Poesias à flor da pele – Menção Honrosa
Parto – por Marina Moura
A poesia nasce pequenina frágil ágil
Vai crescendo entre meus órgãos dilacerados
Urra vagidos no cio da perpétua noite
Nasce escrava atrelada aos grilhões
das palavras apodrecidas no léu do esquecimento
Ela é o orgasmo que alucina
E o filho que trará o tormento esperado
Missão de quem botou de lado a própria vida para dar vazão a existência outra
Inspiro até ter todos meus pelos do corpo arrepiados
Sua presença, sua suor suado
Lado a lado num universo distante
Quantificado em instantes fragmentados
Sou estático sou elástico
Sou melhor na horizontal
Sou fanático
Atormentado multilado multiângulos
Meu desejo sonâmbulo
Visita-te à noite e devora-te
Perco o ar
E não me canso de me cansar na sua fúria
No seu desgosto, no seu tormento, ferida exposta
É o meu alento saber
Que você existe ainda que insistindo em não me querer
E me corto até sangrar sua presença daqui de dentro
Sem consolo ou decoro eu te quero
E espero até o fim prematuro
Tenho febre
Absurdo
Cego surdo
Arritmia
Coração atrofiado
A mutilação segue ao lado do meu peito atordoado
A carne incendeia
Espelho meus eus em tristes reflexos multifocais
E queimo e amo o dano e continuo nessa situação:
Falta de ação
Minha tristeza é quase mediúnica e não posso detê-la
– ela me consola, ela me sela, ela me some
Me repele a existência
Me mantém e repele – apela
É questão de vida e morte
“J’apporte la vie et la mort”
Prefiro o artigo definido, o que vive e faz sentido
Não se sujeitando à animosidade do tempo
Ao relento do descontentamento
A poesia habita
A poesia rasga
A poesia destronca
E finca suas hastes no império corpo
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Na coreografia dos amantes – por Fabiano Nunes
eu quero
algum apego
que me pegue
um sossego
que me leve
um amor
que cegue
eu quero
tua pele
teu olhar
de fera
tua atmosfera
eu quero
teu corpo
na coreografia
dos amantes
dos cadentes
dos poentes
das estrelas guias
eu quero
o sabor
das salivas
dos fascínios
das noites
que vão surgindo
eu quero
o perfume
das flores
dos incensos
dos amores
intensos
Sobre o autor:
Fabiano Nunes, 38 anos, jornalista. Já foi repórter dos jornais Agora São Paulo e Diário de São Paulo e atualmente trabalha como repórter do caderno Cidade do Jornal da Tarde.