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Futuro Bonito, de Cristovam Buarque
Foram poetas que disseram “o Haiti é aqui” para chamar atenção para a pobreza que existe em nosso País. Mas aqui também há cenários de riqueza que nos permitem dizer “a Europa é aqui”. Na educação, temos escolas parecidas com as dos mais pobres países, e experiências que nos lembram os mais ricos.
É possível dizer que “a Finlândia é aqui”, e está no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, mais exatamente na Escola SESC de Ensino Médio. Cada vez que a visito, sinto-me como se estivesse fora do País. Mais do que horário integral, o regime é residencial. Os alunos moram no campus da escola. As aulas são das 8h às 12h, com intervalo às 10h para um lanche; o almoço – de ótima qualidade –, é das 12h às 13h; e entre 13h e 13h45, os estudantes se reúnem com seu orientador. Têm aulas das 13h45 às 17h, com intervalo de 20 minutos para um lanche. Das 17h às 20h30, fazem oficinas de idiomas, artes, esportes, debates sobre atualidade e jantar. Entre 20h30 e 22h, é tempo obrigatório de estudos: dever de casa, leitura livre, assistir ao noticiário com orientação do professor e outras atividades; das 22h às 22h30, mais um lanche e às 22h30 as luzes são apagadas.
Os professores têm salário ao redor de R$ 9 mil e apartamento dentro do campus, para viver com a família. Mas exige-se deles dedicação exclusiva, integral e permanente aos alunos. A seleção é rigorosa, com base no currículo, na experiência e principalmente na manifestação de entusiasmo e envolvimento. São 80 professores para turmas de, no máximo, 15 alunos. Não é surpresa que alunos e professores constituam uma espécie de grande família envolvida com alegria, competência e rigor na educação de todos. As avaliações são constantes e rigorosas por disciplina, por temas multidisciplinares, por apresentações orais e “pelo olho” – o sentimento do empenho e do potencial do aluno, avaliado por equipes de professores.
Leia o texto na íntegra em http://www.geracaobooks.com.br/colunistas/colunista.php?id=967
Cristovam Buarque é engenheiro, economista, ex-reitor da UnB, ex-governador do Distrito Federal e atual senador da República pelo PDT. Autor de “A Ressurreição do General Sanchez”, “Astrícia” e “Admirável mundo atual”, pela Geração.
Os Herdeiros do Nada, de Luiz Fernando Emediato
Estão aí pelas ruas, tristes e solitários poetas da sarjeta Em 1977, um ano antes de abandonar Minas Gerais em troca da cidadania paulistana, conheci na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, um músico de rua que se chamava Casquinha. O povo o tinha como mendigo, mas ele fazia questão de esclarecer que não pedia e jamais pediria esmolas: tocava sua flauta. Quem quisesse pagar pelo espetáculo era só deixar cair algumas moedas no seu velho e furado chapéu. Gordo, meio cego, diabético e neurótico, Casquinha só desaparecia do seu conhecido ponto na avenida quando a Saúde Pública o recolhia à força.
Tocava bem, e não eram poucos os que ficavam ali admirando-o, e quando parava explodiam aplausos. Um diretor de teatro deu-lhe emprego: de terça a domingo tocava flauta num canto do palco, enquanto se desenrolava, ao longo de duas horas, uma tragédia doméstica envolvendo duas mulheres que se odiavam.
Atração especial, Casquinha tornou-se famoso na imprensa e acabou se apresentando nos programas do Chacrinha e do Sílvio Santos, como uma curiosidade. Quis então ser artista, mas riram dele e o expulsaram do estúdio.
Pobre Casquinha. Em 1979, já vivendo em São Paulo, encontrei-o na praça Patriarca, cego de um olho, cada vez mais gordo, doente.
Não me reconheceu. Voz fraca, quase surdo, já não tocava tão bem. Recusava-se ainda a ser chamado de mendigo, mas era o que era. Poucos paravam, agora, para admirar-lhe a arte, que ele procurava sofisticar tocando também um tambor, com os pés, enquanto agitava chocalhos amarrados nos cotovelos. No alto da cabeça, prendera uma latinha com grãos de milho. E, enquanto soprava a flauta, fumava. Pobre coitado. Pobre Casquinha. Decadente, enquanto músico, procurava chamar a atenção fazendo malabarismos. Assim se apresentou num programa de calouros. Foi vaiado. Estava no fim.
Frágil e ingênuo Casquinha. Eu o vi uma vez mais, nem me lembro quando. Depois sumiu. Pode ter morrido por aí, numa noite gelada, talvez tenha sido enterrado como indigente – quem sabe? Quando vou a Belo Horizonte, ando pela avenida Afonso Pena, e quando ouço som de flauta corro para ver se o encontro. Inútil: outros Casquinhas, menos criativos, mas da mesma forma desgraçados, deserdados, espalham-se por ali, recolhendo migalhas.
Confira a continuação do texto em http://www.geracaobooks.com.br/colunistas/colunista.php?id=448
Crônica retirada do livro A grande ilusão públicado em 1992
Entrevista com Harald Welzer, autor de "Guerras Climáticas"
Harald Welzer nasceu em 1958, atualmente é diretor do Centro de Pesquisas Interdisciplinares sobre a Memória do Instituto de Ciências Culturais de Essen, na Alemanha e professor-pesquisador na área de Psicologia Social da Universidade Witten/Herdecke. O jornal “Der Spiegel” o apresentou em um artigo publicado em agosto de 2007, compreendido em sua série dedicada a cientistas proeminentes, como um “espírito transformador e produtivo” de vasta penetração entre o público.
Geração – Qual foi a razão que o levou a escrever GUERRAS CLIMÁTICAS?
Welzer – Eu venho me ocupando com a temática da violência há muitos anos e me incomoda bastante que as pessoas sempre encarem esse tema historicamente, como se fosse coisa do passado. O que eu desejo fazer é uma tentativa de prognóstico.
Geração – Em alguns aspectos, esse livro é pessimista, inclusive pelo subtítulo adotado.
Welzer – Um mundo submetido às condições climáticas provocadas por um aquecimento global médio de apenas quatro graus será completamente diferente deste mundo que agora conhecemos. Mais pessoas morrerão de fome ou por falta de água potável; haverá mais conflitos, muitos deles resultando em guerras abertas. As disputas provocadas pela posse dos recursos remanescentes serão muito mais acirradas. Talvez uma parte importante da população mundial seja passada ao fio da espada, ou seja, pura e simplesmente massacrada, enquanto os “happy few”, os poucos favorecidos que sobreviverem, terão de procurar a melhor forma de administrar os recursos restantes.
Geração – Existe alguma forma de impedir que todas essas catástrofes aconteçam?
Welzer – O mais importante é que se forme uma conscientização de quais problemas devam ser combatidos. De que forma nossa sociedade deve ser realmente constituída? Já se passou tempo demais sem que essa pergunta seja respondida. Talvez ela deva ser totalmente diferente. A humanidade como humanidade sem dúvida terá algum tipo de futuro. Mas deixará de ser a humanidade que nós conhecemos, porém uma humanidade que, no âmbito de um grande modelo de integração consiga coexistir de maneira pacífica e saudável. Se as mudanças climáticas se realizarem de forma incontida, o comportamento da vida humana será dramaticamente transformado.
Geração – Qual é o primeiro passo a ser dado para que a população mundial não seja dizimada ao longo do século XXI?
Welzer – Podemos aproveitar nosso espaço de manobra de forma sustentável, focalizarmos outros temas, assumirmos outras perspectivas e estabelecermos novas formas de procedimento. É necessária uma mudança cultural a fim de que percebamos que somente as transformações técnicas não serão suficientes para a solução desses problemas, e só poderemos resolvê-los quando estabelecermos uma cultura eficientemente sustentável e que não permita nosso atual esbanjamento de recursos.
Geração – A criação de alguma tecnologia de conservação de recursos poderia auxiliar na resolução desse problema?
Welzer – Uma tecnologia de conservação de recursos somente funcionará dentro de uma sociedade de mentalidade conservadora. Uma sociedade aniquiladora de recursos sempre acabará tendo o efeito de devorar os recursos existentes em outros lugares. Isso é fácil de perceber se olharmos a indústria automobilística, em que os automóveis foram se tornando cada vez mais eficientes, mas ao mesmo tempo cada vez maiores e mais potentes. Pôr em prática uma modificação imediata da realidade social é, a meu ver, o único conceito capaz de promover algum sucesso.
Geração – É possível então salvar o mundo?
Welzer – Não devemos nos deixar estorvar pela crença de que não é possível salvar o mundo. Será que algum de nós recebeu a tarefa de salvar o mundo quando ainda estava no berço? Quando pensamos, por exemplo, em nossas práticas atuais de locomoção; esse mundo cheio de ruas iluminadas, ruidosas, com tantos congestionamentos de automóveis, somente pode ser substituído por um fantástico sistema oficial de transportes públicos, que causará apenas uma parte das emissões de gases poluentes e nos oferecerá um nível mais alto de conforto – teoricamente.
Confira o restante da entrevista em http://www.geracaobooks.com.br/releases/?entrevista=251