Crônica: Retrato em três histórias, por Sebastião Nery
Por Sebastião Nery
RIO
1. – Primeira história:
– “Paulo Pereira era então o já influente presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo quando um dia surgiu na sua porta um empresário que ele não conhecia e que se identificou como Benjamin Steinbruch, do grupo Vicunha – um dos donos da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional – Volta Redonda), já privatizada, cujo controle Steinbruch disputaria com outros investidores, entre eles o banqueiro e ministro José Eduardo de Andrade Vieira, do Bamerindus”.
“Steinbruch revelou a Paulinho que Vieira poderia estar “comprando” (com dinheiro) os sindicalistas que controlavam o Clube de Investimento dos Trabalhadores. Paulinho negou – de fato ele ignorava isso – e, sem nada pedir em troca, como sempre foi seu hábito, garantiu que os trabalhadores apoiariam o que considerassem a melhor proposta, que parece ter sido a de Steinbruch, pois ele ganhou o ambicionado controle”.
STEINBRUCH
2. – Segunda história:
“Anos depois Paulinho, candidato a prefeito de São Paulo, bateu à porta de Steinbruch e pediu apoio para a sua campanha, que não era competitiva, mas pelo menos o iniciava na política.
– Não tenho negócios na prefeitura de São Paulo, por que o ajudaria? – Mas eu também não vou ganhar, Benjamin. Só quero a sua ajuda oficial, dentro da lei, para fazer uma boa campanha.
– Eu já disse, Paulinho, não tenho motivos para lhe ajudar nesta campanha. Por que eu faria isso?
– Porque eu lhe dei a CSN, não foi o bastante? – cobrou Paulinho.
– Ah! Então é isso! Naquela época eu lhe daria isso e muito mais,, peão – redarguiu Steinbruch. Por que não pediu naquela época?
– Porque não era candidato, seu filho da puta!–resmungou Paulinho”.
CAIXA- 2
“É assim que funciona. Quando um empresário financia uma campanha eleitoral, ele tanto pode compartilhar o programa do partido daquele candidato – essa hipótese não está totalmente descartada – como terá em mente ter apoio do deputado ou senador para seus propósitos no Congresso ou alguma obra ou negócio no estado ou prefeitura”.
“Quando Sérgio Motta, coordenador da campanha de José Serra prefeito, em 1996, precisou de recursos urgentes para pagar outdoors, não foi em alguma empresa privada que o “trator” foi buscar recursos. Acionou a direção da estatal Telefônica de São Paulo, Telesp, quando o governador era outro tucano, Mário Covas, e esta se prontificou imediatamente”.
SERGIO MOTTA
3. – Terceira história:
-“Numa dessas noites, em que o presidente (Fernando Henrique) e seu ministro do Trabalho Paulo Paiva tomavam seu uísque no Alvorada com o presidente da Força Sindical, Luiz Antonio de Medeiros, o sindicalista histórico José Ibrahim e o ainda desconhecido Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que Medeiros faria seu sucessor, de repente surgiu – sem que tivesse sido convidado – o ministro das Comunicações Sérgio Motta.
– Como é possível, Fernando, vocês ai sem mim? – rugiu Serjão.
– Mas é que não queríamos você aqui – respondeu jocosamente.
– Mas é bom que você tenha chegado, Serjão – interrompeu Paulinho. – Ouvi dizer que você está comprando deputados para votar a favor da reforma da Previdência, mas vou colocar mil ônibus de trabalhadores na Esplanada para pressionar o Congresso.
– Economize seu dinheiro, rapaz – respondeu Motta – porque a votação está decidida. Já almocei com todo mundo.
Paulinho levou os ônibus, mas os sindicalistas foram derrotados.”
PALMÉRIO DÓRIA
Roubei essas três atualíssimas histórias do brilhante prefácio do jornalista Luiz Fernando Emediato, editor da “Geração Editorial”, para o livro O Príncipe da Privataria –A história secreta de como o Brasil perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique ganhou sua reeleição – do jornalista e escritor Palmério Dória, que está bombando nas listas dos mais vendidos, como já aconteceu com seu último livro Honoráveis Bandidos.
É preciso ler os dois livros: retratos do que os jovens gritam nas ruas.
Emediato faz hoje o que Enio Silveira fez na “Civilização”: edita a verdade.
Fonte: www.sebastiaonery.com.br