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Sexo, drogas e mentiras: a saga de J.T. Leroy – destaque na Folha SP
POR Andre Barcinski – Folha de S. Paulo
E o “verdadeiro” J.T. Leroy finalmente chegou ao Brasil.
Nesse fim de semana, Laura Albert, a autora dos livros assinados com o pseudônimo J.T. Leroy e que por anos enganou meio mundo, incluindo celebridades como Madonna e Lou Reed, esteve em Brasília para a Bienal do Livro. Albert irá também ao Rio, onde verá uma peça inspirada em seu personagem (veja matéria que publiquei na Folha aqui).
Para quem não conhece a história de J.T. Leroy, aqui vai um resumo de um dos maiores escândalos literários dos últimos tempos:
Por dez anos, J.T. Leroy, um adolescente travestido e viciado em drogas, cuja mãe o forçara a se prostituir em paradas de caminhoneiros, fez sucesso com relatos crus e pesados sobre sua vida.
Seu primeiro romance, “Sarah” (1999), recebeu ótimas críticas e caiu no gosto de celebridades. Courtney Love declarou seu amor pelo livro. Shirley Manson, da banda Garbage, fez uma música para J.T., “Cherry Lips”. Wynona Ryder e Mattew Modine participaram de leituras públicas do livro. Gus Van Sant encomendou a J.T. um roteiro, “Elefante”.
O segundo livro de J.T., “The Heart is Deceitful Above all Things” (no Brasil, “Maldito Coração”), virou um filme, dirigido por Asia Argento e com participações de Peter Fonda, Ben Foster e Wynona Ryder.
Em 2006, a bomba: J.T. Leroy não existia. Ou melhor: existia só como obra de ficção, saída da cabeça de Laura Albert, uma operadora de telessexo, cantora de punk rock e escritora de pouco sucesso, que não só inventou o personagem como passou a “interpretá-lo” em conversas telefônicas, mantidas com várias pessoas ao longo de anos.
Quando a demanda por aparições públicas de J.T. cresceu, Albert convenceu a jovem Savannah Knoop, irmã de seu namorado, a usar uma peruca e encarnar o adolescente escritor. O autor-fantasma ganhou um rosto. A própria Laura costumava acompanhar Savannah a eventos, fingindo-se de uma “assessora” de J.T..
Depois que jornais descobriram que J.T. Leroy era uma farsa, a vida de Laura Albert entrou em parafuso. Ela brigou com Savannah e se separou do companheiro de muitos anos, Geoffrey Knoop, um músico com quem tinha um filho e que também teve participação ativa na criação de J.T. Leroy.
Agora, Laura Albert está relançando no Brasil, pela Geração Editorial, seus dois primeiros livros, “Sarah” e “Maldito Coração”, pela primeira vez com seu próprio nome.
Falei com Laura Albert pelo telefone. Aqui vai o papo:
– Como você se sente finalmente lançando os livros sob seu nome, e não de J.T. Leroy?
– Estou muito ansiosa. O Brasil é o primeiro lugar onde vou falar sobre os livros. Espero que as pessoas vejam os livros pelo que eles são, e não pelo que a mídia os tornou. Recebo muitas cartas do Brasil, de pessoas que se emocionaram e foram tocadas por meus livros. Minha maior esperança é que as pessoas agora avaliem os livros pela qualidade do texto, e não pelo escândalo que eles causaram.
– Sim, mas foi você mesma que causou o escândalo, ao inventar o personagem e fingir que ele existia de verdade.
– Mas eu sempre disse que os livros eram obras de ficção. J.T. foi só uma voz que eu inventei.
– Claro, muita gente já escreveu com pseudônimos, isso é normal. Mas o que você fez foi diferente, não?
– J.T. não foi uma farsa. Prefiro vê-lo como um véu, um disfarce que usei para poder falar de coisas que me atormentavam e que eu não conseguia pôr no papel enquanto Laura Albert. É como dizia Oscar Wilde: “Dê ao homem uma máscara, e ele lhe dirá a verdade”.
– Por anos, você falou ao telefone como se fosse J.T., inclusive mantendo amizades longas com muitas pessoas que admiravam os livros. Você acha que sofre de dupla personalidade?
– Acho que meu caso transcende a dupla personalidade. Foi um novo tipo de desordem, que não consigo definir. Desde pequena eu uso a mentira como um escudo, uma defesa. Era uma maneira de eu me proteger contra as coisas que me magoavam. Eu costumava ligar para serviços de apoio psiquiátrico e inventava personagens, dizia ser um rapaz do sul (dos Estados Unidos), ou uma junkie…
– E você inventava vozes para cada um desses personagens?
– Sim, sempre tive facilidade para isso. Mas uma coisa que preciso deixar bem claro é que as histórias que coloquei nos livros de J.T. são verdadeiras, são coisas que presenciei ou que ouvi falar durante minhas internações (Laura diz ter sido internada incontáveis vezes, desde a adolescência, em clínicas psiquiátricas).
– J.T. já veio ao Brasil (em 2005). Você não veio?
– Não. J.T. (ela quer dizer Savannah Knoop) foi. Eu fiquei arrasada, queria muito ter ido.
– Você não sentia que estava enganando as pessoas quando falava com elas ao telefone, interpretando J.T.?
– Nunca. Eu realmente era J.T. Era como se eu falasse por ele.
– É verdade que algumas pessoas já sabiam que você era J.T. bem antes do caso ser descoberto?
– Sim. Billy Corgan sabia, por exemplo. Ele mantinha amizade tanto comigo, enquanto assessora de J.T., quanto com o próprio J.T…
– Você está dizendo que conversava pessoalmente com Corgan, no papel da “assessora”, e por telefone, interpretando J.T.?
– Sim. Mas eu logo contei a Billy a verdade. Ele foi a pessoa mais doce e compreensiva que já conheci. Um anjo. Ele entendeu a situação de cara e não se magoou. Pelo contrário. Ele também vem de uma situação familiar complicada e disse que me entendia perfeitamente. É um dos meus melhores amigos e me deu muita força.
– Como está seu relacionamento com Savannah?
– Nós éramos muito próximas, mas a situação toda nos separou. Sabe, foi muito difícil para Savannah. Num dia ela estava no tapete vermelho em Cannes, ao lado de Angelina Jolie, e no outro estava trabalhando de garçonete. Não é qualquer um que suporta isso. Ela pirou. Savannah realmente se ligou ao perasonagem. Ela até mudou fisicamente, parou de menstruar, seus seios diminuíram…
– Você foi muito ligada à cena punk californiana, não?
– Sim, muito. Tive várias bandas, conheço todo mundo. (no dia seguinte, Laura me manda esta foto, em que aparece, à direita, ao lado de Jello Biafra, Henry Rollins e Penelope Houston, da banda The Avengers):
– Quais seus planos para o futuro? Pretende sepultar de vez J.T. Leroy?
– Estou trabalhando com Jeff Feurzeig (diretor de um ótimo filme sobre o perturbado músico Daniel Johnston) em um documentário sobre J.T.. Quero contar tudo: minha infância, as muitas internações por que passei em clínicas, minha história no punk rock. Quero passar essa história a limpo.
O Leão e a Joia ganha crítica positiva no Estadão
Comediante e cultura africana inspiram peça de Soyinka
O LEÃO E A JOIA
Autor: Wole Soyinka
Tradução: William Lagos
Editora: Geração
(152 págs., R$ 24,90)
UBIRATAN BRASIL
O nigeriano Wole Soyinka inspirou-se em uma particularidade da vida de Charles Chaplin para criar a trama de sua peça O Leão e a Joia, lançada agora pela Geração Editorial, aproveitando sua vinda para a 1.ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que termina na segunda-feira, em Brasília. “Chaplin estava com 54 anos quando se casou com Oona, que tinha apenas 17. Os problemas e as soluções provocadas por essa enorme diferença foram meu ponto de partida”, disse Soyinka, prêmio Nobel de literatura de 1986.
O Leão e a Joia é uma fábula sobre uma bela jovem, Sidi, a joia, que recebe propostas de casamento, entre elas a do chefe da aldeia, o leão. Ela tem o poder da escolha e, a partir do confronto dos pretendentes (há, ainda, um jovem professor primário, que apenas valoriza os saberes ocidentais), Soyinka aproveita para exercer o seu principal interesse literário: defender a cultura iorubá.
Na peça, ele busca retratar criticamente o período pós-colonialismo, em que muitos países africanos mantiveram os comportamentos dos antigos opressores. O fato de Sidi ter o direito de eleger seu marido e de não aceitar um papel passivo no harém do chefe da tribo reflete a evolução feminina que, embora lenta, contribui para mudanças estruturais no continente.
Em Brasília, Soyinka instigou a plateia a pensar na intolerância gerada pelas religiões; a peça, encenada pela primeira vez em 1959, perpassa pelo mesmo assunto, sempre em busca de um processo de modernização produtivo e nada predatório.