Dia Nacional da Poesia
“Poesia é voar fora da asa.” – Manoel de Barros
A palavra “poesia” tem origem grega e significa “criação”. É definida como a arte de escrever em versos, com o poder de modificar a realidade, segundo a percepção do artista.
O Dia Nacional da Poesia é comemorado em homenagem ao poeta Castro Alves, um dos maiores nomes da poesia brasileira. Nascido em 14 de março de 1847, o poeta faleceu precocemente aos vinte e quatro anos, em 1871.
Não deixe de conhecer os poetas contemporâneos que a Geração publicou recentemente.
Para celebrar esse dia, selecionamos algumas poesias dos nossos autores:
Origami
por Flora Figueiredo
Dobra que dobra,
redobra.
Põe de pé,
puxa as pontas.
Não fica perfeito,
mas faz de conta;
um pouco torto,
mas ninguém vê.
Não faz mal:
é só um pedaço morto
de folha de jornal.
Ficou de lado,
meio largado
na gaveta.
Ao voltar,
as letras de papel terão voado.
Palavra mal guardada
acaba se tornando borboleta.
# extraído do livro “Chão de vento”
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Amor de raiz
Por Jorge Ferreira
Antes que meu grito chegasse a ti
Ontem à noite no espelho
Ficaste cara a cara comigo
Quando juntos sussurramos.
De algum jeito eras a pré‑história
De um amor clandestino
Uma força motriz
Que me leva para dentro de ti.
Ao arquivar‑me no pensamento
Refazendo o meu ser
Já não sei se sou em ti
Ou se tu terminas em mim.
O medo não é amar
É de amar de novo,
De voltar
E não regressarmos de nós.
Tudo, tudo, tudo roda
É uma vertigem
Falta‑
me o suficiente
Ferrugem, lâmina que corrói.
Tu vieste a semear esse fogo
Fumaças espessas de lembranças
Há em nós um sabor
De um tempo suspenso.
Agora a dor começa a balançar no
esquecimento
Minhas boas‑vindas, meu bem!
Sei que sentiste também saudade
Chega mais, o futuro se aproxima.
# extraído do livro “Rio Adentro”
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No fundo da retina
Por José Carlos Vieira
sei do teu desejo mais sujo
do teu orgasmo mais cru
sei da tua pele salgada
das tuas unhas venenosas
eu sei
sou teu anjo, tua vaga mentira
teu poeta, tua melhor rima
teu cheiro de carne perfumada
teu melhor prazer
sou eu
aquele a quem sempre mentirás
cuspirás, jogarás pedras
negarás tua própria verdade
eu sei
sou eu
teu melhor defeito…
# extraído do livro “Poemas de paixões e coisas parecidas”
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Ressurreição
Por Pedro Tierra
Você veio, deitou raízes, fugiu.
Raízes fundas num peito votado
ao silêncio ressentido das pedras.
Redescobri, em teu corpo, minhas mãos
que nestes anos só souberam de algemas.
Há quanto tempo estas mãos perderam
o gesto de carinho,
o jeito de tomar teu rosto,
mergulhar os dedos nos teus cabelos…
Há quanto tempo o gosto de sal,
o grito atravessado na garganta,
a palavra seca feito punhal
ferindo o lábio…
Você veio como quem chega
da última invenção do mar.
Lavrou meu peito
com o sangue dos vulcões,
tocou-me o rosto
como os dedos do orvalho
banham o penhasco dos caminhos.
Você veio da pátria do silêncio
como o último pássaro
emudecido pelo espanto.
Você me olhou, mulher…
Como se estivesse dentro de mim
e guardasse todas as respostas,
(E foi como se um vento torturado
até a solidão ou a loucura
me devolvesse a alma da tempestade!)
Você sabia de mim mil anos antes
e trazia no corpo a semente
de novas bandeiras.
# extraído do livro “A palavra contra o muro”