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 Travessura literária - Geração Editorial Geração Editorial

fev 16, 2012
Editora Leitura

Travessura literária

Correio Braziliense
Por Mariana Moreira

Peça encena a farsa da criação do suposto escritor JT Leroy pela norte-americana Laura Albert

O escritor americano JT Leroy surgiu como uma avalanche no universo da literatura. Durante a última década, publicou livros que revelavam sua infância infeliz, passada na Virgínia. Criado por uma prostituta de poucos recursos, desde cedo foi usuário de drogas e vítima de abuso sexual e violência. Seus relatos, traduzidos em mais de 30 países, acabaram ganhando a admiração de artistas como Madonna e Bono Vox. Para apimentar um pouco a trama, descobriu-se que JT, na verdade, nunca existiu. O personagem controverso não passava de uma travessura literária de Laura Albert. A trama rocambolesca é matéria-prima da peça JT — Um conto de fadas punk, que estreia hoje e segue em temporada até 11 de março.

Com direção-geral de Paulo José, em parceria com Susana Ribeiro, a peça foi escrita pela jornalista, escritora e dramaturga Luciana Pessanha, que chegou a entrevistar JT Leroy durante sua participação em um evento alternativo da Festa Literária Internacional de Paraty. O escritor era, na verdade, a jovem Savannah Knoop, modelo, atriz e cunhada de Laura. Na ocasião, Luciana chegou a perceber que o escritor tinha contornos muito femininos, mas se deixou levar pela comoção coletiva. “Você quer acreditar que alguém violentado, drogado que se f… para se salvar pela literatura consegue virar uma estrela internacional. Ele despertava uma coisa maternal”, explica a autora.

A trama que deu origem à peça é intrincada: cantora punk mal sucedida e funcionária de um serviço de Disque-Sexo, Laura Albert decide escrever um livro, batizado de Maldito coração, e cria JT Leroy. O menino prostituído, gay e vítima de transtornos mentais foi logo adotado pela comunidade literária underground. Laura manteve a farsa durante anos, alegando pânico social e comunicando-se, como JT, apenas por telefone.

Mas um dia foi preciso dar um corpo a essa personagem, devido a pressões do mercado editorial, e ela escolheu Savannah, que entrou para um círculo restrito de eventos literários, lançamentos e entrevistas. A farsa só foi descoberta quando o marido de Laura, Geoffrey Knoop, revelou tudo à imprensa. Na montagem brasileira (a primeira de que se tem notícia), coube à atriz Natália Lage dar vida ao autor maldito e à sua intérprete. “A peça faz a defesa da ficção e da necessidade de olhar para a arte como transgressão”, reforça a atriz.

Depoimentos
“A gente toma um pouco de liberdade sobre a história. Existe uma certa reconstrução”, avisa a diretora Susana Ribeiro. Além dos atores em cena, a montagem recorre a depoimentos de artistas sobre JT, projetados em tapadeiras, no fundo do palco. No estilo do espetáculo, há depoimentos dublados, legendados e entrevistados assumindo outras personalidades. A banda de Laura Albert também está presente. “Foi uma sacada do Paulo”, conta Susana. Em cena, os atores tocam a trilha sonora composta por Ricco Viana. A atriz Nina Morena, que se desdobra em cinco papéis diferentes, precisou aprender noções de bateria.

Embora façam um esforço para não aderir a nenhum dos lados da história, evitando tomar partido da autora ou dos leitores que se sentiram ludibriados, os diretores da montagem tratam de legitimar as ações de Laura. “O crime que ela cometeu é comum na literatura, de um autor se esconder atrás de diversas personas”, destaca Paulo José. O que o encantou, de imediato, no projeto, foi a teatralidade natural da história de Laura e JT, com cenas que ele classificou como curiosas. “É uma comédia cruel e impiedosa. É pop e punk”, define.

JT — Um conto de fadas punk
Texto de Luciana Pessanha. Direção geral de Paulo José. Direção: Susana Ribeiro. Com Débora Duboc, Natália Lage, Nina Morena, Hossen Minussi e Roberto Souza. De quinta a sábado às 21h, e domingo, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB — SCES, Trecho 2, Lote 22, 3108-7600). Ingressos a R$ 6 e R$ 3 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos. Até 11 de março.

Três perguntas – Luciana Pessanha

A Laura é uma impostora?
Não, ela é uma artista. Só deu corpo a uma personagem. Desde que o mundo é mundo, escritores mentem e ganham dinheiro com isso. Me encantei pela coragem e pela cara de pau dela de se jogar. Então, foi uma traição à morbidez das pessoas. Se elas queriam sangue, queriam saber que aquela dor é real, então foram traídas.

O que mais te interessou nessa história?
Ela discute a questão de não se prender a uma identidade fixa, rígida, a um mercado editorial rígido, do consumo de biografias. A ficção é tão maravilhosa, o negócio é fazer catarse. Conversei com um psicanalista sobre a diferença entre a leitura de biografias e a ficção. Segundo ele, se você lê uma história verídica, pode sofrer e se emocionar, mas tem um depositário. Você devolve a dor ao dono, o biografado. Mas quando é ficção, não há dono para aquela dor, e ela fica com o leitor.

Você já teve contato direto com ela? Ela sabe que há uma peça sobre ela estreando no Brasil?
Nos falamos por telefone duas vezes. Queríamos fazer contato, pagar os direitos. Tínhamos medo porque os direitos sobre a obra estavam presos. (Laura foi processada e perdeu os direitos sobre os livros que publicou sob o pseudônimo. Conseguiu recuperá-los há duas semanas). Mas temos autorização da Geração Editorial, que a publica no Brasil. Três advogados foram consultados e o que eles dizem é: tudo isso saiu nos jornais. No mais, foi um trabalho de chinês aposentado, reunindo histórias, livros, jornais e depoimentos. Ela sabe da peça e está muito feliz. Esse julgamento matou a personagem dela e a peça mantém JT Leroy vivo.

http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=27005

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