ADHEMAR |
DEUSES DO OLIMPO |
||
OS VENCEDORES |
A VILA QUE DESCOBRIU O BRASIL |
||
O BRASIL PRIVATIZADO |
CENTELHA |
||
MALUCA POR VOCÊ |
NOS IDOS DE MARÇO |
A literatura é inútil?
Ilustração: Guilherme Paixão
Sabemos do que precisamos? Creio que não. Estamos em outro polo, povoado por aqueles que deixaram tudo, menos a razão. E só não deixamos a razão pois acreditamos que seja útil à nossa busca pelo “progresso”. Sacrificamos a beleza, as tradições, os valores e – dentre outras coisas – a literatura, pois tudo isso se tornou descartável e inútil para a cultura do “progresso”. Mas a literatura é, sim, necessária.
Para compreendermos a importância da literatura e sua relação com o todo, é preciso um olhar atento à Idade Média, esse período livresco e clerical, pois os medievais nos provaram a importância dos livros. O Medievo herdou obras heterogêneas, a ponto de se ver obrigado a organizá-las, sistematizá-las e harmonizá-las. O resultado disso? Uma civilização rica em imaginação e conceitos: A Divina Comédia, de Dante, e a Suma Teológica, de Tomás de Aquino, são frutos desse período. A imaginação desenvolvida nessa cultura livresca se estendeu ao entendimento medieval do cosmos, da natureza e de outras áreas do conhecimento.
Apenas nos livros antigos somos postos sob uma luz que nos revela aquilo que não somos capazes de ver sozinhos
A sobrevivência do papel do “mito” – exemplificado pelo ciclo arturiano – é outro elemento a ser destacado desse período. Os medievais eram bons tanto na conservação de livros quanto na conservação dos termos e seus significados. O conceito de “mito” é um “relato significante”, entendimento oposto à leitura atual da palavra, rapidamente associada a algo mentiroso e infantil. Toda mitologia serve, desde os gregos, para fins didáticos e melhor formação do indivíduo, não levando em conta se as histórias contadas são verídicas ou não.
Dos muitos aprendizados que nos foram concedidos por esse período, destaco dois. O primeiro é sobre a importância dos livros antigos e da releitura dos clássicos, pois é no ato de retornar e relê-los que aprendemos sobre nossa própria situação sociocultural, suas demandas e virtudes. Apenas nos livros antigos somos postos sob uma luz que nos revela aquilo que não somos capazes de ver sozinhos. O segundo aprendizado é sobre o quão importante é a imaginação. Se um medieval pudesse vir a nosso tempo e testemunhar que limitamos a nossa imaginação a temáticas infantis, creio que nenhum avanço tecnológico poderia surpreendê-lo tanto quanto esse triste fato. Como afirmavam C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien, dois estudiosos e entusiastas do período medieval, a imaginação é a ferramenta pela qual podemos experimentar vislumbres do transcendente, daquilo que ainda está por vir e que é eterno.
Leia também: Recuperando a capacidade de ler com Dante Alighieri (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 24 de setembro de 2018)
Leia também: Como os livros salvaram a minha vida (artigo de Kevin Powers, publicado em 20 de junho de 2018)
Sou otimista. Acredito que a literatura tenha, sim, lugar em nossa sociedade, e ela tem o poder de não só manter como também de restaurar nosso entendimento das coisas. A tecnologia passa, mas as velhas folhas de papel sempre resistirão ao tempo. É empolgante poder conversar com diferentes pessoas de diferentes países com apenas um clique, mas só quem retornou aos antigos livros sabe a experiência que é poder conversar com aqueles que já se foram. Em uma sociedade on-line, é preciso estar off-line para aprender e experimentar o melhor da vida.
Pedro Miquelasso é colunista do Tolkien Talk YouTube Channel com foco em C.S. Lewis e desenvolvedor de conteúdo no The Pilgrim app.”
Fonte
Impeachment ou golpe? O jornalista Paulo Moreira Leite disserta sobre a operação mais famosa do Brasil com outra visão
A segunda edição da obra A Outra história da Lava-Jato, publicado pela Geração Editorial,
narra minunciosamente a investigação política que teve repercussão internacional
No mês de outubro, a Geração Editorial lança a segunda edição do livro A Outra História da Lava-Jato’, do jornalista Paulo Moreira Leite, com uma parte adicional que discorrerá sobre ‘o golpe’, que foi instituído pelo senado em setembro de 2016. O autor considera o impeachment a maior ruptura institucional ocorrida no país desde a ditadura de 1964.
A primeira edição, impressa em 2015 e esgotada após vender 10 mil exemplares, aborda as fragilidades jurídicas relacionadas às estratégias utilizadas na operação que teve repercussão mundial, que segundo ele, “se transformou em uma operação contra a democracia”.
Leite salienta as campanhas midiáticas para a obtenção do apoio popular e, de forma seletiva, instituíram no imaginário das pessoas que esse processo seria para limpar a República.
“Em 2008, o ministro Eros Grau falou para a história: “Pior que a
ditadura das fardas, é a ditadura das togas,
pela credibilidade de que dispõe na sociedade.”
“O retrospecto do golpe que afastou Dilma Rousseff mostra a emergência do Judiciário,
um poder capaz de dar a última palavra nos assuntos de Estado, passando por cima
da soberania popular, pois não tem mandato para isso.”
De acordo com Leite, a primeira intenção da operação, em 2005, era afastar o Lula, que acabou caindo por terra, pois viram o tamanho do apoio popular que o ex-presidente detinha.
Conforme o autor, após 11 anos, em 2016, a Câmara dos Deputados aceitou por 367 votos contra 137 uma denúncia de impeachment formulada por três advogados de São Paulo, contra a presidente eleita. A alegação foi por conta das conhecidas como ‘pedaladas fiscais’, termo criado por jornalistas para descrever mudanças internas no orçamento federal, que nunca definiram um conceito preciso, nem mesmo foram definidas como crime de responsabilidade.
“A Lava-Jato funcionou como um golpe de misericórdia num tripé socioeconômico que deu sustentação aos processos ocorridos em 2003 e 2015. Este pacto triangular reuniu o governo, as empresas e as grandes massas de trabalhadores, em especial as camadas superexploradas de assalariados.”
O objetivo da obra é demonstrar a proporção atingida por essa operação, no âmbito sócio econômico formado por empresários, estatais e lideranças políticas, e ajudar a compreender o papel que fatores políticos desempenharam no agravamento da recessão que o país atravessa.
Sinopse: Encerrada em setembro de 2016, dias depois que o Senado aprovou o impeachment de Dilma Rousseff, a segunda edição de “A outra história da lava-jato” contém um capítulo novo, que narra, em minúcias, a mais grave ruptura institucional ocorrida no país depois do golpe militar de 1964. Num relato que combina acontecimentos decisivos a uma análise em profundidade dos interesses envolvidos em cada situação, Paulo Moreira Leite mostra o nascimento de uma articulação subterrânea que, antes dos protestos de junho de 2013, já tinha como objetivo encerrar o ciclo de governos comprometidos com os interesses da maioria dos brasileiros, iniciado com a posse de Lula no Planalto – fosse através das eleições marcadas para o ano seguinte, fosse através de um golpe de Estado.
Sobre o autor: Diretor do site Brasil 247 em Brasília, Paulo Moreira Leite foi correspondente em Paris e em Washington. Jornalista desde os dezessete anos, foi redator-chefe da Veja e diretor da Época e IstoÉ. Mantém o blog http://www.brasil247.com/author/Paulo+Moreira+Leite. Também publicou o livro
“A outra história do Mensalão” (Geração Editorial) e “A mulher que era o general da casa”, sobre a resistência civil à ditadura militar (Arquipélago).