A inclusão realmente inclui?
POR JERONIMO MOLINA
Acreditamos que incluir é melhor que excluir. Mas as escolas convencionais incluem os alunos especiais? Ou será que nos enganamos que estes alunos especiais realmente aprendem algo?
A pouco tempo atrás se iniciou nas escolas convencionais brasileiras um movimento para a inclusão social. Esse movimento é legítimo e trás diversos benefícios para a sociedade como um todo, visto que inclui no caráter de população economicamente ativa pessoas com deficiências físicas.
Graças a tal inclusão faz com que hoje venhamos a ter em quase a totalidade da frota de ônibus coletivos em grande cidades acessibilidade: elevador para cadeirantes, espaço reservado para cegos, bancos com braço removível para pessoas com obesidade e acesso facilitado para idosos. Também vimos uma crescente nas vagas para este tipo de profissional, que dispõe de algumas limitações, mas pode desempenhar diversos papéis dentro das companhias de forma igual a qualquer profissional sem limitação alguma.
De toda forma ainda existem em nossa sociedade diversas pessoas – especialmente crianças – que dispõem de limitações cognitivas, de ordem psicológica ou mental. Essas pessoas devem ser aceitas pela sociedade como indivíduos e ter seus direitos preservados e defendidos. Porém tais pessoas necessitam de atenção diferenciada por parte dos pais, familiares, educadores, e da sociedade como um todo. De toda forma – assim como tudo na esfera pública – algumas tendências acabam se tornando regra, e sem a devida compreensão por parte dos gestores públicos. Isso aconteceu com a ideia de inclusão social.
Para a esfera pública, incluir socialmente é colocar tais indivíduos em contato direto com a sociedade, por meio da interação com esta. Nem sempre tais limitações permitem tal contato, e estes indivíduos acabam sendo marginalizados, rotulados, e se tornam um “fardo” para muitas instituições, que não sabem lidar de forma diferenciada para alguns no meio de tantos outros não que precisam diferenças.
A consequência de tal política pública acaba recaindo sobre a escola convencional. Hoje existem milhares de alunos com algum tipo de deficiência (visual, auditiva, cognitiva, psicológica ou mental) estudando nas escolas convencionais, muitas vezes com educadores sem o devido preparo para lidar com este tipo de aluno, e ainda pior, tendo que lidar com a turma inteira de alunos saudáveis ao mesmo tempo.
Essa inclusão às avessas simplesmente jogou dentro das escolas convencionais alunos que deveriam ser encaminhados para escolas especiais. Sem o devido preparo das salas de aula, sem o material adequado e sendo sub-atendido por profissionais não capacitados, este aluno especial acaba por vezes sendo “empurrado” séries a frente, sem em nada progredir em seu aprendizado. Dessa forma acabamos tornando alunos especiais isolados dentro do contexto escolar, ficando estes de lado até mesmo na sala de aula. Com isso não incluímos estes alunos especiais, estamos tornando os mesmos reféns de sua deficiência e marginalizando os mesmos.
Para boa parte dos educadores a inclusão é ilusória, porque frustra o educador, pois este não sabe como estimular tal aluno em sua deficiência. Assim o aprendizado fica deficitário. O resultado disso é que muitas vezes as escolas convencionais – obrigadas em sair da situação – acabam empurrando tais alunos especiais, sem o mínimo de progresso em sua aprendizagem. Não por culpa das escolas, mas por culpa do sistema implantado que dá a cargo de uma instituição sem estrutura necessária a responsabilidade de educar alunos especiais.
A ideia central de incluir alunos com deficiência tinha o intuito de promover ações para que a sociedade como um todo não rechace tal pessoa, defenda seus direitos e acione as instituições necessárias quando estes direitos forem vilipendiados. O que não ocorre, pois simplesmente tais alunos são largados nas escolas convencionais, e acabam tendo um rótulo para a vida toda, de ser tratado como um “estorvo”.
Como solução para esta situação deveriam ser criadas escolas especiais, de forma que tais alunos viessem a aprender e se desenvolver em suas limitações. Assim conseguiremos incluir de forma plena tais elementos na sociedade.
Também se faz necessária a modificação das leis, sendo o primeiro passo para implementar um programa que possa dar uma qualidade maior para estes alunos especiais, desafogando o já caótico ensino público, estimulando os educadores acompanhar o aprendizado das turmas de alunos sem limitações, deixando pais e familiares sabendo que o melhor esta sendo feito para aqueles alunos especiais. Isso geraria um ciclo virtuoso, e poderia, quem sabe, até mesmo levar tais indivíduos especiais ajudarem a sociedade, como no mercado de trabalho convencional, um dos grandes focos da inclusão social.
Fonte: Obvious