Autor da Geração com destaque no O Globo
Wole Soynka fala sobre os desafios da tolerância religiosa
Principal convidado internacional da primeira edição da Bienal Brasil do Livro e Leitura, o dramaturgo nigeriano Wole Soyinka, ganhador do Nobel em 1986, encerrou o primeiro dia do evento, no sábado, com um discurso sobre a tolerância religiosa. Conhecido por mesclar em sua obra elementos tradicionais africanos e formas contemporâneas, Soyinka discorreu sobre a sobrevivência da cultura iorubá nas Américas, sobretudo no Brasil.
Soyinka elogiou a atuação de intelectuais brasileiros na difusão e defesa da cultura negra no país, como Abdias do Nascimento (a quem chamou de “meu irmão mais velho”) e Antonio Olinto (que viveu na Nigéria nos anos 60, onde Soyinka o conheceu). Lembrando as estratégias desenvolvidas pelos escravos para continuar cultuando os orixás mesmo quando proibidos por senhores de terra católicos, o dramaturgo definiu o Brasil como “um experimento único” em termos de religiosidade.
– No Brasil, o culto às divindades africanas encontrou meios de conviver com o catolicismo, uma das religiões mais antigas e dogmáticas do mundo – observou Soyinka, que diversas vezes ressaltou a diferença entre espiritualidade e religião. – O dogma da religião pode impedir os indivíduos de buscar a espiritualidade em seus próprios termos.
Soyinka defendeu que o “espírito ecumênico” da cultura iorubá, que permitiu sua sobrevivência nas Américas, pode ser uma inspiração para os conflitos atuais entre radicalismos religiosos, tanto cristãos quanto islâmicos. E afirmou que mesmo a tolerância tem seus riscos:
– Há momentos em que a tolerância é muito mais perniciosa que a intolerância. Tolerar, especialmente através da racionalização, qualquer condição que brutalize ou desmereça nossa humanidade, muitas vezes de maneira cruel, é aceitar a diminuição de nossa humanidade – disse Soyinka, que teve sua primeira obra traduzida para o português, a peça “O leão e a joia”, lançada pela Geração Editorial durante o evento.