15 dicas para estimular crianças a ler mais
Como convencer os pequenos a largar joguinhos e a TV e abrir um livro.
Estudos comprovam que a ler ajuda a desenvolver o cérebro, ter melhor desempenho acadêmico e até mesmo a criar uma sociedade mais igualitária. Estimular crianças a tomar gosto pelos livros é uma missão importante de pais e educadores.
O professor Júlio César Michelato, coordenador de português do ensino fundamental do colégio Objetivo, afirma que a leitura extraclasse gera resultados em sala de aula. “Há uma diferença enorme na produção dos alunos que leem em relação aos que não costumam pegar em livros – os que leem têm uma bagagem maior, sabem reivindicar, argumentar com mais propriedade.”
Como convencer os pequenos a largar joguinhos e a TV para abrir um livro? Apesar da leitura ser uma atividade divertida e que pode ajudaradultos e crianças a criar laços afetivos, muitas vezes é difícil criar esse hábito. Por isso, reunimos algumas dicas de como estimular os pequenos (ou nem tanto) a ler mais. As férias escolares podem ser uma boa oportunidade para colocá-las em prática!
Ainda que seja um consenso dizer que é importante ler, 70% dos brasileiros adultos não leram nenhum livro em 2014, segundo uma pesquisa da Fecomercio-RJ. Como a leitura é um ato cultural, é importante que os adultos desenvolvam esse hábito para que a criança também aprenda a desenvolver. “A partir do momento que você está em casa engatinhando, você vê o seu pais lendo um jornal, um livro, uma revista, aquilo automaticamente passa a fazer parte da sua vida”, diz o Michelato.
85% dos brasileiros gostam de assistir a televisão durante o tempo livre, enquanto só 28% da população escolhe a leitura, segundo o estudo Retratos da Leitura no Brasil. O problema é que com o eletrodoméstico ligado fica difícil conseguir ler. “A TV desligada também gera um espaço vazio físico e psíquico para a leitura. Especialmente se o adulto também for ler naquele momento”, afirma a professora doutora Beth Cardoso do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP.
Use momentos em família para atualizar a leitura. Você com seus livros, as crianças com os delas e conversem sobre o tema. “Além de ser importante ser um exemplo, é bacana mostrar para a criança o que está lendo. Não que ela deva ler aquele livro, mas é interessante mostrar as opções que existem de leitura”, afirma a professora Samantha Ishikawa, do Colégio Santa Maria de São Paulo.
Dá até para pensar em uma espécie de clube do livro, em que vocês escolhem um título e compartilham as impressões depois. Não tenha medo de dizer que não gostou de um livro e as razões para isso. Assim, a criança pode compreender que existem diferentes tipos de obras e que é possível deixar uma obra de lado e começar outra.
Também é bom para oferecer diferentes tipos de texto. Apesar de gerar certa insegurança, não há problema em deixar que crianças leiam conteúdo destinado a diferentes faixas etárias. “Muitas vezes, pais estranham o interesse dos filhos em enciclopédias ou livros de receitas, mas são tipos de texto que podem gerar muito conhecimento para a criança”, afirma Samantha.
Especialmente entre as crianças mais velhas, os pais podem ter preconceitos com os gostos literários dos filhos, que tendem a se interessar por um único gênero. Estimule a leitura desses títulos, mas tente oferecer também outras opções. Leitura demais não machuca. “O fundamental é ter contato com a leitura”, afirma a professora do Santa Maria. Na hora de oferecer novos títulos, é importante conhecer a criança. Observe-a, investigue seus interesses. Acertar na hora de indicar um livro pode garantir que o pequeno se apaixone pela leitura.
É importante cultivar a relação com livros mesmo antes da alfabetização. Com crianças pequenas, é legal explorar a leitura de imagens ou deixar que o livro seja usado como um objeto para brincadeira. A escritora Lygia Bojunga gostava de contar que antes de aprender a ler brincava de casinha dentro dos livros, que usava como tijolos e paredes. “Isso é importante para criar intimidade com o objeto”, afirma Beth.
No entanto, é preciso tomar cuidado para não dramatizar, caso algum título fique avariado. “Ensine o respeito pelos livros, mas não os deixe encastelados. Não tem motivo para fazer drama por livros rasgados ou riscados”, diz Beth.
Não tem necessidade de cobrar que a criança termine um livro por dia. Assim como os adultos, as crianças podem ler aos poucos. Outra preocupação é não forçar para que a criança leia tudo sozinha. É possível alternar a leitura para que seja um processo mais prazeroso, mas tome cuidado para evitar um tom professoral e não ficar bombardeando a criança de perguntas como “entendeu?”. Por vezes, a leitura é apenas um momento de deixar a criatividade rolar solta.
Procure frequentar a programação de livrarias, bibliotecas, bienais efeiras do livro da região. Em geral, é possível aproveitar a programação relacionada a leitura, como encontros com autores, debates e cotações de histórias. Nas bibliotecas, também é possível começar a compreender obrigações e responsabilidades.
Crie um ambiente confortável que estimule a leitura, no qual a criança tenha acesso aos livros sempre que quiser, com iluminação adequada. Podem ser títulos emprestados em bibliotecas ou um pequeno acervo próprio. O importante é estarem à mão para estimular a leitura.
Crianças fantasiam muito sobre quem é o autor dos livros. Quando descobrem mais sobre a vida dele, podem se interessar em ler sua obra. Se o pequeno gostou de algum livro, dá para investir em oferecer outros títulos do mesmo escritor. Outra sugestão é procurar blogs e canais de contato com os leitores que muitos autores mantêm. Eles, em geral, respondem mensagens e podem criar ainda mais interesse na leitura.
Muitas vezes as crianças não entendem o porquê da leitura. Explorar a época em que o livro foi escrito ou o tempo que ela descreve pode gerar interesse. “Quanto mais informações você tiver sobre o livro, mais a criança fica interessada na historia” , afirma Samantha.
Associe a leitura a passeios. Se o livro fala de animais, que tal ir aozoológico? Se ele fala do Universo, que tal ir ao planetário ou observar as estrelas do quintal? Filmes e peças de teatro também são bons métodos para gerar interesse nos livros em que foram baseados e vice versa. Textos teatrais também são opções bacanas. De leitura mais direta, agradam e podem ensinar muito.
Criar uma biblioteca virtual (seja no tablet ou no computador) também pode ser outra forma de estimular a leitura. Para algumas crianças, a leitura pode ser até mais rápida por conta das cores e luminosidade. “Mas o interessante é também não ficar só no digital. É bacana não ficar em uma única ferramenta”, diz Samantha.
Muitos sites de editoras (ou e-books mais incrementados) disponibilizam atividades lúdicas sobre os títulos. O que pode ampliar as atividades e o interesse pela leitura. O professor Julio Michelato também indica procurar canais do Youtube sobre literatura. “A linguagem jovem pode estimular outros a se interessar e ler mais”, afirma.
Se tudo isso for feito, não tem risco. Mas é importante tomar cuidado para não fazer que a leitura seja mais uma incumbência. Ler livros deve ser divertido para as crianças para que se torne um hábito para a vida toda.
Fonte: Revista Época