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 O prato que uniu Domitila e Pedro - Geração Editorial Geração Editorial

jul 18, 2013
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O prato que uniu Domitila e Pedro

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O prato que uniu Domitila e Pedro

Por Dias Lopes

Quase um século e meio depois de seu falecimento, a Marquesa de Santos (1797–1867) ainda provoca sentimentos ambivalentes nos conterrâneos paulistas. Para uns, Domitila de Castro Canto e Melo, que recebeu o titulo de nobreza por ser amante de d. Pedro I, foi uma mulher libertina e oportunista. Tomou banho pelada na praia com o fogoso imperador do Brasil e usou o relacionamento com ele para subir na vida e beneficiar a família inteira. Para outros, foi uma precursora da liberação sexual, que mandava na própria vida, ao contrário das contemporâneas submissas.

Na velhice, promoveu saraus literários e bailes de máscaras em seu palacete de São Paulo, na atual Rua Roberto Simonsen, onde fica o Museu da Cidade. Tornou-se dama caridosa, socorreu doentes e protegeu miseráveis.

Vários livros já trataram de sua biografia. O mais substancioso, porém, acaba de ser lançado pelo historiador Paulo Rezzutti. Intitula-se Domitila – a Verdadeira História da Marquesa de Santos (Geração Editorial, São Paulo, SP, 2013). Ela conheceu d. Pedro em São Paulo no ano em que o príncipe regente proclamou a Independência do Brasil. Estava separada do primeiro marido, que a esfaqueou por suposta infidelidade, e tinha já três filhos.

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Seu relacionamento com d. Pedro durou de 1822 a 1829. Resultou em outros cinco rebentos. O imperador, enviuvando da primeira mulher, d. Maria Leopoldina de Áustria, casou-se com d. Amélia de Leuchtenberg. Além de a união ter frustrado a amante oficial, que sonhava ser rainha consorte, foi o principal motivo da separação. Voltando para São Paulo, a Marquesa de Santos se casou em segundas núpcias com o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e foi morar no palacete da Rua Roberto Simonsen. Teve com o político e militar paulista outros seis filhos e, como nos contos de fada, viveu feliz para sempre.

Como mostram os móveis e os objetos domésticos expostos no Museu da Cidade de São Paulo, embora a Marquesa de Santos não se notabilizasse pela beleza (tinha o rosto fino e comprido e propensão a engordar, até porque também seria boa de garfo), era dama requintada. Segundo Paulo Rezzutti, no jantar que organizou por ocasião da formatura em direito (pela Faculdade do Largo de São Francisco) de um dos seus filhos com Tobias de Aguiar, em 1858, usou um valioso faqueiro com seu monograma encimado pela coroa de marquesa. Importado da França, todo em vermeil (prata de lei dourada), dava para 95 pessoas e pesava 22,9 kg, sem a caixa. A anfitriã ainda dispunha de lindas porcelanas inglesas e alemãs, de uma baixela completa em ouro e de um precioso serviço de cristal bacará azul-cobalto.

São escassas as pistas sobre os alimentos em sua mesa. Mas ajudam a reconstituir o que se comia em São Paulo no século 19. Segundo Paulo Rezzutti, na festa de seu primeiro casamento, com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça, em 1813, os convidados teriam saboreado carnes cozidas e assadas; e sobremesas como compota de figo, pamonha, bolinhos fritos, leite com farinha, canjica, além de doces de ovos portugueses e frutas da terra. Para beber, seguramente vinho português e a então famosa aguardente da Freguesia do Ó.

O historiador diz que era comum haver na mesa da época pratos de feijão, toucinho fresco, linguiça defumada, torresmo, carne de porco, couve e farinha. Coincidentemente, eram os ingredientes de uma das receitas emblemáticas da nossa cozinha popular: o virado à paulista. Não por acaso, alimentou d. Pedro I na viagem que fez a cavalo do Rio de Janeiro a São Paulo, quando proclamou a Independência do Brasil e se enamorou da Marquesa de Santos. Foi um dos pratos que uniu o casal? À mesa, é claro.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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