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 Entrevista com Fernando Vita, autor de “O avião de Noé”. - Geração Editorial Geração Editorial

nov 19, 2014
admin

Entrevista com Fernando Vita, autor de “O avião de Noé”.

fernando vita

Como já diz no próprio título, O Avião de Noé é “uma hilariante história de inventores, impostores, escritores e outros malucos de modo geral”. Nessa fauna tão diversificada, onde se enquadra o autor?

Acho que um pouquinho em cada uma delas, um pouco menos entre a dos escritores, um pouco mais entre a dos malucos de modo geral… Tentemos ir por partes: situo-me entre os inventores, porque apesar de a trama de O Avião de Noé basear-se em fatos quase reais, aqui e ali eu invento umas sub tramas para tornar o romance mais buliçoso, farsesco, engraçado. Entre os impostores, porque mesmo o mais fuleiro dos ficcionistas, como no meu caso, é um impostor de boa bitola, na medida em que vai buscar na imaginação um elenco formidável de colhudas – que é como a gente usa chamar mentiras na Bahia – para fazer dos seus personagens quase reais um bando de gente romanescamente interessante, de sorte que um mentiroso literário, mesmo não tão contumaz como eu, não deixa de ter a sua carteirinha de sócio remido do exclusivíssimo clube dos impostores. Digo que me situo menos entre a turma dos escritores, porque seria uma pretensão destamanha de minha parte, parido e criado na Bahia, terra de Jorge Amado, João Ubaldo, Dias Gomes e tantos outros mais, achar-me porreta o suficiente para paramentar-me como tal. E asseguro que infinitamente bem mais me enquadro na categoria dos malucos de um modo geral, porque, de certeza certa, tendo nascido em Todavia difícil seria não levar pau no mais comezinho psicoteste que me avaliasse o juízo. É bem verdade que a minha maluquice ainda não me leva às bolinhas tarjas pretas dos laboratórios de remédios nem a dar gosto, em conversa fiada de divã, aos psicanalistas de plantão, apesar de lhes ter em altíssima conta, desde que não me custe o ônus de pagá-la.

Como em Cartas Anônimas, uma hilariante história de intrigas, paixão e morte, seu segundo livro (Geração Editorial, 2011), vê-se que a surreal cidade baiana de Todavia volta a servir de palco para o seu novo romance. Todavia existe de verdade ou é mais uma de suas colhudas, ou imposturas, como achar melhor classifica-la?

Todavias
existem na vida de tantos quanto eu viveram parte de sua existência em pequenas cidades e vilas rurais, do interior do Brasil ou não. A minha Todavia é um burgo ficcional construído a partir de umas tantas vivências que pude viver, na criancice, na juventude e até mesmo agora, quando já nem sou mais criança nem tão jovem, mas um confesso avô de neta única, pois não! Como em Cartas Anônimas, em O Avião de Noé Todavia volta a ser a cena de toda a trama, com breves passagens pela cidade de São Salvador da Bahia, o que não quer dizer que em meus próximos romances memoriais a coisa não se passe em Entretanto ou Contudo…

Foi mais fácil tornar hilariante uma história de inventores, impostores, escritores e malucos de modo geral, como no caso de O Avião de Noé, do que fazer o mesmo com uma história de intrigas, paixão e morte, que subintitula o seu livro Cartas Anônimas?

São coisas bem distintas e singulares, intrigas, paixão e morte de um lado, inventores, impostores, escritores e malucos de um modo geral de outro. No entanto, em ambos os universos eu tentei buscar, com o mesmo empenho, o surreal, o burlesco, o farsesco, o escatológico de maneira a garantir ao leitor uma apreciável diversão. Se sadia ou não, só ele poderá avaliar.

Vê-se que diversos personagens todavianos de Cartas Anônimas voltam a aparecer em O Avião de Noé

Garanto-lhe que não foi por medida de economia, até porque muitas novas figuras aparecem e vivem na trama de O Avião de Noé. Ocorre que para mim é extremamente difícil Imaginar a minha Todavia sem gente do calibre do monsenhor Galvani, do juiz Efraim, do gato Bangu, do tenente Ludovico e tantos outros, justo os que a tornam única e desigual nesse pedaço de Bahia que se chama Recôncavo.

De onde o senhor tira traços tão vitais, apesar de absurdos e incomuns, para alguns dos seus personagens?

Prestando um pouquinho mais de atenção na vida. Eu sou viciado em apreciar gente, de todas as idades, bitolas, origens e manias. Sou capaz de ficar bestando, horas e horas a fio, assim, sentadão num canto, só a olhar, a ouvir ou a tentar imaginar que papel aquele cara que vai justamente passando por ali, anonimamente, perdido na multidão das ruas, reserva para si próprio, neste imenso teatro que é a vida real. Como sou, apesar de meio escabreado para certas coisas, um camarada que gosta de jogar conversa fora, sempre tive ouvidos atentos para escutar conversas de garçons, taxistas,velhinhos e velhinhas, aposentados de um modo geral, vagaus, miguéis, malucos, colhudeiros, psicólogos, analistas, circenses, economistas e companhia bela, que sempre tiveram em mim um interessado interlocutor. Ou seja, se depender de mim ninguém morre de tédio por falta de plateia ou ausência de um par de ouvidos amigo.Posso não dispor de ombros tão aconchegantes para amparar os aflitos quanto disponíveis são os meus ouvidos para ouvir de tudo,besteiras e desimportâncias, sobretudo. Não tenho o bíblico pão que alimenta nem a palavra que consola, mas tenho ouvidos fantasticamente atentos. E é daí, dessa sinergia, que saem eles, esses vossas excelências de qualquer romance, os personagens. Tento dar-lhes vida e, vidadada, não tem quem os segure mais. Encurtando a história e abreviando o enredo, a inspiração vem desses anjos e demônios de todasas ruas, de todos os becos e de todos os cantos. Eles entram no meu juízo e do meu juízo não saem mais, nem à força de mil Freuds,enquanto não virem texto.

A linguagem coloquial, com expressões populares, deixa a obra mais fácil de ler. Essa foi a sua intenção?

Diria que a linguagem coloquial vem muito mais dos personagens que de mim. Você pode até conceber um canalha qualquer que use 
uma linguagem empolada, cheia de esses e erres. Na política, inclusive, isso abunda. Mas, você já viu puta se expressar como freira de convento, por exemplo? Então, busco fazer com que os meus heróis e anti-heróis, os meus mocinhos e os meus vilões, todos saídos do seu mundinho muito particular, se soltem e se sintam à vontade nos meus livros. Assim eles o são, assim eles falam.

O humor negro está presente em alguns momentos da narrativa. Essa é a sua principal característica?

Mas que culpa tenho eu se a morte é uma coisa, digamos assim, a um só tempo trágica e engraçada? Você já viu a cara ridiculamente cômica que têm alguns defuntos? Você já prestou atenção em quantas situações absolutamente surreais essas mortes se dão? Quem já não reparou, nos vivos, os gestos, caras e bocas diante dos seus mortos em velórios, nos enterros, nas missas de sétimo dia?
Alguma vez você já reparou na histriônica pieguice dos anúncios fúnebres? Você já notou a invulgar variedade e a diversidade de modelos dos caixões de defunto, com seus adereços, penduricalhos e nomes exóticos? (Eu mesmo vi, com os meus próprios olhos, num catálogo de funerária, um sarcófago com o interessante nome de Copacabana, sonho azul número dois!). Então, veja nos filmes de Buñuel, nos de Federico Fellini, nos de Almodóvar, nos de François Truffaut, entre tantos outros, com que bom humor tais funéreos eventos são tratados. Se isto é humor negro, vermelho, lilás, cor-de-abóbora ou rosa-choque eu não sei. Sou meio daltônico. Mas que a morte, em algumas das suas circunstâncias, enseja o riso…

O livro tem uma narrativa rápida e intensa, os personagens chegam a “saltar” em nossa frente. Quem são os seus autores preferidos?

Entre os baianos, li quase todos os livros de Jorge Amado e todos os de João Ubaldo Ribeiro. Aliás, aí beirando os 18 anos, fui colega de João Ubaldo no já extinto Jornal da Bahia e também fui redator de propaganda em uma fantástica agência da Bahia, a Unigrafe, da qual ele era um dos donos. Foi o meu segundo emprego e até hoje me orgulho não só de ter trabalhado com João como de ter na minha carteira de trabalho não a assinatura de um patrão qualquer, mas o autógrafo de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. A poesia de Florisvaldo Matos, Fernando Peres, Ruy Espinheira Filho e João Carlos Teixeira Gomes também tem espaço cativo entre as minhas leituras. Gosto que me enrosco da literatura de cordel, notadamente dos folhetins paridos por dois verdadeiros gênios na arte: Cuica de Santo Amaro e Rodolfo Coelho Cavalcante. Vez por outra revisito alguns romances do finado Guido Guerra, um sujeito de escritura muito porreta, e lembro-me ainda hoje do quanto era bom ler, nas madrugadas, como revisor de texto do jornal em que dava os meus primeiros passos, os artigos que Glauber Rocha escrevia sobre cinema. Baianos fora, gosto demais do Marcelo Mirisola, do Dalton Trevisan, do Pedro Nava, sem falar dos mais clássicos, Machado de Assis, Augusto dos Anjos e vida que segue que a nossa literatura é muito rica. Entre os de lá de fora, Saramago, Bolaños, Llosa, Borges, Gabriel Garcia Marques, Ohran Pamuck, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Gunther Grass, entre outros. Ainda agora estou lendo, pela primeira vez, um contemporâneo português, o Antonio Lobo Antunes, fantástico, inovador, instigante, em seu premiado Os cus de Judas. Entre os de Angola, vou de Pepetela com muita vontade. Gosto demais dos italianos Schiachia e Verga, com sua literatura acentuadamente focada na Sicília. Leio muito desde sempre porque gosto. E não desprezo nem mesmo os anúncios classificados dos jornais, onde se vende, se compra, se empresta ou se troca de tudo, de meninas de programa a garotos de michês, de fusquinhas em estado de novo a pavões amestrados, sem falar dos videntes e das cartomantes e dos agradecimentos comovidos a Santa Edwirges, protetora do endividados, pelas graças alcançadas, amém!

Como jornalista, o senhor trabalhou em quais redações?

Assim de sentar a bunda e trabalhar firme, mesmo, trabalhei no Jornal da Bahia e na sucursal baiana do Correio da Manhã, então sob a chefia de James Amado, irmão do Amado Jorge, eu novinho em folha, ele já meio coroa, o James, bem mais ousado do que eu, hoje já morto, infelizmente. Nos anos oitenta escrevia, semanalmente, umas coisas metidas a engraçadas para o Pasquim e para A Tarde, da Bahia. Desses, viva e forte ainda cá só A Tarde. Os demais finaram-se, lamentavelmente. Fiz também alguns frilas, sempre regiamente bem pagos, para o Jornal do Brasil, Veja, Istoé, Senhor, entre outros.

Saiba mais: O Avião de Noé  
Leia o primeiro capítulo: O Avião de Noé  

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