Sonhos renovados
Sonhos renovados
Irlam Rocha Lima
Os 40 anos do Clube da Esquina são lembrados com uma série de lançamentos, de gibis a disco instrumental para crianças. Um museu também está nos planos de Márcio Borges, autor do livro de memórias que sai agora em edição de luxo e deve virar filme
“Nos anos setenta, um grupo de mineiros se afirmou no cenário da música popular brasileira com profundas consequências para sua história, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. Eles traziam o que só Minas pode trazer: os frutos de um paciente amadurecimento de impulsos culturais do povo brasileiro, o esboço (ainda que bem acabado) de uma síntese possível.” Dessa forma, Caetano Veloso abre o prefácio de Os sonhos não envelhecem — Histórias do Clube da Esquina, livro de memórias de Márcio Borges, um dos mais atuantes participantes do movimento, que neste ano completa quatro décadas.
Poeta, letrista, pesquisador, escritor e tido como porta-voz do Clube da Esquina, Márcio atua em diversas frentes. Um dos projetos a que ele tem se dedicado com afinco é a materialização do Museu do Clube da Esquina — limitado, por enquanto, ao ambiente virtual (www.museuclubedaesquina.org.br). Há projeto para a edificação da sede do memorial, atrás do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, no local onde funciona atualmente o Serviço Voluntário de Assistência Social. A construção depende de um convênio com o Ministério da Cultura (leia texto abaixo).
Dia desses, o músico, arranjador e produtor Yuri Popoff disse em tom de brincadeira: “Você é f…! Criou a coisa, batizou a turma, escreveu o livro, ressuscitou o troço e agora ainda dá manutenção”. Modesto, Márcio vê a declaração como um exagero, classificando-a de “estímulo de amigo”. Mas não esconde que tem grande orgulho do que ele e seus companheiros fazem hoje.
Sentimento semelhante Márcio deve ter do livro-memória do clube, que teve mais 30 mil exemplares vendidos desde o lançamento, em 1996. Este ano, Os sonhos não envelhecem ganhou edição de luxo da Geração Editorial (viabilizada pela Lei Rouanet), com tiragem de 5 mil cópias (vendidas a R$ 29,90). Além do novo formato (23cm x 21cm), a edição traz fotos coloridas e, encartado, um CD com 10 canções, escolhidas entre as mais representativas do movimento.
Márcio, porém, não se considera “dono dessa história” e dedica o livro a Milton Nascimento, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, ao irmão Lô Borges e à mulher, Claudinha, “primeira leitora, maior incentivadora, meu amor para sempre”. Autor do posfácio da obra, Milton afirma: “Penso que o clube não pertencia a uma esquina, a uma turma, a uma cidade, mas sim a quem, no pedaço mais distante do mundo, ouvisse nossas vozes e se juntasse a nós”.
Outros produtos editoriais têm sido lançados com o intuito de manter viva a memória do Clube da Esquina. O mais recente é um álbum instrumental voltado para o público infantil, o 13º CD da coleção MPBaby. O responsável pelas novas versões e adaptações de Paisagem na janela, Cravo e canela, Trem azul, Clube da Esquina 2 e demais pérolas é o pianista, arranjador e compositor fluminense André Mehmari.
Quem curte histórias em quadrinhos pode apreciar Histórias do Clube da Esquina, um livro-gibi de Laudo Ferreira e Osmar Viñole. E o movimento será levado também para o cinema. “Tem uma turma aqui de Belo Horizonte, jovens superorganizados e profissionais, que aprovaram na lei de incentivo o projeto do filme deles, baseado em meu livro”, revela Márcio Borges. “Eles estão agora na fase de captação de recursos. Achei o projeto legal demais e estou a fim de dar uma força extra. Não no roteiro, mas na captação.”
Os sonhos não envelhecem— Histérias do clube da Esquina
Edição de luxo do livro de Márcio Borges, com caderno de fotos coloridas e CD com 10 músicas de Márcio Borges, Lô Borges, Milton Nascimento e Beto Guedes. Geração Editorial, 376 páginas. Preço: R$ 29,90 (os primeiros 5 mil exemplares; esgotada essa tiragem, o preço será R$ 49,90).
Histórias do clube da Esquina
De Laudo Ferreira e Omar Viñole. Livraria Devir, 48 páginas. R$ 19,50.
Três perguntas – Márcio Borges
Quarenta anos depois, que importância você atribui ao Clube da Esquina na história da música popular brasileira?
Foi uma contribuição bem forte. Nas inovações harmônicas e melódicas trazidas pelo Bituca, que músicos do mundo inteiro reconhecem e admiram, e também na jornada épica, ética e cinematográfica das nossas canções, especialmente as baladas do Lô (Borges) e do Beto (Guedes), que emolduraram o acervo afetivo do povo brasileiro.
Qual é o seu sentimento em relação ao sucesso do livro-memória do Clube da Esquina?
Dou graças a Deus por ter tido a paciência e o tempo de escrevê-lo. Até hoje, passados mais de 10 anos do lançamento, recebo mensagens, cartas e afetos por causa de Os sonhos não envelhecem. Tenho centenas de depoimentos de como ele mudou e motivou a vida de muitas pessoas.
A relação de amizade entre os participantes do movimento se mantém?
Com altos e baixos, períodos próximos e outros distantes, muita saudade e muito saco cheio, exatamente como em qualquer amizade antiga. No geral, ainda somos todos amigos. Uns mais, outros menos. Mas esse negócio de turminha que se encontra todo dia é coisa da juventude e de escola.
Fonte: Correio Braziliense
http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=23497&tp=25