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Jornalista diz que jovens desconhecem história da ditadura militar
A jornalista Daniela Arbex disse na terça-feira, 4, que os jovens desconhecem a história da ditadura militar no Brasil quando saem às ruas em manifestações pedindo a volta do regime. Para ela, apesar de vários livros sobre o assunto, há ainda muitas histórias ocultas sobre o período.
“Ela [a ditadura] não é uma história que todo mundo já contou, tanto é que temos 434 mortos e desaparecidos [políticos] pelo país. Então, é puro desconhecimento”, disse ao participar do programa ‘Espaço Público’, da TV Brasil, que nesta semana foi gravado.
Jornalista investigativa, Daniela Arbex é autora do livro Holocausto Brasileiro, que retrata a vida dos pacientes no Hospital Colônia de Barbacena, e está lançando o livro Cova 312, que conta a história de Milton Soares de Castro, um militante da Guerrilha do Caparaó, assassinado durante a ditadura militar no Brasil.
Para a jornalista, há uma resistência dos jovens para informar-se sobre o tema, mas ficam impressionados quando descobrem as histórias. “Eles não se interessam pela nossa memória, pela história recente do Brasil. E isso é um perigo porque acabamos reproduzindo esses modelos que levamos tanto tempo para vencer, como pedir a volta da ditadura, como dizer que ‘bandido bom é bandido morto’”.
Seria necessária uma mobilização permanente para apuração e punição dos crimes cometidos na ditadura, segundo Daniela, como ocorre em outros países da América do Sul, para que as pessoas tenham a consciência sobre os danos causados pelo regime.
“A nossa mobilização começou muito tarde, em relação a formar uma comissão para investigar [os crimes da ditadura]. A primeira tentativa de fazer uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] foi em 1995, muito tarde. A Argentina nunca se desmobilizou, essa busca pelos seus mortos e desaparecidos é permanente”, argumentou a jornalista, que trabalha no jornal a Tribuna de Minas, de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
“Não houve nenhum ajuste de contas [julgamentos, no Brasil]. Temos uma lista com mais de 300 torturadores, essa lista foi divulgada [pela Comissão Nacional da Verdade] e ficou por isso mesmo. Poucos torturadores foram chamados e foram ouvidos”, disse.
*Carolina Pimentel.
Fonte: Portal Comunique-se
Assim vamos, do conservadorismo ao agringalhamento da educação
A professora e historiadora Maria Aparecida de Aquino havia sido recentemente convidada para um programa de debate na TV Cultura de São Paulo. Agradou, e a produção a chamou para as três sextas-feiras seguintes, uma produtora ligaria na quinta para acertar. Não ligaram, ela ligou. Ouviu que estavam remodelando o programa e, na outra sexta, ela participaria. Não ligaram, ela ligou. Com novas desculpas, a produtora informou que sua participação estava cancelada. A mestra está preocupada: “Há uma coisa perigosa no momento, uma onda de conservadorismo muito forte. Vocês sabem que eu fui demitida do Mackenzie?”.
Ela coordenava a pós-graduação em Educação, Arte e História da Cultura. Não por acaso, o Mackenzie a manda embora em dezembro do ano seguinte à posse do novo reitor, em março de 2011. O diretor que comunica a demissão justifica que Maria Aparecida estuda o regime militar — “sua perspectiva é crítica e isso não interessa ao nosso programa”. Então, diz ela, “precisamos tomar cuidado com essa onda de conservadorismo, porque ela pode entornar o caldo”. O novo reitor, Benedito Guimarães, pertence à Igreja Presbiteriana.
Foi do teto do Mackenzie que partiram tiros contra a Faculdade de Filosofia na rua Maria Antônia, em 2 e 3 de outubro de 1968. Durante dois dias, estudantes de esquerda da Filosofia e estudantes de direita do Mackenzie travaram a Batalha da Maria Antônia, com paus, pedras, rojões, coquetéis molotov, ácido sulfúrico — e as armas de fogo dos mackenzistas, entre eles membros do CCC — Comando de Caça aos Comunistas. Pela uma e meia da tarde do dia 3, um repórter fotográfico flagra cinco deles no teto de um prédio da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cujo reitor havia apoiado o golpe militar. Um, à frente do grupo, faz pontaria com uma carabina. Cá embaixo ouvem-se gritos de “ambulância! ambulância!”, e vêm carregando o estudante José Carlos Guimarães, colegial que ia a uma livraria e, resolvendo engrossar as hostes da turma da Filosofia, levou aquele tiro na cabeça, que o matou antes de chegar ao hospital. Testemunhas identificaram o atirador como Osni Ricardo, do CCC e informante da polícia.
O retrospecto ajuda-nos a considerar a advertência da professora Maria Aparecida sobre o cuidado a tomar com a onda de conservadorismo que paira no ar. Nós lhe perguntamos se aquela noite de vinte e um anos, que vai de 1964 a 1985, não baixou sobre nós para piorar vários aspectos da vida cultural brasileira, a educação principalmente, área em que Maria Aparecida atua desde 1974, primeiro no ensino médio e fundamental, por vinte anos, depois no ensino universitário. Ela concorda: “Na educação é uma tragédia. O que observei do que eles fizeram ao longo desses anos todos foi destruir completamente a escola pública. E depois, lamento informar, já no período do Fernando Henrique, veio a segunda parte do processo, em que se ataca a Universidade”.
Ele aprofundou esse processo da ditadura?, perguntamos nós. “Eu não tenho dúvida. É doído, porque o que ele fez com a Universidade, com essa ideia das tais avaliações! As Universidades todas hoje se pautam pelas tais avaliações, ‘o que será que o MEC dirá quando fizer a visita aqui, que nota nós vamos tirar?’, tudo está pautado por aquilo que as comissões avaliadoras gostariam de ver.”
Funciona assim, segundo ela explica: “Nós temos um curso de História numa Universidade. Quando começa, ele vai receber a primeira avaliação. Vem uma comissão do MEC, normalmente com pessoas de diferentes estados. Eles vão fazer reuniões, com a direção, com os professores e com os alunos. Passam uns cinco dias dentro da escola”. A avaliação é trienal. A cada três anos sai uma nota. Da análise que fizeram, eles mandam a pontuação da escola.
“Para vocês terem uma ideia, o curso de História da Universidade de São Paulo tem a nota mais alta: sete. Já coordenei o curso de pós-graduação de História Social da USP. E houve uma articulação tremenda, e nessa articulação o nosso curso caiu, para manter só um com nota sete: o da Universidade Federal Fluminense.” As escolas, conta a professora, “ficam apavoradas”, pois se recebem nota abaixo de três em três avaliações seguidas, o curso é descredenciado pelo MEC: “Fecha!”.
Os critérios são “complicados”. Quando a nota da USP baixou, os avaliadores justificaram, segundo Maria Aparecida: “Vocês têm uma produção maravilhosa, mas… mas vocês têm aposentados demais no programa. Falei ‘tudo bem, mas nossos aposentados não são produtivos?’, se estão aposentados e ainda orientam, deviam era valorizar o curso”. Uma metáfora se forma na cabeça da professora Maria Aparecida de Aquino: “É uma faca que passa, e que acaba mediando tudo que a escola faz”.
Quatro meses antes, em Florianópolis, numa tarde do inverno de 2013, o professor Nildo Ouriques, economista, fundador do Iela — Instituto
de Estudos Latino-Americanos, nos recebia em sua sala da UFSC — Universidade Federal de Santa Catarina. Nildo apontou outro subproduto nocivo do modelo que a ditadura implantou: “O modelo brasileiro pré‑ 1964 era de ampliação da educação brasileira, nacionalização da educação e democratização da universidade. Depois da ditadura, começam a existir os excedentes e passa a existir o vestibular. O vestibular não foi extirpado após o fim da ditadura. Começou um sistema de cotas dentro do vestibular. Cotas para as classes sociais, negros, índios, cotas para escola pública. Mas se preservou o vestibular, quando teriam de acabar com ele”.
Criado na ditadura, o vestibular é mostrado como “virtude” quando se trata de “excrescência”: “O estado tinha de aumentar as vagas para atender a demanda”, explica Nildo. “Este é um aspecto: o vestibular segue, e não dá demonstrações de que vai morrer. Todo o mundo tenta dourar a pílula, ‘vamos democratizá-lo’. Papo furado!”
A escola pública foi degradada e a escola privada é um desastre, resume o mestre, contrariando o senso comum de que as universidades privadas é que oferecem hoje o melhor ensino. Sua fala seria amplamente comprovada quando, em janeiro de 2014, ficaríamos sabendo que, no estado mais rico do país, seis de cada dez recém-formados em escolas médicas, públicas e privadas, não atingiram o critério mínimo do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo — Cremesp — e os mais mal avaliados haviam saído justamente de universidades privadas, mais que o dobro dos formados em escolas públicas. O coordenador do exame, Bráulio Luna Filho, disse à imprensa que a condição para ser médico em certas escolas é poder pagar entre 4 mil e 6 mil reais por mês. Considerando a média e a duração de seis anos para o curso, pode-se dizer que no Brasil se pode comprar diploma de médico por 360 mil reais em setenta e duas parcelas mensais de 5 mil. E depois sair às ruas protestando contra o programa Mais Médicos, do governo federal, e a vinda de médicos cubanos para atender nos grotões para onde eles não querem ir.
Nildo Ouriques cita o antropólogo Darcy Ribeiro: “Ele publicou, em 1984, Nossa escola é uma calamidade, e repito até hoje: os professores
não estão dispostos a aceitar. Se eles aceitam que a obra no conjunto é uma calamidade, estarão achando que é o trabalho deles a calamidade.
É um equívoco”. Nildo escreveu com a jornalista Elaine Tavares o livro Crítica à razão acadêmica, sobre “a miséria da universidade”. Mas, para ele, é preciso “ir com calma” quando se fala no famigerado acordo Mec-Usaid. Ele tratou de estudar o assunto lendo os dois livros do acordo. Veio ao Brasil, por exemplo, um professor da Pensilvânia para fazer a reforma universitária em sua área, economia. Ele escreve em 1968 que nossas faculdades de economia padecem de um mal: não geram interesse, pois não estudam problemas brasileiros! “Está expresso no acordo: nacionalizar o pensamento econômico!”.
Perguntamos ao professor: a ditadura desprezou esta indicação do próprio professor americano? Responde Nildo Ouriques: “A ditadura agringalhou a educação brasileira, no sentido de from United States. E isso não foi mudado. Nem com Paulo Renato, nem com Haddad, com Goldenberg, com ninguém”. Segundo a visão de Ouriques, a ditadura montou um sistema de pós-graduação em São Paulo, criou a Unicamp — Universidade de Campinas —, “expandiu um pouco e parou”. Vindo a redemocratização, onde se pode ver “a maior colaboração da inteligência brasileira com a obra da ditadura é na pós-graduação”, avalia o economista, porque “foi feita dentro de um modelo perverso, para aprofundar o subdesenvolvimento e a dependência”. A ditadura cria os chamados núcleos de excelência, tomados “como virtude”, mas “na prática a expressão maior do subdesenvolvimento”: “Porque uma universidade de massa não era possível, no modelo de dependência”, completa Ouriques, “então fazem núcleos de excelência numa nação empobrecida e alguns grupos de mestrado, doutorado. Dão dinheiro só para alguns. Consiste em criar ilhas de modernidade num deserto completo. É a maior expressão do subdesenvolvimento, isso”.
O modelo, avalia o mestre catarinense, ganhou força depois, com a USP, a própria UFSC. “E virou um academicismo, que era o programa da ditadura. Outra herança, o sistema de pós-graduação brasileira. E o grosso da universidade, 90%, casou com o projeto da ditadura. Os tucanos, a intelectualidade, todos!”
Ouriques havia entrevistado naqueles dias o escritor Ariano Suassuna (16 de junho de 1927 — 23 de julho de 2014), de quem discordou num
ponto: “Suassuna acha que tem um movimento cultural, pelo menos na literatura. Eu acho que não tem. Qual a característica da cultura brasileira hoje? Não temos um movimento cultural no Brasil. O que temos é a vigência do colonialismo. Em todas as áreas. Desde o desenho gráfico das revistas, está agringalhado por completo. Gerald Thomas é o teatro!”.
É de rir, comentamos, e ele emenda: “Opa! Você não gosta, eu não gosto, mas é um ícone! Na televisão, talk-show: Jô Soares. É o empobrecimento completo. As editoras? Internacionalizadas. O centro cultural mais famoso de São Paulo é o Instituto Itaú Cultural, o outro é o Sesc: Sesc Pompeia, Sesc Brás, Pinheiros. São investidas empresariais. Qual é o movimento cultural que nós temos? Cinema? Acabou. Compare com a evolução do cinema argentino, gigantesco. No terreno da cultura, não sei… poderia dizer: para tudo a ditadura foi responsável. Porque ceifou vidas e tendências que estavam florescendo. Mas a ditadura acabou em 1985. Nós estamos envelhecendo na democracia”.
Fonte: Livro Golpe de Estado, de Palmério Dória e Mylton Severiano
Google Maps dos livros mostra onde cada história se passa.
Uma organização britânica resolveu usar o Google Maps e identificar as localizações de onde se passam as histórias contadas nos livros. Bacana, não é? A Lovereading já mapeou mais de 200 obras, inclusive, você mesmo pode adicionar algumas. Que tal fazer um passeio pela cidade do seu livro favorito?
“Tivemos a ideia de um mapa do livro por que o livro te transporta para o local onde ele acontece – e eu, por exemplo, sempre gosto de ler um livro baseado em lugares que eu vou viajar”, disse o diretor e co-fundador da Lovereading, Peter Crawshaw para a Wired.Confira aqui o mapa.
Clique no ícone e leia uma breve sinopse sobre o livro. Ainda não há obras cadastradas no Brasil. No entanto, é possível localizar clássicos como “O Amor Nos Tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez, em Cartagena; “On The Road”, de Jack Kerouac, em São Francisco; ou “Moby-Dick”, de Herman Melville, em Nantucket.
Fonte: Catraca Livre