De pai para filho: um diário póstumo sobre como crescer
Em ‘Um Diário Para Jordan’, soldado americano morto no Iraque em 2006 escreveu para recém-nascido mensagens emocionantes cuja preocupação era fazê-lo um homem de caráter
O primeiro-sargento americano Charles Monroe King, morto no Iraque em 14 de outubro de 2006, aos 48 anos, um mês antes de ser dispensado, não se encaixava no tipo comum de um homem que teve sua vida bruscamente interrompida por causa de uma guerra. King não foi forçado a ir para o combate. Fez isso por vontade própria. Sua esposa o descreveu como alguém com a mente voltada para a estratégia de guerra, mas que desenhava anjos.
King era um homem extraordinariamente disciplinado, acreditava que suar ao correr oito quilômetros por dia era a melhor maneira de curar uma gripe. Não comia pele de frango, não bebia mais que duas cervejas por noite e não se fartava dos doces que tanto amava, porque estava sempre controlando a dieta. Passava horas se exercitando para manter a forma. Começava seus dias no Iraque em uma academia às cinco horas da manhã. Dava seus desenhos para os soldados que respeitava, o que não o impedia de esgoelar quando, no treinamento, eles poderiam cometer erros que talvez custassem suas vidas.
Poderia ser apenas mais um anônimo a desaparecer na guerra não fosse a decisão de escrever um diário para seu filho, que resultou no comovente livro “Um Diário Para Jordan – Memórias de Amor e Perdas” (Geração, 288 pags, R$ 49,90). Na tensão interminável da guerra, ele se deu conta que havia um risco imenso e imediato: de não ver o filho crescer e não participar de sua educação, de torna-lo um homem decente e amante de seu país.
A partir de 2005, King anotou mais de 200 páginas, que sua mulher, a jornalista do “New York Times” Dana Canedy, transformou numa longa carta ao filho, com um retrato do pai que ele não conhecerá jamais. “O papai queria tanto que você o conhecesse que ele se revelou no diário de uma forma que dificilmente faria pessoalmente. Ele contou a você coisas sobre ele mesmo que eu nunca soube. Escreveu que queria conhecer a Grande Muralha da China e aprender a tocar violão.”
O que King faz foi um emocionante manual de boa conduta, construído de modo intenso, com lições comuns de auto-proteção e preservação, mas que ganham dramaticidade porque aparecem no contexto de um período trágico na vida de um homem que sabe do grande risco de morrer a qualquer momento. “O que faz com que um menino se torne homem? É quando ele chega à maturidade e compreende, inteiramente, quais as responsabilidades de um adulto. Eu quero dizer com isso que se trata de trabalhar, pagar contas e assumir tudo o que faz.”
E alertou: “O cavalheirismo não morreu. Um cavalheiro é alguém que trata uma mulher com respeito. São pequenas coisas como abrir portas, andar pelo lado de fora da calçada para protegê-la dos carros e ceder seu assento para pessoas mais velhas ou mulheres grávidas. Um cavalheiro dá exemplo de caráter, trata sua mulher como se ela fosse a criatura mais linda da terra. (…) Tente ser assim, ela o tratará como um rei”. Para ler, se emocionar e aprender.
Matéria extraída do Jornal Diário de S.Paulo, 13/03/2011: http://www2.diariosp.com.br/flip/2011/3/13/index.asp
Confira a versão on-line: http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/03/44121-de+pai+para+filho+um+diario+postumo+sobre+como+crescer.html
Mais sobre o livro: http://www.geracaobooks.com.br/loja/product_details.php?id=391