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 A sede do lucro - Geração Editorial Geração Editorial

out 19, 2012
Editora Leitura

A sede do lucro

Você conhece a cena, ao menos nos filmes: o norte-americano enche um copo de água de torneira e bebe tranquilo.
Dá uma inveja danada em nós, brasileiros, que temos água sobrando e consciência faltando.
Primeiro que, antes de chegar na torneira de nossa casa, a água potável passa por tubulações enferrujadas e cheias de sujeira e bactérias.
Segundo que não dá para confiar nem um pouco na gestão pública da água.
Agora mesmo, aqui em São Paulo, o Ministério Público está processando a Sabesp pelo absurdo dela despejar esgoto in natura nos rios e represas. Isso que se chama jogar merda no ventilador: ela antes joga cocô na água que tratará depois.
Com um detalhezinho que pouca gente sabe: a água suja pode virar limpa, menos em hormônios e antibióticos. Não há tecnologia no mundo que consiga retirar o resíduo de milhões de remédios e hormônios derivados do sangue dos absorventes femininos, aqueles saindo pelas torneirinhas orgânicas de fazer xixi e estes descartados nos vasos sanitários.
Dos vasos para os rios e dos rios para nossas torneirinhas metálicas.
A consequência disso lá nos pântanos da Inglaterra e Estados Unidos se conhece (aqui no Bananão as nossas otoridades garantem que não há perigo): peixes, répteis e insetos trocando de sexo, machos virando fêmeas pela água contaminada.
Tudo bem, dirá o esclarecido e abonado leitor, eu só bebo água mineral.
Ótimo, parabéns, você sabe se cuidar e se livrar do perigo.
Chato apenas é que essa sua garrafinha de água provavelmente foi enchida, de graça, em alguma fonte natural e pública.
Lá em São Lourenço uma multinacional suíça já secou dois poços. Lá em Cambuquira outra multi faz a mesma coisa. Se pesquisar (www.circuitodasaguas.org, por exemplo), vai ver que essa é a prática antiga dos “fabricantes” em quase todas estâncias de águas minerais.
Um negócio milionário e maquiavélico: afinal quem fabrica a água é a natureza, basta engarrafar e vender.
Mas nem sempre se retira a água para comercializar: as vezes joga-se a água fora e tira-se apenas o gás carbônico das fontes.
E não estamos falando dos engarrafadores de fundo de quintal, que utilizam água de torneira mesmo.
É briga de cachorro grande capitalista que, fora do Brasil, vira um poodle obediente as leis do meio-ambiente.
Só existe um lugar onde os capatazes da escravidão das águas são uns anjinhos protetores ecológicos: na propaganda. Na vida real, eles mostram a face verdadeira de predadores, com plena conveniência dos governantes de ontem e de hoje.
Eles têm muita sede de lucro. E nós, de justiça.

Ulisses Tavares só confia naquela água que passarinho não bebe. Coisas de poeta.

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