Titília e o Demonão – Cartas inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos
Titília e o Demonão – cartas inéditas de Dom Pedro I à Marquesa de Santos
Autor: Paulo Rezzutti
Categoria: História do Brasil – Biografias
Formato: 15,5×22,5 cm
Páginas: 352
Peso: 500gr.
ISBN: 9788561501624
Preço: R$ 54,00
Editora: Geração
E-book
ISBN: 978-85-8130-383-3
Preço: R$ 27,90
Sinopse:
Cartas do Imperador Dom Pedro I para a Marquesa de Santos que se imaginavam desaparecidas foram encontradas, quase dois séculos depois, pelo autor, num arquivo dos Estados Unidos, e revelam aspectos insuspeitados da vida sexual e política na corte imperial. Este livro vai ser um acontecimento na pesquisa histórica nacional. Transcritos e comentados com erudição ímpar, esses documentos profundamente humanos e de alto valor histórico nos mostram um jovem monarca impetuoso e apaixonado, bem humorado, que escreve coisas libidinosas à amante, tenta acalmar as crises de ciúme dela e tem também seus acessos emocionais. O livro revela um rico painel da vida cotidiana e política e dos costumes do Brasil durante o Primeiro Reinado.
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AMOR E PAIXÃO NA MAIOR DESCOBERTA DE DOCUMENTOS DA HISTÓRIA DO BRASIL
Geração traz 94 cartas inéditas do imperador Pedro I à sua amante, a marquesa de Santos,encontradas por um pesquisador independente
No segundo semestre de 2010, foram encontradas quase por acidente, em um obscuro museu nos EUA, nada menos que 94 cartas do imperador Pedro I à sua célebre amante, Domitila de Castro, a marquesa de Santos, escritas entre 1823 e 1827, logo depois desaparecidas e esquecidas.
Paulo Rezzutti, o autor dessa descoberta sem paralelo na nossa história, atribui o achado à intervenção de “Santa Domitila”, cujo túmulo no Cemitério da Consolação é visitado até hoje por moças que vão lá rezar para pedir um marido.
Muito antes, porém, de ser considerada santa por alguns, Domitila de Castro, uma jovem paulista divorciada, teve um envolvimento bastante profano com o primeiro imperador do Brasil, e esse romance proibido foi o grande escândalo de sua época, chegando a repercutir nas cortes europeias. Pois, não contente em trazer a sua amante paulista para a corte no Rio de Janeiro, nomeá-la marquesa e torná-la dama camarista da bondosa imperatriz Leopoldina, dom Pedro ainda fez criar os filhos que teve com Domitila ao lado dos meios-irmãos legítimos.
Essa ruidosa aventura extraconjugal, que constitui o maior romance da nossa história, ficou registrada, em parte, nas cartas que o imperador, assinando como “O Demonão”, escreveu para ela, a quem chamava de “Titília”. Algumas dessas cartas são explícitas a ponto de dom Pedro falar da “tua coisa”, referindo-se ao próprio pênis, e das vicissitudes sofridas por este (carta 70). Em outra ocasião (carta 24) diz que naquela noite irá “aos cofres” de Domitila, eufemismo para aquilo mesmo.
Talvez o mais divertido destas missivas sejam os insistentes protestos de fidelidade do mulherengo coroado, tentando acalmar as crises de ciúme da amante, sobretudo por sabermos que ele teve outras mulheres durante seu caso com Domitila, inclusive a própria irmã desta!
Eu já não namoro a ninguém depois que lhe dei minha palavra de honra, e assim não lhe mereço teus ataques. (carta 50)
Mas os ciúmes dele por Domitila não são menos intensos, a ponto de o Libertador reclamar do número de carruagens na casa da marquesa, que lhe parece suspeito (carta 61).
O lirismo não está ausente nessas confissões tão íntimas:
Ontem mesmo fiz amor de matrimônio para que hoje, se mecê estiver melhor e com disposição, fazer o nosso amor por devoção. (carta 9)
Quase todas as cartas são assinadas pelo “fiel, desvelado, constante e agradecido amante”, mas o vocativo e a assinatura variam conforme a temperatura da paixão. Quando esta se encontra no auge, ela é “Titília” e “Meu amor”, ele é “O Demonão” ou “Fogo Foguinho”; à medida que vai esfriando, ele passa a ser “O Imperador” e “Pedro”, enquanto ela se torna “Filha” e “Querida Marquesa”.
Não só a transcrição das cartas pelo Paulo Rezzutti é impecável, como também o são os comentários com que ele as explica e lhes dá contexto, proporcionando ao leitor uma aula enriquecedora e muitíssimo agradável sobre um dos períodos — e sobre alguns dos personagens — mais fascinantes da nossa História.
Além das 94 cartas descobertas por ele na Hispanic Society of America, em Nova Iorque, 17 foram acrescentadas no final deste livro como anexos, algumas inéditas, outras não, todas transcritas diretamente dos originais, corrigindo inexatidões anteriores. Entre esses anexos estão algumas das poucas cartas de Domitila para d. Pedro de que temos notícia. Ilustrado, o volume contém também uma cronologia, índice onomástico e índice de lugares.
Constatar a profunda humanidade do imperador do Brasil é o maior deleite que a leitura de suas cartas à amante proporciona. Muitas poderiam ter sido escritas por qualquer plebeu à sua namorada. Por diversas vezes o soberano pergunta simplesmente como ela tem passado, ora anuncia que irá vê-la à noite, ou que está lhe mandando frutas, flores, goiabada ou “bolos de cutia” (carta 26). Também comenta o tempo todo, pai carinhoso que é, sobre a saúde dos filhos, tanto os legítimos quanto os bastardos.
Desse estilo nada protocolar, totalmente informal e gramaticalmente deficiente do monarca, jorra um manancial de fatos históricos (devidamente identificados e esclarecidos nos comentários), além de descortinar, por meio dos detalhes prosaicos, um rico painel da vida cotidiana e dos costumes do Brasil durante o Primeiro Reinado.
Já em vida, dom Pedro I e a marquesa foram vítimas de muita calúnia e difamação, acusados até de terem assassinado a gentil imperatriz Leopoldina (ver anexo 12). Após a proclamação da República, em 1889, durante o processo positivista de demonização da monarquia e da família imperial, dom Pedro foi reduzido a um maníaco sexual, amalucado e epilético, e a marquesa de Santos a uma oportunista que atuava nos bastidores do poder como uma espécie de madame Pompadour tupiniquim.
Mais que qualquer coletânea de cartas de dom Pedro publicadas antes, esta edição derruba tais exageros, simplificações e distorções da realidade. Por exemplo, sobre o mito de que a marquesa manipulava o soberano, ele mesmo desmente tal visão ao se desculpar, numa carta (a de número 29) por não poder atender ao pedido da amante de nomear certo amigo dela para um cargo no Exército. E em outra contribuição importante para o estudo do Primeiro Reinado, este livro sugere que a última carta de dona Leopoldina — em que a imperatriz agonizante acusa Pedro e Domitila de haverem causado a sua morte — foi provavelmente forjada pelos inimigos do imperador à época de sua abdicação.
Doravante nenhum estudo abrangente sobre o Libertador d o Brasil poderá prescindir do exame destas cartas inéditas, escritas sob o calor das mais humanas emoções — o amor e a paixão — por um dos mais humanos vultos da nossa História.
Sobre o autor
O paulistano PAULO REZZUTTI é membro titular do Instituto Histórico e Geográfifi co de São Paulo, arquiteto e urbanista formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, além de pesquisador independente, estudioso da história de São Paulo e organizador do blog “São Paulo Passado”. É também autor de uma biografia da marquesa de Santos. Atualmente prepara um romance sobre a Bucha, famosa sociedade secreta da Faculdade de Direito de São Paulo.
Entrevista com o autor
Como você veio a descobrir essas 94 cartas inéditas de dom Pedro I à sua amante, a marquesa de Santos?
Obra do acaso, ou intervenção de “Santa Domitila”, que segundo alguns, de seu túmulo no Cemitério da Consolação, ajuda a arrumar marido? Talvez ela seja amiga do “São Longuinho”… Agora sério: estudando as cartas de d. Pedro I para Domitila, publicadas pela Nova Fronteira em 1984, achei uma informação errada, copiada de Pedro Calmon, que dizia que parte dessas cartas, que pertenciam ao embaixador Caio de Melo Franco, haviam sido vendidas para a “Spanish Society”, em Nova York. Podem até existir várias sociedades espanholas em Nova York, mas seria pouco provável alguma delas ter interesse em uma coleção de cartas do primeiro imperador do Brasil para sua amante. O correto deveria ser “Hispanic Society”, mas deixei isso para lá, até que uma dessas cartas, que pertenceram ao embaixador, apareceu em São Paulo, na Coleção Brasiliana do Itaú.Entrei em contato com a “Hispanic Society”, imaginando que a coleção houvesse sido vendida, mas soube que ela estava intacta. Segundo Mr. O’Neill, o curador do museu, todas as 94 cartas estavam lá. Quando ele falou isso, enlouqueci. Como as 34 missivas da coleção Melo Franco haviam se transformado em 94? Após longa troca de mensagens, eu e O’Neill conseguimos matar a charada. As cartas do embaixador nunca foram compradas pela Hispanic Society; como Calmon se enganou dessa forma, continua um enigma. As que eles possuem foram adquiridas pelo fundador do museu, Archer Milton Huntington, em um antiquário na Alemanha, no início do século XX. O historiador Alberto Rangel, no seu livro D. Pedro I e a marquesa de Santos, publicado em 1916, soube da existência dessas cartas, vendidas por uma parenta da marquesa de Santos a um antiquário em Paris. Ele até conseguiu chegar ao antiquário, Charles Chadenat, mas esse só informou que havia repassado a correspondência para um outro antiquário na Alemanha, que descobri ser Karl Hiersenann, com quem Mr. Huntington fazia negócios. Quando finalizei o quebracabeça,
estava diante não só de um material completamente inédito, como da maior coleção individual existente dessas cartas. Até então, a maior pertencia ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que possuía, pelo levantamento feito por Alberto Rangel, 51 mensagens de d. Pedro para Domitila.
Em sua opinião, qual a importância dessas cartas para a compreensão da história do Brasil em geral e da história do Primeiro Reinado em particular?
Elas revelam o lado humano do nosso primeiro imperador, parte de sua personalidade, e de seus conflitos, sua preocupação com os negócios brasileiros, seus namoros e o interesse e carinho pelos filhos. Só as cartas negando favores para Domitila já demonstram que ele não era manipulado por ela, como seus detratores tentaram fazer acreditar, tanto na época da sua abdicação quanto durante o processo positivista de demonização da monarquia e da família imperial. O surgimento dessa fonte primária ajuda a trazer à luz um pouco mais do homem Pedro, que está longe de ser um boneco manipulável, o sátiro ou o proto-avô de Macunaíma, ou ainda o ungido, ou o bobalhão, que apenas estava no lugar certo na hora certa.
Diversos estudos sobre o Primeiro Reinado retratam dom Pedro I como um príncipe tresloucado e maníaco sexual, a marquesa de Santos como uma alpinista social e aproveitadora, e a independência do Brasil como uma obra do acaso ou da sorte, nunca por mérito do imperador. O que você acha desse tipo de abordagem?
No mínimo rasa. Infelizmente alguns ainda preferem tratar de maneira maniqueísta os grandes personagens históricos. O pesquisador e o historiador deveriam se despir de seus preconceitos ao lidar com figuras de nossa história; afinal, antes de serem “históricas”, de fazerem história, são seres humanos, e como tais sujeitos a virtudes e defeitos como qualquer um. Negar-lhes isso é negar-lhes sua humanidade.
Nos últimos anos tem ocorrido, por parte dos brasileiros, uma revalorização da História do Brasil. De um modo geral, qual a sua opinião sobre o modo como a nossa história tem sido apresentada ao público brasileiro pelos historiadores modernos e pela mídia?
Vejo de maneira positiva o povo brasileiro redescobrindo e se interessando por sua própria história. Isso é importante para qualquer nação civilizar-se. Mas quantidade de informação, infelizmente, não é sinônimo de qualidade. Acadêmicos reclamam da vulgarização provocada pelos historiadores autodidatas, estes reclamam do linguajar acadêmico. E ambos os lados, uns preocupados com rigor, sistematização e fundamentação das análises, outros em popularizar temas e linguagem, frequentemente acabam caindo em erros factuais. Um meio termo entre ambos é necessário. Esse caminho é inevitável se existe realmente a ideia de se democratizar a informação histórica para o grande público, mas até que isso aconteça haverá ainda muito choro e ranger de dentes.
Quais foram as suas maiores dificuldades em transcrever, datar e interpretar documentos com quase 200 anos?
A caligrafia de d. Pedro é, na maioria das vezes, elegante e bastante legível, quando ela não se transforma de acordo com o estado emocional dele. Claro que é preciso ter em mente que na época a ortografia não era padronizada, e os dois “ss” e outras letras tinham, por vezes, uma grafia não usual nos dias atuais. Creio que os principais problemas foram dois: primeiro, as reações no papel causadas pela tinta ferrogálica, utilizada na época, que chegam, em alguns trechos, a causar corrosão no papel, quando não transparece no verso da folha. Segundo, os termos utilizados por ele. Descobrir o que era um “queijo de pinha”, um “bolo de cutia”, “cozimento branco”, saber que o jardim da “Alagoa de Freitas” era uma referência ao “Real Jardim Botânico da Alagoa de Freitas” que chamamos hoje, simplesmente, de “Jardim Botânico”, no Rio de Janeiro. Entender o que ele falava levou mais tempo do que transcrever as cartas.
Quanto à datação, muitas das 94 cartas descobertas não foram datadas por d. Pedro, mas por vezes eram escritas no mesmo dia e tratavam dos mesmos assuntos que outras descobertas anteriormente e datadas. Assuntos conhecidos historicamente, como a visita do diplomata britânico Charles Stuart para tratar do reconhecimento da independência do Brasil por Portugal, ou o fato de Domitila ter tido problemas para assistir à missa na tribuna das damas do paço na Capela Imperial, ou ainda ter sido barrada no Teatro Constitucional, ajudaram a estabelecer o ano e o mês em que algumas cartas foram escritas. Outros elementos também foram importantes. D. Pedro era bastante sistemático, existe um padrão entre o vocativo, o modo como se dirige a Domitila e sua assinatura final, refletindo diretamente a temperatura do romance. No início do relacionamento, ele a chama de “Nhá Titília”, “Meu Bem”, “Meu Encanto”, “Meu amor” e assina como “Demonão” ou “Fogo-Foguinho”. Depois passa a chamá-la de “Filha” e “Querida Marquesa”,assinando como “seu amante, o Imperador” ou “seu amigo, o Imperador” e, por fim, “Seu amo e senhor, o Imperador”.
Em que você está trabalhando no momento? Quais os seus projetos literários futuros?
No momento estou trabalhando na finalização de um romance sobre a Bucha, a sociedade secreta das Arcadas, que teria sido fundada por Júlio Frank, o único professor enterrado dentro da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, em São Paulo. E também dando prosseguimento às pesquisas para a biografia da marquesa de Santos. Se acharam que Titília e o Demonão tem informações inéditas, aguardem pela biografia dela!
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