Poesia Mineirinha
A vida até a última gota – Por Jorge Ferreira
Da minha vida, digo eu
Pra começar:
Não tenho temor à morte,
Doloroso é perder a vida
E os gozos que ela me dá.
Me vejo menino com as suas façanhas.
Um cheiro impregnado no ar
Bicho, gente grande sem maquiagem.
Colerinha, canarinho, pintassilgo,
Meu pai, minha mãe e tio Mirinho.
Quando jovem tomei para mim
O destino humano.
Com meu pendor libertário
Quis salvar o mundo,
Ainda que ele não quisesse.
Virei um homem de causas,
De ensinança.
Furando o couro da realidade.
Tudo que diz respeito ao humano
Vida, criação, natureza,
Ausência do meu irmão,
Povo brasileiro.
Fez parte de minha ação.
Com o tempo, feito cobra
Adquiri outras peles.
Em cada uma delas
Me exerci sempre,
Igual a mim.
Não me arrependo.
Se me fosse dado
Outra vida a viver
Faria o mesmo retrilhar.
Voltaria com vagareza,
A passos contados.
Esporeando o tempo
Mão por mão,
Humanizar‑me‑ia ainda mais.
Sempre tive meus olhos,
E sentimentos
Para o profundo.
Mirei mais para o oceano
Que para a ilha.
Afinal, não vivemos
Para servir?