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A lista de supermercado de Michelangelo
Nem os gênios conseguem fugir das tarefas do dia a dia.
Mas dá pra terceirizar. Um dos poucos papéis sobreviventes do artista data entre os séculos 15 e 16. trata-se de uma lista de supermercado que ele deu a um assistente encarregado de buscar seus alimentos. Apesar dos desenhos na lista parecerem coisa de artista, eles estavam ali para cumprir uma função, já que o servo encarregado da missão era analfabeto.
A lista é arquivada no Museu Casa Buonarroti , em Florença na Itália, junto de outras notas manuscritas de Michelangelo.
Fonte: IdeiaFixa
A literatura é o único instrumento realmente capaz de mudar o homem
POR EDIVAL LOURENÇO
Antes que falemos de Literatura propriamente, há um fator que antecede que é oportuno mencionar. A Literatura, antes mesmo das inscrições rupestres e das escritas cuneiformes, já existia em sua forma oral. É fácil imaginar o Homo sapiens, ainda na era das cavernas, no fim do dia, início da noite, ao redor do fogo, narrando suas façanhas de caçador. Certamente aquele que tivesse a melhor estratégia narrativa acabava por angariar vantagens competitivas naquela civilização incipiente. Poderia exercer algum posto de liderança e comando, reivindicar as melhores glebas de caça e coleta de alimentos, reservar para si as mulheres mais saudáveis e gerar as proles mais bem sucedidas. É razoável crer que pela prevalência do mais apto, somos descendentes diretos de uma linhagem de trogloditas contadores de histórias. As linhagens sem aptidões narrativas se perderam pelo caminho.
Mas o registro literário desde a escrita rupestre, passando pela escrita cuneiforme, pelo papiro, pelo pergaminho, pelos incunábulos dos escribas dos mosteiros medievais, sempre permeou a vida da humanidade. Mas só o suporte de papel, em um chumaço impresso e encadernado, numa técnica desenvolvida por Gutenberg, no século 15, vulgarmente conhecido como livro, permitiu a disseminação massiva dos conteúdos literários.
A propósito, quem milita com Literatura neste mundo de coisas utilitárias de hoje em dia, às vezes se vê instigado a responder de pronto: Para que serve mesmo a Literatura? A resposta parece óbvia, mas na hora de responder assim de chofre e de forma objetiva, acaba-se caindo em apuros.
Em primeiro lugar, para se dar uma resposta que convença minimamente, será preciso admitir que há, ainda hoje, certos fatores que entram na composição das forças do mundo que são, digamos, sutis. Como a força do Papa, que não tem nenhuma divisão de brigada, mas, ao longo da história, conseguiu interferir em muitas guerras e questões relevantes para o mundo. São forças não passíveis de avaliação imediatamente em números, peso, medida ou valor monetário. São coisas que não entram no cálculo do PIB, nem no superávit primário, mas são primordiais. Como o ar que respiramos, que ninguém calcula o seu preço, mas sem ele não existiríamos para dar preço às outras coisas. Com uma diferença significativa: o ar é natural; a Literatura é invenção humana, no desenrolar da cultura em seu processo civilizatório. Seja como for, valendo-me inclusive de um ensaio de Umberto Eco, aí vão alguns exemplos de utilidade da Literatura que consegui elencar:
1º — A Literatura contribui para a formação, estabilização e desenvolvimento de uma língua, como patrimônio coletivo. O que seria da língua portuguesa sem Luís de Camões? O que seria do Italiano sem Dante Alighieri? O que seria do Espanhol sem Cervantes? O que seria do Inglês sem Shakespeare? O que seria da Civilização e da língua grega sem Homero? O que seria da língua russa sem Puchkin? É bom lembrar que impérios que não tiveram uma Literatura que sobressaísse entraram em decadência sem alcançar o apogeu, como o vasto império Mongol de Genghis Khan, o maior em extensão territorial da história.
2º — A Literatura mantém o exercício, o arejamento, o frescor da língua, que é o principal fator de criação de identidade, de noção de comunidade, do sentimento de pátria e pertencimento a uma placenta cultural que nos acolhe e nos dá sentido à vida tanto individual quanto coletivamente.
3º — A Literatura proporciona o aprendizado, de uma forma lúdica e segura, ao mesmo tempo em que permite o acesso das novas gerações aos valores acumulados pelo processo civilizatório e universalmente aceitos como válidos, como a honestidade, o respeito ao próximo, a importância da cultura, enfim a transmissão de valores morais, bons ou ruins e o senso crítico de escolha dentre eles ou até de rejeitá-los.
4º — A Literatura expande a rede neural do leitor, possibilitando a diversidade das ideias, a capacidade de reflexão, a noção de flexibilidade e a tolerância para com o diferente, proporciona a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro — pré-condição para a existência da ética na sociedade), prevenindo as pessoas contra o sectarismo político, ao fanatismo, à submissão cega a líderes maliciosos, a ideologias e a religiões.
5º — A Literatura enseja o surgimento e a disseminação de valores estéticos, aguça a sensibilidade, introduzindo na vida das pessoas o verdadeiro sentido do belo, distinguindo-nos da fauna geral, onde gosto não se discute.
6º — A confabulação da literatura nem sempre segue o caminho retilíneo desejado pelo leitor, possibilitando a ele entrar em contado com a frustração ficcional, como exercício de amadurecimento para o enfrentamento das frustrações reais impostas pela vida de fato, às quais é bom que resista e supere.
7º — A Literatura, como toda arte, estimula o cruzamento de informações, possibilita a sinergia do pensamento, amplia a visão da realidade e até cria realidade nova.
8° — Pelo que foi listado, a Literatura não é uma panaceia — remédio para todos os males —, mas a base, a plataforma de lançamento de cidadãos melhores, numa sociedade portadora de um clima onde pessoas de boa vontade possam ver implantados seus ideais de paz, respeito, leveza, cordialidade, lisura, honestidade, preservação e desenvolvimento sustentado.
Certamente o leitor verá na Literatura “utilidades” diferentes ou mesmo complementares a estas.
Fonte: Revista Bula
Ri melhor quem bate panela por último.
Marcius Cortez
Em 50: Fora Getúlio. Vamos acabar com o mar de lama. Getúlio se mata.
Em 60: a Casa Grande e o Tio Sam puseram os milicos para derrubar o João Goulart. A democracia foi para o beleléu e a Ditadura Militar reinou por mais de vinte anos de chumbo.
Em março de 2015, segundo os organizadores, 1 milhão de pessoas, vestindo as camisas da CBF, lotaram a Avenida Paulista para o Fora Dilma.
Bobo é quem diz que a história do Brasil não prima pela coerência. Em boa hora já está à venda nas livrarias o mais novo míssil da dupla que acumula histórias secretas dignas de deixar o Yul Brynner, o careca mais famoso do cinema, de cabelos em pé. Os jornalistas Mylton Severiano (Myltainho) e Palmério Dória já implodiram a corrupção na era Sarney em “Honoráveis Bandidos”, aquele em que a capa é a foto do ex-Presidente de óculos escuros fazendo o gênero Al Capone. Em seguida, o paraense de Belém e o paulista de Marília produziram o molotov que é “O Príncipe da Privataria”, o relato documentado de como o país perdeu seu patrimônio e Fernando Henrique Cardoso ganhou sua reeleição. E agora na terça-feira da semana passada, na Saraiva, do Shopping Higienópolis, 14 de julho, foi o lançamento do seu último rugido, “Golpe de Estado”, publicado com esmero pela Geração Editorial. (Prefácio: Fernando Morais. O livro tem uma boa diagramação, uma capa interessante, um acabamento profissional e respeita o leitor que paga apenas 29 reais).
Os autores argumentam que o Brasil vive em estado de golpe permanente. Um trem-fantasma, um susto em cada curva. Ao menor enxerimento da senzala, a Casa Grande prontamente dá uma festinha, reúne os amigos e a conspiração contra a vontade popular consagrada nas urnas reacende as cinzas dos retrocessos da História. Então prenda-se e arrebente o pessoal que estava pondo lenha na fogueira, ateando fogo no circo. Isso já aparece nas primeiras páginas pretas que abrem o livro. Precisamente na quinta página de fundo preto o texto diz: “o golpe de 1964 configurou um estelionato de proporções continentais, mediante o qual alguns golpistas, sob a alegação fraudulenta de pôr fim à subversão e à corrupção, obtiveram vantagem ilícita para si e para outros em prejuízo de milhões de brasileiros”.
O golpe de 64 foi um passeio. Estalou-se o dedo e no ato, a vaca fardada soltou as tropas de Minas para o Rio, a Fiesp entregou a mala para o Kruel, o Gilmar Mendes de plantão bolou uma roupagem constitucional para o crime e as Forças Armadas e a Polícia Militar (que sempre foram “um dos nossos”) se encarregaram do resto assassinando, prendendo e torturando. A Casa Grande festejou. Auro Moura Andrade declarou que a cadeira da Presidência estava vaga (mesmo com João Goulart ainda em terras brasileiras) e, num passe de mágica, Lincoln Gordon assumiu a gerência.
São 32 capítulos. Breves, mas consistentes. No primeiro já tem um “furo”: a lista que o braço direito da ditadura publicou em sua primeira página dedurando aos milicos os intelectuais “que trabalharam pela implantação do regime comunista do Brasil”. A manchete do jornal O Globo, de 7 de abril de 64, era “Fundação do Comando dos Trabalhadores Intelectuais”. No bloco de texto, segue o manifesto e as assinaturas de escritores, jornalistas, críticos, cientistas, compositores, artistas plásticos, atores, cineastas, dramaturgos, humoristas, cantores, economistas. Myltainho e Palmério republicam os principais trechos da delação e a relação completa dos perigosos comedores de criancinhas, entre eles, o marxista da linha Groucho Marx, o cearense Chico Anysio. Consulte na página 28 os nomes dos outros meliantes. Imagine o orgasmo dos cartolas “globais” ao verem a deduragem estampada na capa do jornal. Eles sempre se derreteram pelo ódio à inteligência, pois o negócio dos Marinhos é a mentira e a mediocridade.
A vida é interessante. A lição de ética em termos de jornalismo ocupa as 263 páginas do “Golpe de Estado”. A cada denúncia apresentada, publica-se a prova. Leia o capítulo 9 (“Como o Brasil escapou de virar Brasil do Norte e Brasil do Sul”) e veja como Palmério e Myltainho constroem a notícia da Fiesp ao entregar duas malas de dinheiro (um milhão de dólares?) para o General que ficara embaçando o apoio à Redentora. Pois é, como podem o Myltainho, o Palmério que um dia estavam trabalhando aqui e no dia seguinte estavam trabalhando acolá, logo eles, “porra-loucas”, como podem ter esse tipo de preocupação quando o procedimento adotado pelos “guardiães da moral” é fazer um escarcéu publicando a denúncia e anexando como prova a fita sem áudio.
Aprecio a seriedade quando o livro aborda assuntos como a proposta para extinguir a Polícia Militar ou o problema da reforma agrária que ainda não se fez ou se o golpe de 64 foi contra Brizola e não contra os comunistas, ou então, quando pior do que a Gestapo prendeu-se, torturou-se e calou-se a arte brasileira. Os autores entrevistam quem estava lá, quem pulou a fogueira. No primeiro caso, eles ouviram o cientista político Luis Eduardo Soares, ex- Secretário Nacional de Segurança Pública no governo Lula que responde seis perguntas de uma substanciosa entrevista. Sobre a reforma agrária, tema vital para o desenvolvimento do País, leia o sensacional depoimento do “lúmpen internacional”, José Luiz del Roio, página 41. Para falar de Brizola, os jornalistas conversaram com o gaúcho Carlos Araújo, militante do PDT, partido fundado por Brizola. O depoimento é uma bela aula de história remetendo a Getúlio, a Jango e a Brizola. Araújo foi membro da organização guerrilheira Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, ele e sua mulher, a Presidenta Dilma Rousseff. Sobre cultura, o depoimento é do ator, dramaturgo, diretor e encenador José Celso Martinez Corrêa. São 10 páginas dedicadas ao artista voltado para o contato com o corpo quântico “porque a tendência hoje é as pessoas se manterem fechadas para o outro. As pessoas não têm percepção de si mesmas”.
Em alguns capítulos do “Golpe de Estado”, os autores abrem espaço para o disco de risadas. Confira a hilariante história dos macacos subversivos das praças XV e da Alfândega, em Porto Alegre. Um deles foi detido para interrogatório e o outro ficou preso, “incomunicável”. Tem também aquela da Dona Lurdinha, a eterna secretária da Casa Civil, em Brasília. Dou um doce para quem não ficar a gargalhar no final do capítulo 32, o último do livro. E para encerrar a obra, tem a Linha do Tempo, apuradíssimo retrato do Brasil de 1882 até os dias de hoje. As nossas principais datas e fatos históricos pinçadas com rigor e para não perder a “deixa” com o indispensável bom humor. Tomo a liberdade de divulgar a minha preferida. O lema do jornal A Lanterna, anarquista, publicado em São Paulo: “Urge enforcar o último rei com as tripas do último frade”.
Todos nós estamos vendo que a situação está mais para jacaré do que para beija-flor. Myltainho, uma das mentes mais brilhantes do jornalismo brasileiro, nos deixou em maio de 2014, aos setenta e quatro anos. Palmério Dória continua na trincheira, lutando para honrar o compromisso de contar boas e verdadeiras histórias para as pessoas. Prezo ser seu amigo, julgo-me um sortudo por tê-lo como uma das minhas fontes para entender o Brasil. Sua visão independente, crítica em relação ao radicalismo de certa esquerda, longe de qualquer dogma, de qualquer partido político e dos nauseabundos gigolôs da cultura tem muito a ver comigo. Somos da geração criada sob o lema de Proibido Proibir. Nossa consciência libertária diz que é para liberar geral. Pode tudo, só não pode é ser coxinha. O problema nem é a arrogância, o preconceito, o analfabetismo político, o fascismo, o problema é quando ficam de quatro, eles não conseguem mais levantar.