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 Ri melhor quem bate panela por último. - Geração Editorial Geração Editorial

jul 22, 2015
admin

Ri melhor quem bate panela por último.

Marcius Cortez

Em 50: Fora Getúlio. Vamos acabar com o mar de lama. Getúlio se mata.

Em 60: a Casa Grande e o Tio Sam puseram os milicos para derrubar o João Goulart. A democracia foi para o beleléu e a Ditadura Militar reinou por mais de vinte anos de chumbo.  

Em março de 2015, segundo os organizadores, 1 milhão de pessoas, vestindo as camisas da CBF, lotaram a Avenida Paulista para o Fora Dilma.

Bobo é quem diz que a história do Brasil não prima pela coerência. Em boa hora já está à venda nas livrarias o mais novo míssil da dupla que acumula histórias secretas dignas de deixar o Yul Brynner, o careca mais famoso do cinema, de cabelos em pé. Os jornalistas Mylton Severiano (Myltainho) e Palmério Dória já implodiram a corrupção na era Sarney em “Honoráveis Bandidos”, aquele em que a capa é a foto do ex-Presidente de óculos escuros fazendo o gênero Al Capone. Em seguida, o paraense de Belém e o paulista de Marília produziram o molotov que é “O Príncipe da Privataria”, o relato documentado de como o país perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição. E agora na terça-feira da semana passada, na Saraiva, do Shopping Higienópolis, 14 de julho, foi o lançamento do seu último rugido, “Golpe de Estado”, publicado com esmero pela Geração Editorial. (Prefácio: Fernando Morais. O livro tem uma boa diagramação, uma capa interessante, um acabamento profissional e respeita o leitor que paga apenas 29 reais).

Os autores argumentam que o Brasil vive em estado de golpe permanente. Um trem-fantasma, um susto em cada curva. Ao menor enxerimento da senzala, a Casa Grande prontamente dá uma festinha, reúne os amigos e a conspiração contra a vontade popular consagrada nas urnas reacende as cinzas dos retrocessos da História. Então prenda-se e arrebente o pessoal que estava pondo lenha na fogueira, ateando fogo no circo. Isso já aparece nas primeiras páginas pretas que abrem o livro. Precisamente na quinta página de fundo preto o texto diz: “o golpe de 1964 configurou um estelionato de proporções continentais, mediante o qual alguns golpistas, sob a alegação fraudulenta de pôr fim à subversão e à corrupção, obtiveram vantagem ilícita para si e para outros em prejuízo de milhões de brasileiros”.           

O golpe de 64 foi um passeio. Estalou-se o dedo e no ato, a vaca fardada soltou as tropas de Minas para o Rio, a Fiesp entregou a mala para o Kruel, o Gilmar Mendes de plantão bolou uma roupagem constitucional para o crime e as Forças Armadas e a Polícia Militar (que sempre foram “um dos nossos”)  se encarregaram do resto assassinando, prendendo e torturando. A Casa Grande festejou. Auro Moura Andrade declarou que a cadeira da Presidência estava vaga (mesmo com João Goulart ainda em terras brasileiras) e, num passe de mágica, Lincoln Gordon assumiu a gerência.

São 32 capítulos. Breves, mas consistentes. No primeiro já tem um “furo”: a lista que o braço direito da ditadura publicou em sua primeira página dedurando aos milicos os intelectuais “que trabalharam pela implantação do regime comunista do Brasil”. A manchete do jornal O Globo, de 7 de abril de 64, era “Fundação do Comando dos Trabalhadores Intelectuais”. No bloco de texto, segue o manifesto e as assinaturas de escritores, jornalistas, críticos, cientistas, compositores, artistas plásticos, atores, cineastas, dramaturgos, humoristas, cantores, economistas. Myltainho e Palmério republicam os principais trechos da delação e a relação completa dos perigosos comedores de criancinhas, entre eles, o marxista da linha Groucho Marx, o cearense Chico Anysio. Consulte na página 28 os nomes dos outros meliantes. Imagine o orgasmo dos cartolas “globais” ao verem a deduragem estampada na capa do jornal. Eles sempre se derreteram pelo ódio à inteligência, pois o negócio dos Marinhos é a mentira e a mediocridade.

A vida é interessante. A lição de ética em termos de jornalismo ocupa as 263 páginas do “Golpe de Estado”. A cada denúncia apresentada, publica-se a prova. Leia o capítulo 9 (“Como o Brasil escapou de virar Brasil do Norte e Brasil do Sul”) e veja como Palmério e Myltainho constroem a notícia da Fiesp ao entregar duas malas de dinheiro (um milhão de dólares?) para o General que ficara embaçando o apoio à Redentora. Pois é, como podem o Myltainho, o Palmério que um dia estavam trabalhando aqui e no dia seguinte estavam trabalhando acolá, logo eles, “porra-loucas”, como podem ter esse tipo de preocupação quando o procedimento adotado pelos “guardiães da moral” é fazer um escarcéu publicando a denúncia e anexando como prova a fita sem áudio.

Aprecio a seriedade quando o livro aborda assuntos como a proposta para extinguir a Polícia Militar ou o problema da reforma agrária que ainda não se fez ou se o golpe de 64 foi contra Brizola e não contra os comunistas, ou então, quando pior do que a Gestapo prendeu-se, torturou-se e calou-se a arte brasileira. Os autores entrevistam quem estava lá, quem pulou a fogueira. No primeiro caso, eles ouviram o cientista político Luis Eduardo Soares, ex- Secretário Nacional de Segurança Pública no governo Lula que responde seis perguntas de uma substanciosa entrevista. Sobre a reforma agrária, tema vital para o desenvolvimento do País, leia o sensacional depoimento do “lúmpen internacional”, José Luiz del Roio, página 41. Para falar de Brizola, os jornalistas conversaram com o gaúcho Carlos Araújo, militante do PDT, partido fundado por Brizola. O depoimento é uma bela aula de história remetendo a Getúlio, a Jango e a Brizola. Araújo foi membro da organização guerrilheira Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, ele e sua mulher, a Presidenta Dilma Rousseff. Sobre cultura, o depoimento é do ator, dramaturgo, diretor e encenador José Celso Martinez Corrêa. São 10 páginas dedicadas ao artista voltado para o contato com o corpo quântico “porque a tendência hoje é as pessoas se manterem fechadas para o outro. As pessoas não têm percepção de si mesmas”.        

Em alguns capítulos do “Golpe de Estado”, os autores abrem espaço para o disco de risadas.  Confira a hilariante história dos macacos subversivos das praças XV e da Alfândega, em Porto Alegre. Um deles foi detido para interrogatório e o outro ficou preso, “incomunicável”. Tem também aquela da Dona Lurdinha, a eterna secretária da Casa Civil, em Brasília. Dou um doce para quem não ficar a gargalhar no final do capítulo 32, o último do livro. E para encerrar a obra, tem a Linha do Tempo, apuradíssimo retrato do Brasil de 1882 até os dias de hoje. As nossas principais datas e fatos históricos pinçadas com rigor e para não perder a “deixa” com o indispensável bom humor. Tomo a liberdade de divulgar a minha preferida. O lema do jornal A Lanterna, anarquista, publicado em São Paulo: “Urge enforcar o último rei com as tripas do último frade”.

Todos nós estamos vendo que a situação está mais para jacaré do que para beija-flor. Myltainho, uma das mentes mais brilhantes do jornalismo brasileiro, nos deixou em maio de 2014, aos setenta e quatro anos. Palmério Dória continua na trincheira, lutando para honrar o compromisso de contar boas e verdadeiras histórias para as pessoas. Prezo ser seu amigo, julgo-me um sortudo por tê-lo como uma das minhas fontes para entender o Brasil. Sua visão independente, crítica em relação ao radicalismo de certa esquerda,  longe de qualquer dogma, de qualquer partido político e dos nauseabundos gigolôs da cultura tem muito a ver comigo. Somos da geração criada sob o lema de Proibido Proibir. Nossa consciência libertária diz que é para liberar geral. Pode tudo, só não pode é ser coxinha. O problema nem é a arrogância, o preconceito, o analfabetismo político, o fascismo, o problema é quando ficam de quatro, eles não conseguem mais levantar.  

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