Risadinha de Marçal Aquino
Sempre tive consciência de que o fato de ter nascido “na roça”, como se diz, foi decisivo para que eu me tornasse escritor. Nasci e passei a primeira infância em fazendas que meu pai administrou na região de Amparo, no interior paulista. Por falta de televisão, que só entrou na minha vida ali pelos doze anos (e não fez falta nenhuma, para falar a verdade), fui exposto aos causos e à mitologia rural. Uma espécie de literatura oral, que misturava o real e o lendário nas conversas de fim de noite. Relatos saborosos que combinavam o acontecido e o imaginado. Coisas que, mais tarde, me fizeram ficar com vontade de contar histórias em livros.
Como acontece na tradição oral, algumas dessas narrativas eram repetidas anos a fio, sempre acrescidas de novos detalhes e deliciosas distorções. Aperfeiçoava-se o causo. Já não importava a verossimilhança ou a veracidade, apenas o prazer de quem contava e de quem ouvia. Com isso, algumas versões fantasiosas adquiriam ares de fato real, confirmando aquela máxima do cineasta John Ford: “Quando a lenda é mais forte que a verdade, imprima-se a lenda”.
Verdade ou não, eram histórias sobretudo muito engraçadas. Como a de um aparentado nosso, trambiqueiro que só ele, que teve a idéia de pintar de preto um cavalo baio, na tentativa de transformar em garanhão um animal que todos conheciam como um legítimo pangaré, O plano era vendê-lo a uns ciganos que andavam pela região. Eu não me lembro direito dos detalhes, mas parece que choveu muito no dia da venda e a fraude derreteu-se diante dos olhos do vendedor malsucedido e das gargalhadas dos ciganos.
CONFIRA A SEQUÊNCIA DO TEXTO NO LINK http://www.geracaobooks.com.br/colunistas/colunista.php?id=65