, a lista de livros de Wole Soyinka inclua muitas peças. São 21 no total. Na maioria, textos que tratam da realidade africana em forma da fantasias, como a história de O leão e a joia, primeira obra do autor traduzida para o português e com lançamento marcado para hoje na Bienal.
Na peça, uma mocinha é disputada pelo velho líder de uma tribo Iorubá e por um jovem professor ocidentalizado. Sidi, a bela e egoísta moça, deve escolher entre a tradição e o progresso representados pelos dois personagens masculinos. Dividida em três partes correspondentes a manhã, tarde e noite de um domingo, a peça traz inúmeras referências iorubás, cultura que marca boa parte da obra de Soyinka e que, muitas vezes, dificulta sua tradução e leitura. Primeiro autor negro a ser laureado com o Prêmio Nobel, em 1986, Soyinka, 78 anos, é uma voz politicamente engajada e extremamente lúcida em uma África habitada por profundas problemáticas sociais.
Ativista, lutou pela independência da Nigéria e contra governos militares. A liberdade da criação artística sempre esteve entre suas reivindicações. Os conflitos entre tradição e progresso aparecem com frequência em suas peças, mas não há uma crítica anticolonialista declarada na postura do autor. Soyinka, claro, não tem bons olhos para o domínio exercido pelo Norte na África Negra, porém, quando escreve, tende a investir em situações que procurem caminhos nos quais as culturas locais e os hábitos coloniais se adaptem um ao outro.
Honestidade e questionamento dos valores ocidentais, ele defende, são as únicas maneiras de preservar a tradição. Para falar da África, ele diz, a literatura precisa ser verdadeira. “Recuperando a história, contestando valores externos que se tem da África , sendo genuinamente fiel ao dar ao mundo um ponto de vista africano”, disse o autor ao Correio, em entrevista publicada em março. Antes da palestra no Auditório do Museu Nacional, às 19h30, Soyinka vai autografar O leão e a joia no estande da Geração Editorial.
Autor da Geração com destaque no O Globo
Wole Soynka fala sobre os desafios da tolerância religiosa
Principal convidado internacional da primeira edição da Bienal Brasil do Livro e Leitura, o dramaturgo nigeriano Wole Soyinka, ganhador do Nobel em 1986, encerrou o primeiro dia do evento, no sábado, com um discurso sobre a tolerância religiosa. Conhecido por mesclar em sua obra elementos tradicionais africanos e formas contemporâneas, Soyinka discorreu sobre a sobrevivência da cultura iorubá nas Américas, sobretudo no Brasil.
Soyinka elogiou a atuação de intelectuais brasileiros na difusão e defesa da cultura negra no país, como Abdias do Nascimento (a quem chamou de “meu irmão mais velho”) e Antonio Olinto (que viveu na Nigéria nos anos 60, onde Soyinka o conheceu). Lembrando as estratégias desenvolvidas pelos escravos para continuar cultuando os orixás mesmo quando proibidos por senhores de terra católicos, o dramaturgo definiu o Brasil como “um experimento único” em termos de religiosidade.
– No Brasil, o culto às divindades africanas encontrou meios de conviver com o catolicismo, uma das religiões mais antigas e dogmáticas do mundo – observou Soyinka, que diversas vezes ressaltou a diferença entre espiritualidade e religião. – O dogma da religião pode impedir os indivíduos de buscar a espiritualidade em seus próprios termos.
Soyinka defendeu que o “espírito ecumênico” da cultura iorubá, que permitiu sua sobrevivência nas Américas, pode ser uma inspiração para os conflitos atuais entre radicalismos religiosos, tanto cristãos quanto islâmicos. E afirmou que mesmo a tolerância tem seus riscos:
– Há momentos em que a tolerância é muito mais perniciosa que a intolerância. Tolerar, especialmente através da racionalização, qualquer condição que brutalize ou desmereça nossa humanidade, muitas vezes de maneira cruel, é aceitar a diminuição de nossa humanidade – disse Soyinka, que teve sua primeira obra traduzida para o português, a peça “O leão e a joia”, lançada pela Geração Editorial durante o evento.