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O julgamento do “mensalão”, a farsa e os farsantes
por Bob Fernandes
[youtube=http://youtu.be/nSYDYNNsgjM]
Há quem diga ser uma farsa o julgamento do chamado “mensalão”. Não, o julgamento não é uma farsa. É fruto de fatos. Ou era mesada, o tal “mensalão”, ou era caixa dois; essa que (quase) todo mundo faz e usa. Mas não há como dizer que há uma farsa. E quem fez, que pague o que fez. A farsa existe, mas não está nestes fatos.
Farsa é, 14 anos depois, admitir a compra de votos para se aprovar a reeleição em 98 -Fernando Henrique Cardoso-, mas dizer que não sabe quem comprou. Isso enquanto aponta o dedo e o verbo para as compras que agora estão em julgamento. A compra de votos existiu em 97. Mas não deu em CPI, não deu em nada.
Farsa é fazer de conta que em 1998 não existiram as fitas e os fatos da privatização da Telebras. É fazer de conta que a cúpula do governo de então não foi gravada em tramoias e conversas escandalosas num negócio de R$ 22 bilhões. Aquilo derrubou um pedaço do governo tucano. Mas não deu em CPI. Ninguém foi preso. Deu em nada.
Farsa é esquecer que nos anos PC Farias se falava em corrupção na casa do bilhão. Isso no governo Collor; eleito, nos lembremos, com decisivo apoio da chamada “grande mídia”.
À época, a Polícia Federal indiciou mais de 400 empresas e 110 grandes empresários. A justiça e a mídia deixaram pra lá o inquérito de 100 mil páginas, com os corruptos e os corruptores. Tudo prescreveu. Fora PC Farias, ninguém pagou. Isso, aquilo, foi uma farsa.
Farsa foi, é, o silêncio estrondoso diante do livro “A Privataria Tucana”. Livro que, em 115 páginas de documentos de uma CPI e de investigação em paraísos fiscais, expõe bastidores da privatização da telefonia. Farsa é buscar desqualificar o autor e fazer de conta que os documentos não existem ou “são velhos”. Como se novas fossem as denúncias agora repisadas nas manchetes na busca de condenações a qualquer custo.
Farsa é continuar se investigando os investigadores e se esquecer dos fatos que levaram à operação Satiagraha. Operação desmontada a partir da farsa de uma fita que não existiu. Fita fantasma que numa ponta tinha Demóstenes Torres e a turma do Cachoeira. E que, na outra ponta da conversa que ninguém ouviu, teve (ou melhor, teria tido), o ministro Gilmar Mendes.
Farsa é, anos depois de enterrada a Satiagraha, o silêncio em relação a 550 milhões de dólares. Sim, por não terem origem comprovada, US$ 550 milhões continuam retidos pelos governos dos EUA e da Inglaterra. E o que se ouve, se lê ou se investiga? Nada. Tudo segue enterrado. Em silêncio.
O julgamento do chamado “mensalão” não é uma farsa. Farsa é, isso sim, isolá-lo desses outros fatos todos e torná-lo único. Farsa é politizá-lo ainda mais. Farsesco é magnificá-lo, chamá-lo de “o maior julgamento da história do Brasil”.
Farsa não porque esse não seja o maior julgamento da história. Farsa porque se esquecem de dizer que esse é o “maior” porque NÃO EXISTIRAM outros julgamentos na história do Brasil em relação a todos estes casos e tantos outros. Por isso, esse é o “maior”.
Existiram, isso sempre e a cada escândalo, alianças ideológicas e empresariais na luta pelo poder. Farsa, porque ao final prevaleceu sempre, até que visse o “mensalão”, o estrondoso silêncio cúmplice.
Fonte: Terra Magazine
Amaury Ribeiro Jr. participa amanhã de seminário sobre censura
O repórter Amaury Ribeiro Jr., autor de A privataria tucana, participa amanhã (04), às 10h, do debate Literatura Interditada, que será realizado no Centro Cultural Marques de Melo. O debate integra o seminário A Censura em Debate, organizado pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura da USP.
Confira a programação completa aqui.
Carlos Marques lança "Lá sou amigo do rei" hoje, em Fortaleza
A Geração Editorial e a Universidade de Fortaleza convidam para o lançamento do livro Lá sou amigo do rei, memórias do repórter furão Carlos Marques, que vivenciou alguns dos acontecimentos e conheceu algumas das personalidades mais marcantes do século XX no Brasil e no mundo. Foi amigo de personalidades como Salvador Dalí, Jean Genet, Pelé, Fidel Castro, Krishnamurti, João Paulo II, Dilma Rousseff, entre muitas outras.
O evento acontece hoje, a partir das 19h (Auditório da Biblioteca da Unifor – Av. Washington Soares, 1321). Na ocasião haverá apresentação do compositor e violonista Nonato Luiz, amigo de longa data do escritor. Compareça!